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CRISE NA BASE
Após a derrota da emenda, presidente avalia que volta do ministro ao Legislativo lhe daria tranqüilidade
Lula já cogita Dirceu na direção da Câmara
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva já pensa em articular a ida do
ministro José Dirceu (Casa Civil)
para a presidência da Câmara dos
Deputados a partir de fevereiro de
2005. Ao mesmo tempo, faria nova reforma ministerial, levando
em conta os resultados das eleições municipais, para tocar a segunda metade de seu mandato.
Com aval de Lula, a idéia de Dirceu presidir a Câmara é estimulada e debatida por membros da cúpula do governo e do PT em conversas reservadas. O presidente
avalia que essa solução seria hoje
a melhor para combater graves
problemas que prevê como conseqüência da derrota de anteontem dos presidentes da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), e do
Senado, José Sarney (PMDB-AP),
na tentativa de aprovar uma
emenda constitucional que permitiria a reeleição de ambos.
Ciente das feridas da disputa e
temendo sofrer retaliações no plenário de votações do Legislativo,
Lula chamou líderes aliados na
Câmara para pedir que dobrem
esforços para aprovar a pauta do
governo -manter o salário mínimo de R$ 260 é a sua preocupação
mais imediata.
Apesar de João Paulo ter feito
duras críticas a Lula, responsabilizando-o diretamente pela derrota
por não ter interferido a seu favor,
o presidente da Câmara receberia
um ministério como compensação. A pasta não está definida. Especula-se a da Saúde. Dificilmente seria a da Casa Civil. Nomes
aventados para o lugar de Dirceu:
Antonio Palocci (Fazenda) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
Os passos de Sarney
Lula teme que a derrota de anteontem lhe traga mais problemas
com Sarney. Emissários do presidente já entraram em campo.
Uma saída seria dar um cargo importante, como o Ibama, ao deputado Sarney Filho (PV-MA).
Mas Lula poderá pegar em armas se Sarney se aliar à oposição
para tentar eleger o tucano Tasso
Jereissati (CE) como sucessor.
Nessa hipótese, o governo jogará
abertamente a favor do líder do
PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o grande vencedor da
disputa de anteontem.
Lula avalia que um acordo com
Dirceu lhe daria tranqüilidade na
segunda metade do mandato. É
por isso, tem dito em conversas
reservadas, que a opção Câmara
não pode ser imposta ou parecer
manobra para tirá-lo do governo
por ter sido atingido pelo caso
Waldomiro Diniz. Um interlocutor do presidente disse à Folha
que Dirceu não poderia ocupar o
terceiro posto na hierarquia de
poder do país e mesmo assim ficar chateado. Contrariado com o
governo, poderia fazer oposição
aberta à política econômica, algo
que já faz com limites nos bastidores por ser subordinado a Lula.
A idéia de presidir a Câmara
não desagrada a Dirceu, segundo
disseram à Folha amigos e aliados
do ministro no governo e na cúpula do PT. Seria uma grande
chance para tocar o que gosta: articulação política.
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