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CELSO PINTO
O que preocupa no Brasil
O Brasil tomou algumas medidas importantes, melhorou
sua situação, mas continua gerando alguma preocupação no
mercado. O nível recorde de reservas, em si, não é garantia
contra turbulências.
A avaliação é do professor
Morris Goldstein, do Instituto
de Economia Internacional de
Washington, um dos mais respeitados "think tanks" do mundo. Especialista em crises bancárias e cambiais, Goldstein,
que trabalhou mais de vinte
anos no FMI, desenvolveu um
complexo modelo de indicadores para este tipo de crises, que
inclui mais de 100 variáveis.
Ele prefere não comentar que
grau de risco de crise seu modelo aponta hoje para o Brasil.
Comenta, de forma genérica,
que o Brasil "não está numa
situação que o coloca fora de
preocupação, mas também não
está numa situação ruim".
As reservas, hoje perto de US$
70 bilhões, ajudam, mas não
eliminam todos os riscos. "Eu
não estaria confiante demais
com as reservas altas como
uma proteção", diz.
Obviamente, é melhor ter reservas altas do que baixas, mas
elas podem sumir rapidamente. Ter muitas reservas também
não é garantia absoluta contra
ataques especulativos, como
mostrou o exemplo de Hong
Kong.
Ele argumenta que não faz
sentido medir a segurança dada pelas reservas pelo número
de meses de importações que
elas podem garantir. Importações são fluxos que mudam devagar. Relevante é saber qual o
nível de reservas em relação
aos passivos financeiros contingentes, que podem ser convertidos em dólares se os investidores ficarem nervosos.
Uma forma de medir esses
passivos é olhar o chamado
M2, a moeda disponível nos
bancos mais títulos do governo.
Pode-se, contudo, refinar a medida, olhando o que o governo
tem investido nos mercados futuros de dólar e outros passivos. Olhando o tamanho das
reservas em relação à dívida
interna do governo, que tem
crescido rapidamente, o Brasil
não está numa situação confortável em relação a outros
países.
Outro ponto importante de
preocupação em relação ao
Brasil é o seu ritmo lento de
crescimento recente, algo que
está relacionado com a política
cambial. Quando um país cresce três ou quatro anos abaixo
de seu potencial, diz Goldstein,
não há dúvida de que não está
num padrão de crescimento
sustentável a longo prazo. Sua
taxa de câmbio não é de equilíbrio, ou seja, não é uma taxa
que permita o equilíbrio das
contas internas e um déficit externo financiável de forma sustentável, por capitais de boa
qualidade.
Se um país está crescendo
abaixo de seu potencial, existe
um custo político embutido
que será considerado pelo mercado e que pode gerar instabilidades. Hoje, o apoio político ao
governo é alto, diz ele, mas se
esse apoio diminuir, o país ficará mais vulnerável.
Goldstein não tem dúvidas de
que "o câmbio é um item chave, um dos mais poderosos indicadores" de potenciais crises.
O Brasil teve uma forte apreciação cambial no início do
Plano Real, mas melhorou sua
situação nos últimos anos. O
crescimento abaixo do potencial indica, contudo, que o
câmbio ainda não está num nível de equilíbrio.
Corrigir o câmbio, contudo,
também não é simples. Se isso
não ocorre em meio a uma crise, diz, se torna um problema
político, porque é baixo o apoio
para mudar quando a mudança é possível. Não se deve deixar o câmbio sair muito da linha porque, neste caso, não
existe uma fórmula simples de
mudanças. De uma forma ou
de outra, contudo, a situação
acaba sendo corrigida.
Os indicadores mais importantes de situações de crise, pelo modelo de Gosdstein, são:
sobrevalorização cambial, recessão, grande aumento dos juros, desaceleração das exportações, baixa relação M2/reservas, queda nas Bolsas, déficit
em conta corrente alto e muitos
capitais externos de curto prazo em relação ao PIB.
Em todos esses casos, o que
preocupa é uma mudança forte
de rota em relação à tendência
histórica de um país. O Brasil
está confortável em relação a
alguns itens e pouco confortável em outros. "Juros altos e
baixo crescimento são fraquezas", lembra Goldstein.
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