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CRISE NA BASE
Renan comemorou com churrasco a rejeição da emenda da reeleição; para o líder, a vitória foi em "campo adversário"
Sarney se diz aliviado; ACM vê métodos sujos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), rejeitou ontem o papel de derrotado na votação ocorrida na véspera, no plenário da Câmara dos Deputados,
na qual foi barrada a proposta de
emenda constitucional que permitiria a sua reeleição em fevereiro de 2005. Disse estar "aliviado"
e negou ter participado das articulações, por considerar a tramitação um "problema da Câmara".
Enquanto Sarney tentava mostrar aparente indiferença, seu
maior aliado, o senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), manifestou fúria contra o PMDB e o
governo, em discurso da tribuna.
O baiano acusou o governo de
aplicar "métodos sujos" em troca
de votos, "leiloando cargos" e distribuindo "vantagens".
Por outro lado, o líder da bancada do PMDB no Senado, Renan
Calheiros, considerado o grande
vitorioso da noite, comemorou
com churrasco, pagode e uísque
na casa do senador Walmir Amaral (PMDB-DF), visto no Congresso como um dos aliados de
Sarney.
"Ganhamos no campo do adversário [a Câmara, presidida por
João Paulo Cunha (PT-SP)], tendo Inocêncio Oliveira (PFL-PE)
como juiz e eles agora ainda querem recorrer ao tapetão", comemorou, referindo-se à hipótese de
o da emenda da reeleição das Mesas voltar à votação.
Renan, 48, se projetou na política nacional como líder do governo Fernando Collor (1990-1992) e
ministro da Justiça de Fernando
Henrique Cardoso (1997-1998).
Em Alagoas, foi um dos artífices
da campanha de José Serra
(PSDB), em 2002.
"Especulações"
Sarney classificou de "especulações" rumores de que deixaria o
PMDB, já que a maioria do partido ficou contra a reeleição e
apoiou Renan, que quer sucedê-lo. "Jamais vou sair do PMDB. Fui
presidente da República pelo
PMDB e hoje não tenho motivos
para sair do partido", afirmou.
O presidente do Senado também não admitiu a existência de
articulação sua com ACM para
lançar a candidatura de Tasso Jereissati (PSDB-CE) com o objetivo de derrotar Renan.
Sarney disse que seu sucessor
tem de ser do PMDB -partido
com maior número de senadores-, pois, pelas regras em vigor,
a indicação cabe à maior bancada.
Alegando ser muito cedo para
antecipar a sucessão, Sarney não
respondeu se considera a eleição
de Renan fato consumado. Bem-humorado, defendeu João Paulo
das acusações de ter se precipitado ao colocar a emenda em votação antes de haver quórum seguro (460 deputados).
ACM se reuniu com Sarney de
manhã e, depois, foi ao gabinete
de João Paulo. À tarde, subiu à tribuna. "O presidente Lula não pode fazer leilão do seu governo,
com forças políticas que só querem apoiá-lo para levar vantagens", disse.
A votação
A análise do mapa de votações
da emenda mostra que o PMDB
foi o principal fator da derrota. Só
15 dos 78 deputados da legenda
votaram pela reeleição, que foi
derrubada por 303 votos a favor
(cinco a menos do que o necessário), 127 contra e 9 abstenções.
Peemedebistas ouvidos pela Folha disseram que o resultado foi
construído não só pelo poder de
Renan, mas pela atuação do secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho (do partido).
Entre as bancadas governistas
com mais de 40 deputados, a do
PT foi a que mais colaborou com
a aprovação da emenda: 77 dos 90
deputados votaram sim (85,6%).
O PTB deu 39 votos pró-reeleição,
o que representa 75% da bancada.
Índice semelhante atingiu o PP
(75,9%). O PL ficou em 67,4%.
Os governistas com bancadas
menores não ajudaram. O PC do
B votou majoritariamente contra,
7 dos 9 deputados, o PSB deu apenas 10 dos seus 20 votos pela reeleição e o PPS contribuiu apenas
com 10 dos 22 votos pela aprovação. O pequeno PV deu todos os
seus seis votos pela reeleição.
Na oposição, o PFL votou majoritariamente a favor da emenda,
77,8% de sua bancada. No PSDB,
foram 22 votos contra e 18 a favor.
O PDT deu sete votos contra e só
quatro a favor.
(RAQUEL ULHÔA, RAYMUNDO COSTA e RANIER BRAGON)
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