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CONGRESSO
Para relator, tratado é violência à soberania nacional
Deputado apresenta parecer que rejeita acordo espacial Brasil-EUA
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado Waldir Pires (PT-BA) apresentou parecer ontem no
Congresso rejeitando o acordo de
salvaguardas tecnológicas entre
Brasil e Estados Unidos para a
participação norte-americana
nos lançamentos de satélites do
CLA (Centro de Lançamento de
Alcântara), no Maranhão.
O parecer de 22 páginas, que será votado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
da Câmara, cria dificuldades diplomáticas para o Brasil. Assinado com os EUA em abril de 2000,
precisa ser ratificado pelo Congresso, que não pode emendá-lo.
Tem que optar entre a aprovação
e a rejeição, pura e simples.
O argumento do relator Pires é
principalmente político: "O acordo é uma violência à soberania
nacional, é profundamente inconveniente aos interesses do povo brasileiro", disse o deputado.
Segundo ele, as cláusulas do
acordo impedem a cooperação
tecnológica entre os dois países,
permitem que os norte-americanos ocupem área nacional sem a
presença de autoridades e técnicos brasileiros e vetam acordos
com outros países sem prévio
consentimento dos EUA.
Outra crítica do deputado é ao
uso de verbas oriundas do aluguel, ou arrendamento, do centro
para as empresas dos EUA.
Pires estima que cheguem a valores entre US$ 20 milhões e US$
30 milhões, sem qualquer compromisso ou cláusula que obriguem o reinvestimento no próprio CLA.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, disse
à Folha que não tinha recebido
uma cópia até as 19h de ontem.
Aguardava a íntegra do parecer,
para estudá-lo e se preparar para
um debate na comissão do Congresso, quinta-feira. O chanceler
Celso Lafer estará presente.
Num almoço com jornalistas,
ontem, antes do anúncio do parecer, Sardenberg e Lafer defenderam o acordo de salvaguardas
principalmente com dois argumentos: não é um acordo militar,
mas sim com empresas privadas
norte-americanas, e é fundamental porque o Brasil não tem recursos suficientes para bancar o projeto integralmente.
Além disso, os dois disseram
que os EUA detêm cerca de 80%
da tecnologia de lançamento de
satélites e que seria praticamente
impossível avançar no projeto de
satélites sem essa tecnologia.
Eles reagiram duramente às
acusações de que o acordo é "entreguista". "Não tratamos o país
como a casa-da-mãe-joana", disse Lafer. "Depois de 39 anos de vida pública, não aceito uma calúnia assim", afirmou Sardenberg.
Em seu parecer, Pires disse que
não entraria no mérito de questões como impacto ambiental e
social na região de Alcântara, mas
sugeriu que o acordo fosse também submetido às comissões da
Câmara que tratam desses assuntos. Sardenberg e Lafer, antecipando-se a isso, anunciaram ontem que o governo está liberando
R$ 2 milhões a título de indenização para posseiros de Alcântara,
cidade histórica maranhense.
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