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Base governista pressiona e enterra a CPI da Navalha
Quatro deputados retiraram suas assinaturas e decretaram a não-abertura da comissão, depois de um mês de tentativas
Decisão ocorre no momento em que procurador-geral começa a apurar suposto envolvimento de deputados com esquema de fraudes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Terminou ontem, depois de
um mês de tentativas, o sonho
da oposição de criar uma CPI
para investigar as denúncias reveladas pela Operação Navalha,
da Polícia Federal.
A retirada das assinaturas de
quatro deputados -Clodovil
(PTC-SP), Ribamar Alves
(PSB-MA), Edigar Mão Branca
(PV-BA) e Vinicius Carvalho
(PT do B-RJ) -por pressão da
base do governo, levou os idealizadores da comissão a jogarem a toalha.
Foi a primeira vez que os líderes que sustentam Luiz Inácio Lula da Silva conseguiram
abafar uma CPI, o que demonstra o poder que o Executivo tem
hoje sobre o Legislativo.
No passado, o governo fracassou em operações-abafa para as CPIs do Banestado, Correios, Bingos e Apagão Aéreo.
A CPI acaba no momento em
que a investigação da Operação
Navalha chega ao Congresso
Nacional.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, abriu investigações internas para apurar as suspeitas
de envolvimento dos deputados Maurício Quintella (PR-AL) e Olavo Calheiros (PMDB-AL) no esquema de fraudes em
obras públicas.
O próprio presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), encaminhou à Corregedoria da Casa representação contra Quintella e Olavo.
A PF também enviou ao procurador o nome do deputado
Paulo Magalhães (DEM-BA).
Ele teria recebido pagamentos
do empresário Zuleido Veras,
apontado como chefe do esquema de fraude a licitações.
"Essa é uma operação perdida. A CPI da Navalha foi navalhada", declarou Chico Alencar
(PSOL-RJ). "Não vou me prestar mais a esse papel. Tem deputado que assina a CPI e depois fica chantageando o governo para obter benefícios", disse
Júlio Delgado (PSB-MG).
Os defensores da CPI até
conseguiram reunir o número
necessário de assinaturas para
criar a CPI, de 171 deputados federais e 29 senadores. Mas bastava o número ser atingido para
a engrenagem do governo funcionar. Agora, foram quatro assinaturas retiradas.
"Com o avanço das investigações pela Polícia Federal, a CPI
perdeu o sentido", disse Alves.
Ele confirma que recebeu um
pedido do líder do governo na
Câmara, José Múcio (PTB-PE),
pela retirada, mas afirma que
isso não o influenciou.
Mão Branca e Carvalho foram procurados pela Folha,
mas não telefonaram de volta.
A assessoria de Clodovil afirmou que ele está de licença médica, apesar de ter retirado seu
nome da lista.
(FÁBIO ZANINI)
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