São Paulo, Quarta-feira, 21 de Abril de 1999
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INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Para historiador, ladrão teria assumido identidade em troca de dinheiro
Morte de Tiradentes tem contestação

do enviado especial ao Rio

Há 30 anos o historiador carioca Marcos Correa vem tentando comprovar sua suspeita de que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792.
A desconfiança lhe surgiu em Lisboa, em 1969, quando Correa viu fotocópias de listas de presença na galeria da Assembléia Nacional francesa em 1793. Lá, estava a assinatura de José Bonifácio de Andrada e Silva, que era o objeto de suas pesquisas naquela época.
Próximo à dele, também aparecia a de um Antonio Xavier da Silva. Funcionário do Banco do Brasil, Correa se formara em grafotecnia e, por acaso, havia estudado muito a assinatura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Com o auxílio do amigo português professor Rodrigues Lapa, Correa confrontou as assinaturas de Antonio e Joaquim José: "a semelhança era impressionante".
A partir dali, começou a sua "busca da verdade" sobre Tiradentes, que ele espera ver publicado em livro no ano que vem.

Sem sentido
Uma renomada especialista em Inconfidência Mineira, Laura de Mello e Sousa, acha que a hipótese de Correa "não faz sentido nenhum" e é "pouco provável".
Embora admita só ter "evidências circunstanciais", no entanto, Correa, 70, baseia-se em autores do passado e em descrições de eventos de contemporâneos da Inconfidência para tecer seu enredo.
Segundo ele, um ladrão, o carpinteiro Isidro de Gouveia, condenado à morte em 1790, assumiu a identidade de Tiradentes em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida a ele pela maçonaria.
Correa, ex-professor da Universidade Santa Úrsula, no Rio, cita testemunhas da caminhada de Tiradentes ao cadafalso que se diziam surpresas porque ele aparentava ter menos que seus 45 anos.
Citando um livro de Martim Francisco Terceiro ("Contribuindo", de 1921) e outro de Hipólito da Costa ("Narrativa da Perseguição", de 1811), entre outros, Correa vai desfiando suas hipóteses.
Tiradentes teria sido beneficiado por um dos juízes da Devassa, o poeta Cruz e Silva, que tinha sido amigo de muitos dos inconfidentes (Laura Mello e Souza diz que Cruz e Silva, na verdade, foi designado para endurecer o tratamento penal dado a seus ex-amigos).
De acordo com Correa, Tiradentes havia salvado a vida de Cruz e Silva, que também era maçom.

Amante
O juiz nunca mais voltou a Portugal, mas, segundo Correa, Tiradentes, sua amante (conhecida como Perpétua Mineira) e os filhos de Isidro de Gouveia embarcaram incógnitos na nau Golfinho, em agosto de 1792, para Lisboa.
Correa fala de carta do desembargador Simão Sardinha, na Torre do Tombo, em Lisboa, na qual diz ter-se encontrado, na Rua do Ouro, em dezembro de 1792, com alguém parecido com Tiradentes, a quem conhecera no Brasil, que saiu correndo quando o viu.
Pela teoria, Tiradentes voltou ao Brasil em 1806, abriu uma botica na casa da Perpétua Mineira, na rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves Dias), e morreu em 1818. (CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA)


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