São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

ENTREVISTA
GERALDO ALCKMIN


Não há racha, só lasca; minha vitória favorece nome de Serra para 2010

À véspera da convenção que definirá se ele será candidato a prefeito de São Paulo, Alckmin diz que não vê uma cisão entre os líderes tucanos

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

À VÉSPERA da convenção tucana que definirá seu futuro político, o pré-candidato Geraldo Alckmin, 55, fez um apelo ao grupo ligado ao governador José Serra, favorável a uma aliança com o prefeito Gilberto Kassab (DEM): "A vitória do PSDB em São Paulo fortalece o Serra porque quem vence são os tucanos paulistas".

 

FOLHA - Como o sr. está enfrentando as resistências à sua candidatura dentro de seu próprio partido?
GERALDO ALCKMIN
- Com absoluta serenidade. O que entusiasma é trabalhar pela população. Acho que nós vamos ter uma grande vitória do PSDB na convenção pela candidatura própria. Depois, muda a agenda, que será discutir os problemas de São Paulo.

FOLHA - O sr. sai fortalecido?
ALCKMIN
- Sim, esse embate me fará melhor candidato. Eu não vejo problemas de haver disputa no partido.

FOLHA - O sr. acha que o governador José Serra deixou a desejar em termos partidários neste seu momento difícil?
ALCKMIN
- Vou citar José Ortega y Gasset [filósofo espanhol, 1883-1955]: "Eu sou eu e a minha circunstância". O governador José Serra, na própria Folha, já declarou que irá apoiar o candidato de seu partido, como eu sempre o apoiei, inclusive na última eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2004, meu apoio foi decisivo em favor dele porque a diferença foi pequena.

FOLHA - Uma vitória do sr. seria uma vitória do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em São Paulo?
ALCKMIN
- Quem diz não está querendo me ajudar, né? Este ano é importante por si só. Nós estamos discutindo a cidade, 2010 é outra eleição, desvinculada. Eu vejo o contrário, a vitória do PSDB em São Paulo fortalece o Serra porque quem vence são os tucanos paulistas. Eu sempre apoiei o Serra, em todas as eleições, todas as eleições, e ele contará comigo.

FOLHA - Denúncias de pressão e constrangimento na busca de apoios na convenção [amanhã] mostram que há no PSDB práticas que ele condena em outras siglas?
ALCKMIN
- Isso é lamentável. Grave. Mas tenho confiança na militância no partido. Não vejo um racha no PSDB, vejo uma lasquinha. A tese da candidatura própria é natural. Sempre tivemos candidatos a prefeito da capital de São Paulo. Aliás, o primeiro foi o Serra, em 1988. Quando não tínhamos chance nenhuma, lançamos nomes. Hoje é totalmente diferente.

FOLHA - Não seria mais interessante o sr. esperar para disputar novamente o governo em 2010?
ALCKMIN
- Não, estou amadurecido para ser um bom prefeito com uma visão metropolitana.

FOLHA - Houve erro na condução de sua relação com Serra e com o prefeito Gilberto Kassab?
ALCKMIN
- Eu entendo que no segundo turno vamos estar todos juntos.

FOLHA - Mas e se o segundo turno for entre o sr. e Kassab?
ALCKMIN
- Acho pouco provável, mas, se isso acontecer, será o sinal de que o PT se enfraqueceu demais em São Paulo.

FOLHA - A atual secretária da Educação do Estado, Maria Helena Guimarães de Castro, que esteve inclusive no seu governo, mas em outra pasta, afirmou recentemente que houve um desperdício R$ 2 bilhões desperdiçados na área durante seu mandato [2001-2206]. Isso não mostra uma falta de sintonia entre o sr. e o atual governo?
ALCKMIN
- Eu só posso interpretar que isso está fora de contexto. Isso foi investimento em professor, em educação. O que eu posso fazer? Eu lamento que ela tenha dito isso, até porque ela foi injusta. Eu trabalho pela população, eu deixo para trás essa parte menor da política.

FOLHA - Como o sr. tem se preparado para a campanha e para o desafio, em caso de vitória, de comandar uma cidade como São Paulo?
ALCKMIN
- Fui candidato a prefeito da capital em 2000 e não cheguei ao segundo turno por 7.000 votos. Depois, fui governador, candidato a presidente, venci o presidente Lula em São Paulo, enfim, estou preparado. Tenho visitado outras cidades, fui à Alemanha conhecer Berlim e Hamburgo. Quem coordenará nosso programa de governo é o doutor Dalmo Nogueira, foi secretário do Mario Covas [1930-2001] e meu. Estou trazendo especialistas em todas as áreas. Nossos avós conquistaram o interior. Hoje, o mundo moderno é urbano e metropolitano. Esse é nosso grande desafio e estímulo.

FOLHA - Qual será sua principal bandeira de campanha?
ALCKMIN
- Eu diria que o binômio revolução nos transportes e diminuição de desigualdades. Uma cidade mais justa, com melhor qualidade de vida. É claríssimo que, para melhorar o trânsito, é preciso melhorar o transporte coletivo com um sistema troncal de alta capacidade, sobre trilhos e sobre pneus. Mas eu também colocaria um outro enfoque, que é a questão do planejamento urbano, você compatibilizar moradia e trabalho, estudo, lazer e compras. Reduzir os deslocamentos, ter várias cidades bem organizadas, subcentros.

