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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Governistas acham que projeto passará por 27 votos a 11

Com base dividida, governo tenta votar tributária hoje

Alan Marques/Folha Imagem
Deputado Nelson Pellegrino (PT) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante almoço com líderes da base na casa de Aldo Rebelo


GUSTAVO PATÚ
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem consenso entre seus próprios aliados, contra a vontade dos governadores e sob ameaça de retaliação por parte da oposição, o governo federal tentará votar hoje o relatório do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) para a reforma tributária na comissão especial da Câmara encarregada de analisar o projeto.
O acordo para a votação só foi concluído ontem, às 21h, na terceira reunião promovida entre o Planalto e os partidos governistas desde anteontem. Ficou acertado que, apesar das divergências, a base aliada aprovará o texto, deixando as alterações para o momento da votação em plenário.
Já foram negociadas quatro mudanças futuras na reforma: um teto de 25% para as alíquotas do ICMS, a vinculação dos recursos da CPMF à saúde e ao combate à pobreza, a extensão de oito para dez anos do prazo para o fim dos benefícios fiscais concedidos pelos Estados e a prorrogação por pelo menos dez anos dos incentivos da Zona Franca de Manaus, que terminam em 2013 -esta última, já prevista no relatório, poderá receber novas regras.
Pelos cálculos dos governistas, o projeto será aprovado por 27 votos contra os 11 de PFL (seis) e PSDB (cinco). Apesar da folga numérica, o Planalto estará se expondo a riscos futuros.
O maior deles está ligado à votação da reforma da Previdência, que ainda precisa passar pelo segundo turno na Câmara e dois turnos no Senado. Os dissidentes pefelistas, que, ao lado dos tucanos, salvaram o governo de uma derrota no primeiro turno, ameaçam retirar o apoio ao projeto daqui para a frente.

Retaliação
"Avisei ao governo que, se tentarem passar o rolo compressor na comissão [da reforma tributária], haverá retaliações na Previdência", disse Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), um dos principais aliados do Planalto na proposta previdenciária.
A posição dos pefelistas está associada à dos governadores, que não admitem apoiar o projeto se não houver a partilha dos recursos da CPMF -cuja prorrogação ainda neste ano é a maior preocupação do governo na reforma, para garantir a receita anual de R$ 24 bilhões.
O entendimento entre os líderes, fechado no Planalto com os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil), foi precedido por duas outras rodadas de negociação.
Na primeira, anteontem à noite, Palocci foi à Câmara para falar com os deputados; na segunda, um almoço na casa do líder do governo Aldo Rebelo (PC do B-SP), o trabalho de convencimento coube ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de Palocci e de Dirceu.
Nos encontros, em que Lula chegou a fazer um apelo aos deputados pela votação, ficou claro que mesmo entre os aliados não há unidade em torno do conteúdo da reforma.

Propostas
"Cada um tem uma proposta, é incrível isso. Dos 513 deputados, pelo menos 400 têm proposta própria", afirmou na saída o deputado Valdemar Costa Neto (SP), líder do PL na Câmara. Os liberais e o PSB eram os partidos que mais resistiam à proposta de deixar as alterações para o plenário.
No almoço de ontem, Lula e Palocci deixaram claro aos presentes que não haverá partilha de receitas da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) com Estados e municípios na reforma.
"Eles disseram que o novo pacto federativo tem de ser feito em um momento de estabilidade econômica, de crescimento, não na situação difícil de hoje, com crise da economia", afirmou o deputado Roberto Jefferson (RJ), líder do PTB.
Ainda de acordo com os presentes, Lula afirmou que o acerto inicial com os governadores foi o de que a reforma seria neutra. Palocci teria dito que não dá para cada um querer fazer a sua reforma, que não dá para "salvar Estados e municípios" de uma hora para outra.
O governo também tentou contatos com a oposição, mas sem sucesso. Pela manhã, Palocci se reuniu com o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), e o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Os tucanos pediram medidas voltadas para o setor produtivo e afirmaram não aceitar a CMF, contribuição permanente que substituiria a atual CPMF.


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