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Preso no caso Petrobras pode ter usado instituto em fraude
Denunciado em operação da PF, Ruy Castanheira foi diretor do Instituto Vital Brazil
ONG investigada por
fraudes à estatal tem mesmo endereço de duas empresas: uma é de Castanheira e a outra da Angraporto
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Denunciado pelo Ministério
Público Federal como um dos
cabeças do suposto esquema de
fraudes na Petrobras, Ruy Castanheira de Souza foi diretor do
Instituto Vital Brazil -estatal
fabricante de medicamentos do
Estado do Rio- enquanto as
fraudes foram cometidas. Documentos obtidos pela Folha
indicam que o esquema pode
ter sido operado da estatal.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal que levou à operação Águas Profundas, Castanheira é o elo entre
dois esquemas paralelos descobertos na investigação. O primeiro, de supostas fraudes em
licitações da Petrobras, que envolve emissão de notas frias
por empresas fantasmas. O outro, de ONGs que receberam
recursos do Estado na gestão
da ex-governadora Rosinha
Matheus Garotinho, PMDB
(2003-2006), que também se
valiam de notas frias.
Documentos obtidos pela
Folha mostram que o IBDT
(Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento),
uma das ONGs investigadas,
funciona no mesmo endereço
de empresa pertencente a Castanheira, a Fox Participações,
citada na operação Águas Profundas. Além disso, o mesmo
endereço é sede de uma outra
empresa implicada nas supostas fraudes contra a Petrobras,
a Vista Linda Participações, dos
mesmos sócios da Angraporto,
que estaria no centro do esquema envolvendo a estatal.
ONGs
A denúncia encaminhada à
Justiça Federal sustenta que as
ONGs Inep (Instituto Nacional
de Pesquisa e Ensino da Administração Pública), Inaap (Instituto Nacional de Aperfeiçoamento da Administração Pública) e IBDT depositaram R$
2,34 milhões na conta da empresa fantasma Intecdat Serviços Técnicos Ltda entre julho e
novembro do ano passado.
A Intecdat, segundo a acusação, fazia parte da teia de empresas fantasmas coordenadas
por Castanheira. Na ocasião
dos depósitos, ele era diretor
administrativo do Vital Brazil,
cargo que ocupou de setembro
de 2004 a janeiro deste ano.
A Fox Participações aparece
na Águas Profundas porque
Castanheira declarou ao no Imposto de Renda ter recebido R$
1,3 milhão de participação nos
lucros da empresa em 2005.
A Vista Linda é citada na denúncia como tendo recebido
R$ 3,5 milhões da Iesa Óleo &
Gás, em pagamento de suposta
intermediação da Angraporto
na licitação da Petrobras para
reforma da Plataforma P-14,
vencida pela Iesa.
Mão-de-obra
O IBDT e o Inaap fornecem
mão-de-obra terceirizada ao
Instituto Vital Brazil desde
2003. Até o final do ano passado, ele era contratado por intermédio de convênio com a
Fesp (Fundação Escola do Serviço Público, da Secretaria de
Administração). O governo
Sérgio Cabral cancelou os convênios no início do ano, mas o
IBDT e o Inaap continuam a
fornecer mão-de-obra ao Instituto Vital Brazil por contratos
de emergência firmados no início de março.
O IBDT recebeu R$ 26,8 milhões do Estado do Rio, de 2003
a 2006, e tem R$ 2,9 milhões de
pagamentos empenhados neste ano, segundo dados do Siafem (Sistema de Administração
Financeira para Estados e Municípios) obtidos pela Folha. O
Inaap recebeu R$ 34,8 milhões
de 2003 a 2006 e tem R$ 5,8
milhões de pagamentos empenhados neste ano.
O Instituto Vital Brazil declarou, por meio de sua assessoria, que foram assinados contratos emergenciais, por cinco
meses, com as duas entidades,
até que o Estado selecione novos fornecedores por pregão
eletrônico.
O IBDT fornece 111 funcionários ao Vital Brazil, e o Inaap,
469 funcionários ao programa
Farmácia Popular, do governo
do Estado.
Acerto
Segundo o Ministério Público Federal, Castanheira teria
fornecido notas fiscais frias às
ONGs desde 2005. A denúncia
cita uma conversa telefônica
entre Ruy Castanheira e Ricardo Secco (também preso na
Operação Águas Profundas) ,
gravada pela Polícia Federal
em 11 de maio de 2005, quando
acertam a emissão de uma nota
fria no valor de R$ 30.875.
O rastreamento de uma das
contas da Intecdat mostrou
que os recursos eram depositados pelas ONGs e imediatamente sacados em dinheiro, na
boca do caixa.
Outro lado
A Folha procurou o IBDT e
Inaap. Na sede do IBDT, uma
funcionária disse os dirigentes
não ficam na sede e que não tinha autorização para dar telefone e nome dos responsáveis.
O Instituto Vital Brazil informou que só a chefe do departamento de RH teria o telefone
do presidente da ONG, mas
que ela estaria de licença.
A reportagem tentou ouvir o
Inaap, mas não consta telefone
em seu endereço, em Rio Bonito, interior do Estado. No escritório de um dos dirigentes da
entidade, Antonio Roncoli, a
informação é de que estaria de
licença.
Na casa de Ruy Castanheira,
os familiares se recusaram a
dar o nome de seu advogado.
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