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REFORMA SOB PRESSÃO
Governistas acham que projeto passará por 27 votos a 11
Com base dividida, governo tenta votar tributária hoje
Alan Marques/Folha Imagem
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Deputado Nelson Pellegrino (PT) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante almoço com líderes da base na casa de Aldo Rebelo |
GUSTAVO PATÚ
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sem consenso entre seus próprios aliados, contra a vontade
dos governadores e sob ameaça
de retaliação por parte da oposição, o governo federal tentará votar hoje o relatório do deputado
Virgílio Guimarães (PT-MG) para a reforma tributária na comissão especial da Câmara encarregada de analisar o projeto.
O acordo para a votação só foi
concluído ontem, às 21h, na terceira reunião promovida entre o
Planalto e os partidos governistas
desde anteontem. Ficou acertado
que, apesar das divergências, a
base aliada aprovará o texto, deixando as alterações para o momento da votação em plenário.
Já foram negociadas quatro mudanças futuras na reforma: um teto de 25% para as alíquotas do
ICMS, a vinculação dos recursos
da CPMF à saúde e ao combate à
pobreza, a extensão de oito para
dez anos do prazo para o fim dos
benefícios fiscais concedidos pelos Estados e a prorrogação por
pelo menos dez anos dos incentivos da Zona Franca de Manaus,
que terminam em 2013 -esta última, já prevista no relatório, poderá receber novas regras.
Pelos cálculos dos governistas, o
projeto será aprovado por 27 votos contra os 11 de PFL (seis) e
PSDB (cinco). Apesar da folga numérica, o Planalto estará se expondo a riscos futuros.
O maior deles está ligado à votação da reforma da Previdência,
que ainda precisa passar pelo segundo turno na Câmara e dois
turnos no Senado. Os dissidentes
pefelistas, que, ao lado dos tucanos, salvaram o governo de uma
derrota no primeiro turno, ameaçam retirar o apoio ao projeto daqui para a frente.
Retaliação
"Avisei ao governo que, se tentarem passar o rolo compressor
na comissão [da reforma tributária], haverá retaliações na Previdência", disse Antonio Carlos
Magalhães Neto (PFL-BA), um
dos principais aliados do Planalto
na proposta previdenciária.
A posição dos pefelistas está associada à dos governadores, que
não admitem apoiar o projeto se
não houver a partilha dos recursos da CPMF -cuja prorrogação
ainda neste ano é a maior preocupação do governo na reforma, para garantir a receita anual de R$ 24
bilhões.
O entendimento entre os líderes, fechado no Planalto com os
ministros Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil), foi precedido por duas outras
rodadas de negociação.
Na primeira, anteontem à noite,
Palocci foi à Câmara para falar
com os deputados; na segunda,
um almoço na casa do líder do governo Aldo Rebelo (PC do B-SP),
o trabalho de convencimento
coube ao próprio presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, ao lado de
Palocci e de Dirceu.
Nos encontros, em que Lula
chegou a fazer um apelo aos deputados pela votação, ficou claro
que mesmo entre os aliados não
há unidade em torno do conteúdo
da reforma.
Propostas
"Cada um tem uma proposta, é
incrível isso. Dos 513 deputados,
pelo menos 400 têm proposta
própria", afirmou na saída o deputado Valdemar Costa Neto
(SP), líder do PL na Câmara. Os liberais e o PSB eram os partidos
que mais resistiam à proposta de
deixar as alterações para o plenário.
No almoço de ontem, Lula e Palocci deixaram claro aos presentes
que não haverá partilha de receitas da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) com Estados e municípios na reforma.
"Eles disseram que o novo pacto
federativo tem de ser feito em um
momento de estabilidade econômica, de crescimento, não na situação difícil de hoje, com crise da
economia", afirmou o deputado
Roberto Jefferson (RJ), líder do
PTB.
Ainda de acordo com os presentes, Lula afirmou que o acerto inicial com os governadores foi o de
que a reforma seria neutra. Palocci teria dito que não dá para cada
um querer fazer a sua reforma,
que não dá para "salvar Estados e
municípios" de uma hora para
outra.
O governo também tentou contatos com a oposição, mas sem
sucesso. Pela manhã, Palocci se
reuniu com o líder do PSDB na
Câmara, Jutahy Júnior (BA), e o
deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Os tucanos pediram medidas
voltadas para o setor produtivo e
afirmaram não aceitar a CMF,
contribuição permanente que
substituiria a atual CPMF.
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