São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Governador intensifica articulações e admite ser presidenciável para evitar que prefeito paulistano vire candidato natural do partido

Alckmin abandona cautela para frear Serra

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

O agravamento da crise política do governo Lula fez o tucano Geraldo Alckmin alterar seu plano de vôo na tentativa de concorrer à sucessão do presidente em 2006.
Antes cauteloso em relação ao tema, o governador de São Paulo intensificou suas articulações na tentativa de evitar que José Serra, prefeito da capital paulista, abra uma expressiva vantagem sobre ele na disputa interna do PSDB a ponto de se transformar em candidato natural da sigla.
Com isso, Alckmin, que na última semana praticamente admitiu pela primeira vez em público ser presidenciável, ampliou seu diálogo com governadores do PSDB e do PMDB, nomeou representantes na bancada federal tucana em Brasília para cuidar de seus interesses eleitorais e se aproximou ainda mais do senador Tasso Jereissati (CE), que sonha presidir o partido apoiado pelo paulista.
O grupo de Alckmin também prepara uma candidatura para retomar o controle do diretório do PSDB no Estado de São Paulo.
Mas é nas pesquisas que deverá se travar o grande embate entre os tucanos, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e até o governador mineiro Aécio Neves, que, embora chamuscado pelas ligações do PSDB mineiro com o empresário Marcos Valério, ainda é lembrado.
Desde o surgimento dos primeiros escândalos envolvendo o PT e seus aliados, Serra só fez crescer nas pesquisas, a ponto de ter superado Lula em um eventual segundo turno da eleição, de acordo com a última pesquisa Datafolha.
Na avaliação do grupo de Alckmin, o governador precisa crescer nas sondagens a ponto de criar a sensação de que não apenas Serra é capaz de bater Lula, o que deixaria o prefeito "desobrigado" de abandonar seu mandato na metade e entregá-lo ao PFL para concorrer à Presidência.
Já o grupo serrista argumenta que essa pode ser uma opção de risco, pois, sem o prefeito no páreo, o peemedebista Anthony Garotinho se fortalece na briga.
Ainda que reservadamente aliados do governador se queixem de Serra, a movimentação de Alckmin não significa ruptura com o prefeito ou com FHC, já que, sem a bênção dos dois, ele dificilmente sairá candidato em 2006.
No grupo "alckmista" são comuns reclamações de que Serra "deve sua eleição no ano passado" ao apoio de Alckmin. Os "serristas", por sua vez, dizem que o governador "ficou pequeno após a explosão da crise". Atento à disputa, FHC também faz suas costuras (leia texto nesta página).
Do desfecho do impasse, depende a definição do candidato tucano que disputará a sucessão do próprio Alckmin. Se não conquistar o direito de concorrer ao Planalto, o governador tentará impor um nome de seu time.
O mais cotado é o secretário Emanuel Fernandes (Habitação). O vereador José Aníbal, hoje próximo do governador, também está no páreo. Paulo Renato corre por fora, com o apoio de FHC. O ex-ministro da Educação encontra resistências no grupo de Serra e uma situação de neutralidade em relação ao do governador.
Com o apoio de Serra segue Aloysio Nunes Ferreira, seu secretário de Governo.
Do lado petista, João Paulo Cunha, abalroado pelo tsunami Marcos Valério, está fora do páreo. Marta Suplicy e Aloizio Mercadante tentam passar ao largo das denúncias e se articular internamente no partido.


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