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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT
Petista histórico, pré-candidato ao governo do Rio diz que partido escolheu modelo Santo André e isso levou à corrupção
Palmeira critica "tecnocratização" do PT
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Ícone da esquerda do PT, Vladimir Palmeira, 60, pré-candidato
ao governo do Rio, defende a renúncia imediata de todos os deputados petistas que receberam
recursos das empresas de Marcos
Valério e a proibição de que eles
usem a legenda para se reeleger.
Ele fez análise sobre os erros do
PT, "que se transformou num
partido como os outros", e diz
que a tecnocratização imposta
por São Paulo se sobrepôs a modelos democráticos de administração, como o de Porto Alegre.
Para ele, o caso de Santo André foi
emblemático. "Aquele era o modelo de tecnocratização que foi
imposto à maioria de nossas prefeituras. Deu no que deu."
Palmeira foi vítima da atuação
do Campo Majoritário no PT
quando, em 1998, por imposição
da direção nacional, teve que desistir de sua candidatura ao governo do Estado para que Benedita
da Silva fosse vice de Anthony Garotinho, então no PDT.
Leia trechos de sua entrevista à
Folha:
Folha - O senhor está voltando
ativamente ao PT no momento em
que o partido passa pela maior crise de sua história. Não é uma hora
ingrata?
Vladimir Palmeira - É verdade,
mas nada para a gente foi fácil.
Quando meu nome foi lançado,
não havia crise. Me procuraram
porque o campo majoritário não
tinha alternativas aqui no Rio de
Janeiro e eles mesmo sentiam necessidade de uma candidatura de
militância. Tínhamos uma estratégia de campanha traçada para o
Rio com o cenário de que a oposição iria derrotar o Garotinho lembrando casos de corrupção. Dois
meses depois disso, no entanto, o
Garotinho escrevia artigos denunciando corrupção.
O problema foi que o PT vem
perdendo sua característica democrática e sua base popular. Foi
se transformando num partido
igual aos outros, composto só de
prefeitos, deputados e vereadores.
Folha - Quando ficou claro que o
PT estava mudando?
Palmeira - Na década de 90, ficou claro que a grande divisão do
partido não era entre tendências.
Era a divisão entre uma concepção democrática e outra tecnocrática. Porto Alegre foi símbolo de
uma prefeitura com essa visão democrática, enquanto Santo André
era o modelo da tecnocrática. Foi
em Santo André que se traduziu
esse afastamento do partido das
bases, que se deu menos importância à fiscalização e abandonou-se a questão do orçamento participativo, das eleições diretas para
diretores de escolas ou hospitais.
Sempre defendi o modelo Porto
Alegre, mas acho que a maioria
das nossas prefeituras seguiu o
modelo de Santo André. Quando
você se afasta da massa, passa a
ser um partido de parlamentares
e funcionários. Esse foi um modelo de centralização do partido imposto a partir de São Paulo.
Folha - Por José Dirceu?
Palmeira - Não dá para dizer que
foi uma pessoa apenas. Essa foi a
política também do Lula, que foi
presidente do partido. Mas isso
não se faz sozinho, mas com um
imenso coletivo. Deu no que deu.
A prefeitura modelo de Santo André acabou envolvida, no mínimo, em corrupção.
Folha - O que o partido deve fazer
para sair da crise?
Palmeira - Ou o partido faz esse
movimento concreto de refundação, além das declarações do [presidente do PT] Tarso Genro, ou
será sangrado e perderá a legitimidade. O problema é que a base
do partido está cansada de palavras e o PT desde o início da crise
tentou impedir a apuração. Só há
refundação do partido se ele punir quem já tem provas materiais
de corrupção. Se não punir logo,
vai ficar ultrapassado pelos acontecimentos. Pode sobreviver como sigla, mas não como partido
que disputa a hegemonia do país.
Folha - Contra quem já há provas
concretas?
Palmeira - Contra o Delúbio
[Soares] e o Sílvio [Pereira], por
exemplo, há provas concretas.
Acho que há também contra
quem recebeu dinheiro. Já há
comprovação de caixa dois e isso
é ilegal. Nossos deputados deveriam renunciar imediatamente
sem direito a se candidatar no
próximo ano.
Folha - O impeachment de Lula é
inevitável?
Palmeira - É uma possibilidade,
mas se deve exigir da oposição
que se atenha a provas. Há um
processo em apuração e é ainda
muito partidarizado pedir o impeachment hoje porque não há
provas contra o presidente.
Folha - Mas não é de se supor que
ele sabia de tudo, já que esse grupo
que está sendo acusado agora sempre foi o dele?
Palmeira - Não se pode fazer um
impeachment por suposição. Se
formos pensar assim, diríamos
que é lógico que a maior parte do
Congresso usa caixa dois, mas eu
não posso cassar a maioria do
Congresso sem que sejam apresentadas provas.
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