São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Nomeações ligam gabinete de Sarney aos atos secretos

Sócia de neta do presidente do Senado afirma ter recebido avisos de servidores dele nas duas vezes em que foi nomeada

Zenicéia Silva de Assis diz que, devido a problemas financeiros, pediu emprego ao filho do senador, mas nunca assumiu os cargos


HUDSON CORRÊA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sócia de uma das netas do senador José Sarney (PMDB-AP), Zenicéia Silva de Assis, 41, foi nomeada duas vezes para cargos no Senado por meio de atos secretos. Questionada pela Folha, que obteve cópia desses documentos, a empresária contou que havia pedido emprego a Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, e que foi avisada das duas nomeações por servidores que trabalham no gabinete de Sarney.
O caso de Zenicéia é o primeiro a ligar diretamente o gabinete de Sarney aos atos secretos. Nos anteriores, ou não havia provas de ligação com Sarney ou este dizia que as contratações, mesmo que beneficiassem seus parentes, tinham acontecido sem seu conhecimento e eram de responsabilidade de terceiros, notadamente o ex-diretor-geral Agaciel Maia. Foi o argumento, por exemplo, usado por ele para se eximir de culpa pela nomeação do namorado de outra neta.
"Os assessores do presidente Sarney me avisaram das nomeações", disse Zenicéia. E deu os nomes: Francisco Lima Júnior (chefe de gabinete do senador), Maria Vandira Peixoto (secretária), Wanderley Ferreira de Azevedo (ajudante de ordem) e Aluísio Guimarães (segurança até abril).
"Quando eu me encontrava com o Fernando [Sarney] e com a Adriana [neta do senador], falava: poxa, me ajuda, arruma alguma coisa para eu fazer. Sempre pedia: se aparecer uma vaga, me arruma", disse. A revelação da existência de nomeações por atos secretos que tinham o conhecimento do gabinete de Sarney pode reacender a crise no Senado.
Anteontem, graças a uma manobra que contou com o apoio do presidente Lula e os votos do PT, todas as acusações contra o senador foram engavetadas pelo Conselho de Ética. Sarney falou que a situação estava "normalizada" e que "ultrapassamos uma fase".

Nomeações
A primeira nomeação de Zenicéia aconteceu em setembro de 2007. Assinado por Agaciel, o ato a indicava para o cargo de assessora do Conselho Editorial, órgão do Senado que cuida da edição de livros históricos e que é presidido por Sarney.
A outra nomeação, datada de dezembro de 2008 e assinada pelo então diretor-adjunto, Alexandre Gazineo, foi para o órgão central de Coordenação e Execução do Senado.
O primeiro ato só foi incluído no sistema de informações do Senado em maio deste ano; o outro, em abril. O regulamento da Casa exige que as decisões administrativas sejam imediatamente divulgadas. Sob a acusação de ocultá-las propositalmente, Agaciel responde a processo administrativo que pode levar à sua demissão. O caso também é investigado pelo Ministério Público Federal.
Zenicéia não apresentou documentos para consumar a contratação em nenhuma das duas vezes por ter considerado o salário baixo. A Folha apurou que a vaga do Conselho Editorial correspondia a remuneração de R$ 2.794,18. "Nunca recebi um centavo e não sabia que o ato era secreto." Até abril deste ano, a empresária era sócia de Maria Adriana Sarney, 24, filha de Fernando, em duas agências de publicidade: Zippy Comunicação e MSZ Representação Comercial Consultoria e Participações.
Zenicéia disse que pediu emprego no Senado porque a sociedade não ia bem. Uma promoção de shows, segundo a empresária, deu prejuízos de R$ 70 mil. Em dificuldades, ela resolveu pedir ajuda à família Sarney, cuja casa diz que frequentava com regularidade. Atualmente, só a Zippy está ativa. É uma sala fechada no Centro Empresarial Norte. A MSZ foi extinta em setembro.
Em 2006, a Zippy recebeu R$ 62,3 mil do Ministério da Saúde. Zenicéia nega ter sido beneficiada em contratos com o governo em virtude da amizade com a família Sarney. Declarou, pelo contrário, que saiu prejudicada desde que a imprensa divulgou, em 2008, que a PF investigava os negócios de Fernando -hoje indiciado pelos crimes de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. "Me carimbaram um bigode muito grande na testa. Todo mundo me liga a eles e fecha as portas."

Colaborou ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília



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