São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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CRISE NA BASE

Após a derrota da emenda, presidente avalia que volta do ministro ao Legislativo lhe daria tranqüilidade

Lula já cogita Dirceu na direção da Câmara

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já pensa em articular a ida do ministro José Dirceu (Casa Civil) para a presidência da Câmara dos Deputados a partir de fevereiro de 2005. Ao mesmo tempo, faria nova reforma ministerial, levando em conta os resultados das eleições municipais, para tocar a segunda metade de seu mandato.
Com aval de Lula, a idéia de Dirceu presidir a Câmara é estimulada e debatida por membros da cúpula do governo e do PT em conversas reservadas. O presidente avalia que essa solução seria hoje a melhor para combater graves problemas que prevê como conseqüência da derrota de anteontem dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na tentativa de aprovar uma emenda constitucional que permitiria a reeleição de ambos.
Ciente das feridas da disputa e temendo sofrer retaliações no plenário de votações do Legislativo, Lula chamou líderes aliados na Câmara para pedir que dobrem esforços para aprovar a pauta do governo -manter o salário mínimo de R$ 260 é a sua preocupação mais imediata.
Apesar de João Paulo ter feito duras críticas a Lula, responsabilizando-o diretamente pela derrota por não ter interferido a seu favor, o presidente da Câmara receberia um ministério como compensação. A pasta não está definida. Especula-se a da Saúde. Dificilmente seria a da Casa Civil. Nomes aventados para o lugar de Dirceu: Antonio Palocci (Fazenda) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça).

Os passos de Sarney
Lula teme que a derrota de anteontem lhe traga mais problemas com Sarney. Emissários do presidente já entraram em campo. Uma saída seria dar um cargo importante, como o Ibama, ao deputado Sarney Filho (PV-MA).
Mas Lula poderá pegar em armas se Sarney se aliar à oposição para tentar eleger o tucano Tasso Jereissati (CE) como sucessor. Nessa hipótese, o governo jogará abertamente a favor do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o grande vencedor da disputa de anteontem.
Lula avalia que um acordo com Dirceu lhe daria tranqüilidade na segunda metade do mandato. É por isso, tem dito em conversas reservadas, que a opção Câmara não pode ser imposta ou parecer manobra para tirá-lo do governo por ter sido atingido pelo caso Waldomiro Diniz. Um interlocutor do presidente disse à Folha que Dirceu não poderia ocupar o terceiro posto na hierarquia de poder do país e mesmo assim ficar chateado. Contrariado com o governo, poderia fazer oposição aberta à política econômica, algo que já faz com limites nos bastidores por ser subordinado a Lula.
A idéia de presidir a Câmara não desagrada a Dirceu, segundo disseram à Folha amigos e aliados do ministro no governo e na cúpula do PT. Seria uma grande chance para tocar o que gosta: articulação política.


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