FOLHA - Sua principal adversária, Marta Suplicy [PT], é muito forte na periferia. O sr. pretende jogar no terreno do inimigo?
ALCKMIN
- Não, vou ao encontro do povo, onde ele está. É para isso que eu quero ser prefeito, eu já fui governador, eu quero ser prefeito, ficar perto das pessoas. Eu me lembro de Alcântara Machado [jornalista paulista, 1901-1935]: "Tenho a paixão da gleba circunscrita".

FOLHA - Um juiz eleitoral multou a Folha por conta da entrevista de Marta Suplicy. O que o sr. pensa?
ALCKMIN
- Em janeiro do ano passado, eu estava estudando nos EUA, e devo ter assistido a um 15 ou 20 debates sobre todos os temas das eleição norte-americanas, que será só em novembro deste ano, depois até da nossa. É dever da imprensa informar, e um direito do eleitor ter acesso a elas. As entrevistas têm interesse jornalístico.

FOLHA - São Paulo vem repetindo ano a ano avaliações muito ruins na área do ensino, uma bandeira do PSDB. Por que o eleitor deve acreditar que o sr. fará diferente?
ALCKMIN
- Há muito a fazer e a avançar, mas, se nós pegarmos os dados do Ideb, vocês vão verificar que o Estado de São Paulo superou as metas na quarta série, na oitava série e no terceiro ano do ensino médio. Nós avançamos. Eu vejo três prioridades na questão educacional relativa ao município. A primeira é garantir o acesso ao ensino fundamental. Temos hoje perto de 150 mil crianças fora da escola. A outra, é melhorar a qualidade da escola. A terceira é com o jovem, melhorar a qualificação. Hoje, sobram vagas, mas falta emprego. Aliás, eu vou criar frentes de trabalho emergenciais na cidade.

FOLHA - Em caso de vitória, o sr. pretende manter na prefeitura os tucanos que já estão lá e apóiam Kassab?
ALCKMIN
- Eu pretendo trabalhar com a melhor equipe, gente do PSDB, de outros partidos. Não tem problema.

FOLHA - Não vão sobrar mágoas?
ALCKMIN
- Imagine. Política eu entendo como a arte de servir. Estou absolutamente zen, e olha que eu não faço acupuntura há quase um mês, por pura falta de tempo.

FOLHA - O sr. acha que o atual governo do Estado está sendo enfático na defesa do seu período e do período de Mario Covas no caso Alstom?
ALCKMIN
- Tudo que eu sei sobre esse caso é pela imprensa. Precisa ser esclarecido. Cabe ao governo federal, que parece ter documentos que nem o governo do Estado tem, cabe a ele esclarecer. Nós somos os maiores interessados.

FOLHA - Mas, na prática, o PSDB barrou a investigação na Assembléia paulista.
ALCKMIN
- O Legislativo é outro Poder, totalmente independente. Segundo, uma coisa é investigação séria, outra, é desgaste político em véspera de eleição. Precisa haver cuidado. As pessoas citadas como suspeitas são sérias, têm história.

FOLHA - O que o sr. acha de um diretor da Alstom [engenheiro José Sidnei Colombo Martini] sair da Alstom para assumir uma empresa do governo que é justamente a maior cliente da multinacional francesa? Não tem cheiro de promiscuidade?
ALCKMIN
- Eu não tenho detalhes disso. Volto a repetir: precisa ser investigado. Ele não foi nomeado para um fim específico, as empresa têm "n" contratos. Aliás, o maior cliente da Alstom no Brasil não é o Estado de São Paulo. O que você tem é a suspeita de que a Alstom teria pago propinas no Brasil, na América Latina, na África. Investiga, esclarece. Não se pode ficar usando isso para atingir determinadas pessoas, em pílulas nos jornais.

FOLHA - O sr. acredita que no governo Covas e no seu não houve irregularidades?
ALCKMIN
- Eu acho que essas coisas precisam ser provadas. Se forem, punição. Transparência. O Covas foi um grande exemplo de honradez e de probidade administrativa.

FOLHA - O sr. sempre busca não confrontar o governador Serra...
ALCKMIN
- Eu não tenho nenhuma razão. Não há conflito nem de projetos políticos, o que seria até legítimo.

FOLHA - E com o Kassab?
ALCKMIN
- Também não. O Kassab não é meu adversário. Ele é competidor, no primeiro turno. No segundo turno vamos estar todos juntos.

FOLHA - Quando forem colocados projetos do sr. e do Kassab, eles serão parecidos?
ALCKMIN
- As coisas positivas vão ter continuidade. Aliás, não só do atual governo. Também dos governos anteriores. É uma corrida de revezamento. O CEU é uma proposta boa, por exemplo. Você leva a quem mais precisa, não só escola, mas uma atividade cultural e esportiva. O grande problema é uma tarefa que é só da prefeitura, ensino de zero a seis anos. Pretendo fazer uma campanha falando com o munícipe.

FOLHA - Se um eleitor perguntar por que votar no sr. e não no Kassab, o que o sr. responderá?
ALCKMIN
- Não me julgo melhor do que ninguém. Agora, adquiri experiência e vivência para fazer um bom trabalho. Tenho absoluta confiança de que posso ser um grande prefeito. Eu enxergo as pessoas, enxergo o sofrimento das pessoas. Vou trabalhar muito para melhorar a vida da população.

FOLHA - Como vê a conclusão do inquérito da Linha 4 responsabilizando o Metrô numa obra que começou no seu governo?
ALCKMIN
- Segurança de obra é uma tarefa diária. Não sou técnico. Eu deixei o governo em março de 2006, quase um ano antes. Agora, eu não tenho informação detalhada para fazer o julgamento em relação a isso. Vejo que precisa ser verificado. Mas o Metrô tem um corpo técnico de altíssimo gabarito.


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