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Contra usina, índios ferem engenheiro
Agressão a funcionário da Eletrobrás ocorreu em encontro no Pará no qual povos do Xingu debatem hidrelétrica de Belo Monte
Paulo Fernando Rezende recebeu um golpe de facão e sofreu um corte profundo no braço, mas passa bem; ninguém foi preso pelo ato
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Um engenheiro da Eletrobrás que participava ontem, em
Altamira (777 km de Belém), de
um encontro para discutir a
construção de barragens na bacia do rio Xingu foi ferido por
um grupo de índios após sua fala em um debate.
Paulo Fernando Rezende,
coordenador do estudo de inventário da bacia do Xingu, sofreu um corte profundo no braço direito, mas passa bem. Ninguém foi preso.
Rezende viajou a convite da
organização ao evento, para
apresentar estudos de aproveitamento hidrelétrico da usina
de Belo Monte, no rio Xingu. O
encontro foi organizado pela
Arquidiocese de Altamira, pelo
ISA (Instituto Socioambiental)
e outras organizações.
Rezende falava a uma platéia
de aproximadamente mil pessoas, no ginásio poliesportivo
da cidade. Desde o início da sua
fala, com argumentos favoráveis à construção da usina, foi
muito vaiado pela platéia.
Os índios permaneciam calados. Não se sabe quantos estavam no local, mas há aproximadamente 600 em Altamira
acompanhando o encontro.
Rezende afirmou que o impacto ambiental da usina seria
menor do que os ambientalistas davam a entender. Depois
que ele terminou de falar, Roquivam Alves da Silva, do MAB
(Movimento dos Atingidos por
Barragens), disse à platéia:
"Nós iremos à guerra para defender o Xingu se for preciso".
Então, índios de diversas etnias, sobretudo caiapós, levantaram-se e começaram a gritar,
cantar, dançar em círculos e se
aproximar lentamente de onde
estavam os palestrantes. Armados de facões e bordunas, eles
cercaram o grupo e não deixaram ninguém sair. A confusão
era acompanhada por policiais
militares, que não intervieram.
Após cerca de dez minutos,
organizadores do evento conseguiram tirar o engenheiro do
cerco, mas ele já estava ferido.
Silva negou incitação ao ataque. "É verdade que aconteceu
logo depois de eu falar, mas não
acho que eu o tenha causado. O
clima já estava muito tenso",
afirmou Silva à agência de notícias Associated Press.
Parte da tensão se devia ao
fato de a Justiça Federal ter
derrubado a liminar que impedia o início dos estudos de viabilidade de Belo Monte. Os
caiapós, designação que abrange várias tribos aparentadas de
língua jê da bacia do Xingu, são
contrários à hidrelétrica.
Em 1989, num encontro semelhante em Altamira para debater a mesma usina (então
chamada de Cararaô), uma índia caiapó mostrou sua indignação com a obra ao encostar o
facão no rosto do presidente da
Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes. Depois do episódio,
o Banco Mundial suspendeu o
financiamento para a usina.
Ontem à noite, o agressor
não havia sido identificado. O
engenheiro registrou boletim
de ocorrência na delegacia.
Em nota, a diretoria-executiva da Eletrobrás manifestou
"indignação" diante do fato e
afirmou que "tomará todas as
providências necessárias para
que os responsáveis pela agressão sejam punidos".
Colaboraram CLAUDIO ANGELO , editor de Ciência, e MATHEUS PICHONELLI , da Agência Folha
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