São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Gravação mostra plano para livrar Cachoeira de CPI

Deputado tentou cobrar R$ 4 milhões de empresário para salvá-lo de indiciamento em relatório sobre fraudes no Rio

José Divino (PRB) apostava na influência do presidente da Assembléia fluminense, que teria mais poder sobre o Estado "do que o Garotinho"

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado federal José Divino (PRB-RJ) discutiu trama para salvar da CPI da Loterj (Loteria Estadual do Rio), em 2004, o empresário de jogos Carlos Cachoeira, mediante pagamento de R$ 4 milhões.
Uma gravação obtida pela Folha revela que Divino, hoje envolvido na máfia dos sanguessugas, apostava na força do presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB), para resolver o assunto de "cima para baixo", excluindo o nome do empresário do relatório final.
"Se Picciani entrar no circuito, ele resolve as duas, porque ele resolve ciclo por ciclo. Ele tem controle da CPI e tem do plenário", diz o deputado.
Segundo Divino, Picciani "tem 45 deputados na mão dele". "O pessoal vota, bate continência mesmo (...)."
Questionado sobre se Picciani paga "mesada" aos deputados estaduais, Divino confirma e explica o poder do parlamentar: "É, porque ele tem o esquema do transporte, tá? Da federação. Ele manda mais no Estado do Rio do que o Garotinho".
Divino foi gravado em setembro de 2004 por Jairo Martins, emissário de Cachoeira, em reunião com o então deputado André Luiz, cassado em 2005.
Conforme análise de Ricardo Molina, perito foneticista e professor da Unicamp, a gravação é autêntica. Os trechos reproduzidos na reportagem foram transcritos pelo especialista a pedido da Folha.
A operação de salvamento não se consumou. Outra gravações feita sob encomenda de Cachoeira foi revelada e precipitou a aprovação do relatório sobre a atuação de Waldomiro Diniz à frente da Loterj. Em 2002, quando presidia o órgão, Waldomiro cobrou propina de Cachoeira para favorecê-lo em licitação -a fita com o episódio derrubou Waldomiro da assessoria parlamentar da Casa Civil, na gestão de José Dirceu.
A CPI pediu o indiciamento do empresário sob acusação de praticar os crimes de corrupção ativa, fraude a licitações e formação de quadrilha.


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