São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Seminário conta com a presença do senador Suplicy

Petistas criticam plano de Lula para erradicar fome

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Suplicy exibe um vale-refeição que foi entregue a Luiz Inácio Lula da Silva durante debate


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro debate público com a participação dos dois pré-candidatos petistas à Presidência, líderes do partido criticaram o projeto de erradicação da fome preparado por um deles, Luiz Inácio Lula da Silva.
Foi discutido um documento provisório preparado pelo Instituto da Cidadania, entidade a que Lula é ligado, e que será utilizado como subsídio para elaborar o programa de governo do PT.
A crítica mais contundente veio do provável adversário de Lula na disputa interna, o senador Eduardo Suplicy (SP).
Suplicy rejeitou a proposta de Lula de criar "cupons de alimentação", que seriam distribuídos a famílias carentes para serem trocados apenas por alimentos.
O senador prefere a concessão de uma renda básica, em dinheiro, para que os beneficiados possam gastar em qualquer coisa. Para ilustrar sua argumentação, o senador deu o exemplo de uma mulher precisando de uma dentadura, que não poderia ser comprada com os cupons.
"Para ela, a dentadura é a coisa mais importante. Com a dentadura, pode voltar a sorrir, arrumar emprego e até ser amada", disse. Apesar da crítica, o senador disse que ele e Lula estavam "100% de acordo" na maioria das outras medidas para acabar com a fome e elogiou a iniciativa de Lula de chamar um debate.
A instituição dos cupons alimentares também foi criticada pelo secretário de agricultura do governo petista do Rio Grande do Sul, José Hermetto Hoffman: "É medida muito mais adequada o pagamento de uma soma monetária para as famílias carentes. Criar cupons pode dar origem a uma indústria da corrupção".
Outro ponto do programa de Lula alvo de contestação foi a proposta de criar o "Ministério da Fome". "Temo que esse ministério da fome acabe virando algo como é hoje o ministério da reforma agrária", disse Marina Silva (AC).
Já a senadora Heloísa Helena (AL) atacou o que classificou de "paralelismo" nas ações de governo -uma provável consequência da criação do ministério. Ela também considerou tímidos os objetivos do projeto de Lula de beneficiar 5% dos 44 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza no primeiro ano de um governo petista.
"Essa meta é inaceitável. Devemos ter como objetivo atingir logo 30% dos pobres", declarou.
A senadora disse ainda que espera que o debate no partido não se restrinja apenas aos projetos de combate à fome: "Sem uma mudança estrutural no sistema, esses projetos acabam virando meras medidas compensatórias".
Outro que fez críticas foi Manoel dos Santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. "O programa não dá a importância que a agricultura familiar merece. Na Europa, é responsável pela maior parte dos produtos da cesta básica", declarou.
Em reposta, o coordenador do programa de Lula, José Graziano, disse que as críticas eram "bem vindas". Ele admitiu que a proposta de criar um ministério para a fome foi "um erro".
Já Lula declarou que "há mais de 20 soluções para acabar com a fome. Talvez a melhor delas nem tenha surgido hoje. Nosso projeto está longe de ser definitivo", disse.
Ele admitiu a possibilidade de o programa do PT incluir os cupons de alimentação e o projeto de renda mínima. O documento final será lançado em 16 de outubro.
Durante o evento, o bispo de Duque de Caxias (RJ), d. Mauro Morelli, causou surpresa ao revelar que tinha sido convidado por Lula para ser o ministro da fome de seu eventual governo. Depois, disse que o convite foi uma brincadeira. "Mas, como dizia um antigo professor meu, toda brincadeira tem um fundo de verdade."
Suplicy e Lula tiveram ontem um almoço de confraternização. O encontro durou mais de uma hora e ocorreu na sede do Instituto de Cidadania, entidade presidida por Lula. "Foi uma conversa entre amigos", disse o senador.
Na semana passada, Suplicy demonstrou irritação com o comportamento de Lula no episódio da separação do senador com a prefeita Marta Suplicy.
Lula e o senador negaram que o almoço de ontem tenha sido para "fazer as pazes". "Não sei que importância a imprensa está dando para isso. Faz 25 anos que converso com o Suplicy", disse Lula.
Suplicy surpreendeu Lula ao presenteá-lo com um vale-refeição e um vale-transporte, que comprou no centro de São Paulo.
A idéia foi demonstrar que o mesmo tipo de comércio ocorreria com os cupons de alimentação propostos por Lula.



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