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Grupo de Renan faz ameaças veladas para intimidar senadores
Abandonado pelo Planalto e por parte dos senadores, o presidente do Senado pretende seguir até o final na cadeira da Presidência da Casa, sem se licenciar
KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Abandonado pelo Palácio do
Planalto e por parte dos senadores aliados e oposicionistas
com os quais ele mantém boa
relação pessoal, o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), jogou duro nos
bastidores ontem. Ameaçou revelar fatos incômodos para colegas e paralisar a articulação
política do governo.
A Folha ouviu de um dos últimos aliados fiéis de Renan
que o senador pretende seguir
até o final na cadeira de presidente da Casa, sem se licenciar
ou renunciar. O alagoano já está, aos poucos, revelando reservadamente fatos desabonadores de colegas do Senado.
Pelo menos dois casos específicos são citados por Renan.
Primeiro, o de um senador que
teria viajado com a namorada
para os Estados Unidos com as
diárias do casal pagas pelo
Congresso. Outro líder partidário teria uma dívida de R$ 50
milhões com um banco estatal.
A frase-síntese das ameaças
de Renan é uma metáfora alusiva a personagens da Revolução Francesa (1789): "O Renan
pode falar como o Danton
quando caminhava para o cadafalso: atrás de mim virás tu,
Robespierre". Essa declaração
tem freqüentado o gabinete da
presidência do Senado como linha-mestra da estratégia renanzista para tentar se salvar.
Esse clima de terror e ameaça explica em parte porque tantos senadores se sentem constrangidos em condenar o alagoano em público.
George Jacques Danton foi
personagem da Revolução
Francesa. Defendeu posições
moderadas depois da vitória.
Acabou decapitado na guilhotina, em 1793. Foi substituído
em suas funções por Maximilien de Robespierre, considerado incorruptível, mas um grande incentivador do terror que
se seguiu ao período pós-revolucionário.
Antes de morrer, consta que
Danton teria dito: "Minha única tristeza é que vou antes de
Robespierre". No ano seguinte,
em 1794, Robespierre também
acabou guilhotinado.
No Senado, acuado e abandonado, Renan dividiu sua estratégia de sobrevivência política em duas faces. A pública é
demonstrar cordialidade. Vai
se prestar a depor no Conselho
de Ética. A reservada é espalhar tacitamente o terror para
outros senadores que no passado lhe pediram favores.
O presidente do Senado pediu apoio do governo anteontem e ontem. Por meio do líder
do governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR), tentou costurar uma acordo com o PT para que votar ainda ontem uma
absolvição-relâmpago no Conselho de Ética do Senado.
Auxiliares de Lula disseram
que o presidente não se envolveria na questão. Para Renan e
seus aliados, o presidente segue o roteiro tradicional já adotado em relação a outros aliados. Apoio público num momento inicial e desembarque
quando a situação se complica.
Solidão
Em conversas reservadas,
Renan admitia a aliados que estava praticamente sozinho. Senadores antes simpáticos, como Renato Casagrande (PSB-ES) e Eduardo Suplicy (PT-SP),
engrossaram o coro a favor de
mais tempo de investigação para que o conselho julgasse se
houve ou não quebra de decoro.
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