São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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Base governista pressiona e enterra a CPI da Navalha

Quatro deputados retiraram suas assinaturas e decretaram a não-abertura da comissão, depois de um mês de tentativas

Decisão ocorre no momento em que procurador-geral começa a apurar suposto envolvimento de deputados com esquema de fraudes

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Terminou ontem, depois de um mês de tentativas, o sonho da oposição de criar uma CPI para investigar as denúncias reveladas pela Operação Navalha, da Polícia Federal.
A retirada das assinaturas de quatro deputados -Clodovil (PTC-SP), Ribamar Alves (PSB-MA), Edigar Mão Branca (PV-BA) e Vinicius Carvalho (PT do B-RJ) -por pressão da base do governo, levou os idealizadores da comissão a jogarem a toalha.
Foi a primeira vez que os líderes que sustentam Luiz Inácio Lula da Silva conseguiram abafar uma CPI, o que demonstra o poder que o Executivo tem hoje sobre o Legislativo.
No passado, o governo fracassou em operações-abafa para as CPIs do Banestado, Correios, Bingos e Apagão Aéreo.
A CPI acaba no momento em que a investigação da Operação Navalha chega ao Congresso Nacional.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, abriu investigações internas para apurar as suspeitas de envolvimento dos deputados Maurício Quintella (PR-AL) e Olavo Calheiros (PMDB-AL) no esquema de fraudes em obras públicas.
O próprio presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), encaminhou à Corregedoria da Casa representação contra Quintella e Olavo.
A PF também enviou ao procurador o nome do deputado Paulo Magalhães (DEM-BA). Ele teria recebido pagamentos do empresário Zuleido Veras, apontado como chefe do esquema de fraude a licitações.
"Essa é uma operação perdida. A CPI da Navalha foi navalhada", declarou Chico Alencar (PSOL-RJ). "Não vou me prestar mais a esse papel. Tem deputado que assina a CPI e depois fica chantageando o governo para obter benefícios", disse Júlio Delgado (PSB-MG).
Os defensores da CPI até conseguiram reunir o número necessário de assinaturas para criar a CPI, de 171 deputados federais e 29 senadores. Mas bastava o número ser atingido para a engrenagem do governo funcionar. Agora, foram quatro assinaturas retiradas.
"Com o avanço das investigações pela Polícia Federal, a CPI perdeu o sentido", disse Alves. Ele confirma que recebeu um pedido do líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), pela retirada, mas afirma que isso não o influenciou.
Mão Branca e Carvalho foram procurados pela Folha, mas não telefonaram de volta. A assessoria de Clodovil afirmou que ele está de licença médica, apesar de ter retirado seu nome da lista.
(FÁBIO ZANINI)

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