São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ATAQUE A PALOCCI

Material apreendido em computador contabiliza pagamentos mensais de R$ 50 mil dirigidos a credor identificado como "dr."

Para promotores e polícia, arquivo traz registro de mesada

ROGÉRIO PAGNAN
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Documentos apreendidos na sede da Leão Leão no ano passado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual reforçam a versão do advogado Rogério Tadeu Buratti de um suposto pagamento de propina da empresa a agentes públicos, incluindo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
O documento, a que a Folha teve acesso, é um arquivo de computador denominado "despesas diversas" encontrado no notebook do ex-presidente da Leão Ambiental, Wilney Barquete. Protegido por duas senhas de oito dígitos, o arquivo traz uma contabilidade que se alinha ao depoimento de Buratti à polícia.
Há referência ao pagamento de "mensalidades" entre R$ 3.000 e R$ 50 mil a cinco cidades (Ribeirão Preto, Araraquara, Sertãozinho, Matão e Monte Alto), para o Departamento de Estrada de Rodagem e para uma sigla Conter, não-especificada. Para a Promotoria e a Polícia Civil, isso é o "mapa do pagamento de propina" que Buratti ajudou a esclarecer.
O arquivo foi mostrado a Buratti anteontem pelo delegado seccional Benedito Antonio Valencise -a prova está incluída na página 4.284 do inquérito sobre a suposta máfia do lixo (que tem 21 volumes). "Posso falar em relação a Ribeirão Preto que uma parte das despesas relacionadas eram destinadas ao prefeito, além de outras despesas como imprensa e até entidade de assistência", disse Buratti, que revelou o esquema antes de ver o documento.
Quando ele diz que "parte" iria para o prefeito é porque o total é de R$ 226 mil, dos quais R$ 50 mil eram para o prefeito, na época Gilberto Maggioni (PT). No documento, há a menção ao pagamento de R$ 50 mil a alguém identificado como "dr.". "Trata-se de um relatório gerencial e não contábil, sendo que uma parte das despesas era contabilizada. Entretanto, o valor dado ao prefeito não era contabilizado", disse Buratti.
Ele citou conhecer o esquema de pagamento de propina em quatro dessas cidades -excluiu, porém, Araraquara. "Nunca houve pagamento ao prefeito, porque a prefeitura não pagava pontualmente e, pelo contrário, atrasava uns seis meses. Além do mais não houve qualquer acordo com o prefeito Edinho [Silva, PT]."
Os documentos se referem a 2003 e 2004, mas o detalhamento dos pagamentos ocorre, porém, só em 2004, quando Barquete assumiu a presidência da Leão Ambiental, braço do grupo Leão Leão especializado em limpeza urbana.
Antes disso, esse cargo era ocupado por Buratti, que disse à polícia que Palocci também recebia os mesmos R$ 50 mil mensais e os enviava para a direção do PT. Buratti fez questão de dizer que sabia do destino dos R$ 50 mil porque tinha amizade com o ex-secretário da Fazenda, Ralf Barquete Santos, que buscava o dinheiro.


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