|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Para historiador, ladrão teria assumido identidade em troca de dinheiro
Morte de Tiradentes tem contestação
do enviado especial ao Rio
Há 30 anos o historiador carioca
Marcos Correa vem tentando
comprovar sua suspeita de que Tiradentes não morreu enforcado
em 21 de abril de 1792.
A desconfiança lhe surgiu em
Lisboa, em 1969, quando Correa
viu fotocópias de listas de presença
na galeria da Assembléia Nacional
francesa em 1793. Lá, estava a assinatura de José Bonifácio de Andrada e Silva, que era o objeto de suas
pesquisas naquela época.
Próximo à dele, também aparecia a de um Antonio Xavier da Silva. Funcionário do Banco do Brasil, Correa se formara em grafotecnia e, por acaso, havia estudado
muito a assinatura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Com o auxílio do amigo português professor Rodrigues Lapa,
Correa confrontou as assinaturas
de Antonio e Joaquim José: "a semelhança era impressionante".
A partir dali, começou a sua
"busca da verdade" sobre Tiradentes, que ele espera ver publicado
em livro no ano que vem.
Sem sentido
Uma renomada especialista em
Inconfidência Mineira, Laura de
Mello e Sousa, acha que a hipótese
de Correa "não faz sentido nenhum" e é "pouco provável".
Embora admita só ter "evidências circunstanciais", no entanto,
Correa, 70, baseia-se em autores
do passado e em descrições de
eventos de contemporâneos da Inconfidência para tecer seu enredo.
Segundo ele, um ladrão, o carpinteiro Isidro de Gouveia, condenado à morte em 1790, assumiu a
identidade de Tiradentes em troca
de ajuda financeira à sua família,
oferecida a ele pela maçonaria.
Correa, ex-professor da Universidade Santa Úrsula, no Rio, cita
testemunhas da caminhada de Tiradentes ao cadafalso que se diziam surpresas porque ele aparentava ter menos que seus 45 anos.
Citando um livro de Martim
Francisco Terceiro ("Contribuindo", de 1921) e outro de Hipólito
da Costa ("Narrativa da Perseguição", de 1811), entre outros, Correa
vai desfiando suas hipóteses.
Tiradentes teria sido beneficiado
por um dos juízes da Devassa, o
poeta Cruz e Silva, que tinha sido
amigo de muitos dos inconfidentes (Laura Mello e Souza diz que
Cruz e Silva, na verdade, foi designado para endurecer o tratamento
penal dado a seus ex-amigos).
De acordo com Correa, Tiradentes havia salvado a vida de Cruz e
Silva, que também era maçom.
Amante
O juiz nunca mais voltou a Portugal, mas, segundo Correa, Tiradentes, sua amante (conhecida como Perpétua Mineira) e os filhos
de Isidro de Gouveia embarcaram
incógnitos na nau Golfinho, em
agosto de 1792, para Lisboa.
Correa fala de carta do desembargador Simão Sardinha, na Torre do Tombo, em Lisboa, na qual
diz ter-se encontrado, na Rua do
Ouro, em dezembro de 1792, com
alguém parecido com Tiradentes,
a quem conhecera no Brasil, que
saiu correndo quando o viu.
Pela teoria, Tiradentes voltou ao
Brasil em 1806, abriu uma botica
na casa da Perpétua Mineira, na
rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves
Dias), e morreu em 1818.
(CARLOS
EDUARDO LINS DA SILVA)
Texto Anterior: PF investiga participação de militares Próximo Texto: Greca minimiza papel do Itamaraty Índice
|