São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Incertezas diminuíram, dizem investidores

Wall Street elogia os encontros de FHC, mas a preocupação persiste

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Há duas maneiras de verificar o impacto sobre os mercados da reunião entre Fernando Henrique Cardoso e os presidenciáveis sobre os mercados: olhar os números e colher declarações.
A julgar pela maioria das declarações em Wall Street, a reação foi levemente positiva ou neutra. "Foi um avanço, apesar de os candidatos não terem abraçado expressamente o acordo", disse à Folha Tom Trebat, analista-chefe do banco de investimentos Salomon Smith Barney. "As incertezas políticas ficaram reduzidas", afirmou Henry Stipp, da Threadneedle Investments.
No entanto, os números não foram tão animadores. O risco Brasil fechou em alta de 1,2%, para 23 pontos. O C-Bond, principal título da dívida brasileira negociado no exterior, caiu 0,3%, para 56,43% de seu valor de face.
A explicação para a contradição entre as palavras e os números é que outros fatores impactaram os mercados ontem. Os investidores aproveitaram para vender papéis brasileiros que compraram quando estavam pouco acima da metade do valor de face, há alguns dias.
No entanto, há outra explicação. Os mercados aprovaram a reunião de FHC, mas sem muita ênfase. "É inegável que o saldo dos encontros foi positivo, pois todos os candidatos mostraram que estão tendendo ao centro", disse Trebat. "Mas isso não significa que as incertezas desapareceram. Os compromissos continuam vagos, sem detalhes. Na verdade, ninguém tem certeza se, se forem eleitos, os candidatos pedirão para mudar o acordo."
O presidente do Conselho de Economistas da Casa Branca, Glenn Hubbard, disse que "encontros como esse" ajudam a dissipar as dúvidas e criam "chances muito maiores" de o programa do FMI com o Brasil dar certo. Mas deixou claro que ainda há incertezas eleitorais e que elas dificultam a normalização dos mercados.
Walter Molano, da corretora BCP, acredita que não são as conversas do governo com os candidatos que vão guiar os mercados, mas sim a dinâmica da dívida brasileira. Michael Mussa, ex-diretor do FMI, concorda. "Iniciativas como essa criam a ilusão de que a crise é política. Não é. A culpa não é dos candidatos, mas da dívida acumulada nos cinco primeiros anos do atual governo."


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