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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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Lindberg diz que deixa PT com Helena

Sergio Lima - 31.mar.03/Folha Imagem
O deputado federal Lindberg Farias (RJ), da ala esquerda do PT


PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Excluído do processo disciplinar que o PT move contra parlamentares da esquerda do partido, o deputado Lindberg Farias (RJ) se diz "desconfortável" por ter sido preservado pela legenda e afirma que, caso a senadora Heloísa Helena (AL) seja expulsa, também pretende deixar a sigla.
"Não aceito. Participei do fato gerador da crise, que foi a reunião com o PDT. Não posso deixar Heloísa Helena só neste momento em hipótese nenhuma", declarou.
Na final de abril, o deputado e a senadora estiveram reunidos com o presidente do PDT, Leonel Brizola, para formar uma oposição organizada contra a proposta de reforma da Previdência defendida pelo governo federal.
Defensor de uma saída negociada para o episódio que pode levar à expulsão dos radicais, Lindberg, que já foi filiado ao PC do B e ao PSTU, pode anunciar sua decisão em reunião marcada para a tarde de hoje no gabinete da senadora.
Além de Heloísa Helena, também estão sendo submetidos ao processo disciplinar os deputados federais João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PA), e Luciana Genro (RS). A primeira audiência sobre o caso está marcada para este domingo, em São Paulo.
Na avaliação de Lindberg, ao poupá-lo o PT pretendia "dividir" e "fragilizar" os parlamentares de esquerda que têm criticado publicamente o governo.
"Sabia, desde pouco antes da reunião, que eu não estava nesse negócio. [José] Genoino [presidente do PT] disse que não faço oposição sistemática ao governo", afirmou. "Mas acho que, por estar no encontro com Brizola, é meio inexplicável não estar nesse negócio [na comissão] também."
Lindberg -que por suas críticas ao governo perdeu sua vaga na Comissão Especial da Reforma da Previdência, mas foi apenas suspenso por um mês da vice-liderança da sigla na Câmara- nega ter fechado um acordo com a direção da legenda.
Na semana passada, logo após a reunião que decidiu pela instauração do processo disciplinar contra os três parlamentares, Genoino afirmou que Lindberg havia se comprometido desde já a acatar a posição majoritária do partido após discussões internas.
"Não era correto criar uma saia justa e colocar a escolha [do voto] naquele momento [na reunião]. Ninguém sabe ainda o que será votado em outubro na reforma. Queriam que os parlamentares se comprometessem a fechar com a posição da bancada fosse ela qual fosse", completou. "Mas eu não garanti que ia votar a favor, não."
O deputado admite, entretanto, ser favorável ao fechamento de questão após a tramitação da reforma, quando ele espera que tenham sido feitas alterações no texto original. Nesse caso, os parlamentares seriam punidos por desobediência apenas depois de o voto contrário à proposta ter sido consumado. "E aí vai depender do que vai ser o projeto."
Ainda assim, a absolvição de Lindberg provocou constrangimentos. Embora evitassem falar sobre o assunto, deputados da esquerda demonstraram desconfiança em relação ao perdão concedido a ele. Alguns atribuíram o suposto recuo do colega ao fato de o PT ser seu terceiro partido.

Símbolo
Contrário à convocação da Comissão de Ética, Lindberg argumenta que uma saída negociada seria a melhor solução para todo o PT. "A Heloísa Helena não quer sair do PT. E a saída dela seria o fortalecimento de um símbolo à direita no partido e no governo."
Ele argumenta ainda que não há embasamento legal para que o caso dos parlamentares seja levado hoje à Comissão de Ética.
"Para a pessoa ser punida, tem de haver uma uma lei anterior que diga que não pode fazer isso. Não tem como ir para a frente uma Comissão de Ética com a fragilidade jurídica desta."
Afirmando estar em contato direto com Heloísa Helena, ele diz que uma possível saída negociada para o caso incluiria Luciana Genro e Babá. Declara, entretanto, que os dois deputados têm adotado um discurso "legítimo", mas de "tom mais oposicionista" do que o seu e o da senadora.
"Já tive minhas aventuras, já fui do PSTU e não sinto que essa seja a alternativa. A alternativa, para mim, é continuar lutando dentro do PT", diz ele. "Mas o projeto, do jeito que está, não voto."


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