|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nomeações ligam gabinete de Sarney aos atos secretos
Sócia de neta do presidente do Senado afirma ter recebido avisos de servidores dele nas duas vezes em que foi nomeada
Zenicéia Silva de Assis diz que, devido a problemas financeiros, pediu emprego ao filho do senador, mas nunca assumiu os cargos
HUDSON CORRÊA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sócia de uma das netas do senador José Sarney (PMDB-AP), Zenicéia Silva de Assis, 41,
foi nomeada duas vezes para
cargos no Senado por meio de
atos secretos. Questionada pela
Folha, que obteve cópia desses
documentos, a empresária
contou que havia pedido emprego a Fernando Sarney, filho
do presidente do Senado, e que
foi avisada das duas nomeações
por servidores que trabalham
no gabinete de Sarney.
O caso de Zenicéia é o primeiro a ligar diretamente o gabinete de Sarney aos atos secretos. Nos anteriores, ou não
havia provas de ligação com
Sarney ou este dizia que as contratações, mesmo que beneficiassem seus parentes, tinham
acontecido sem seu conhecimento e eram de responsabilidade de terceiros, notadamente o ex-diretor-geral Agaciel
Maia. Foi o argumento, por
exemplo, usado por ele para se
eximir de culpa pela nomeação
do namorado de outra neta.
"Os assessores do presidente
Sarney me avisaram das nomeações", disse Zenicéia. E
deu os nomes: Francisco Lima
Júnior (chefe de gabinete do
senador), Maria Vandira Peixoto (secretária), Wanderley
Ferreira de Azevedo (ajudante
de ordem) e Aluísio Guimarães
(segurança até abril).
"Quando eu me encontrava
com o Fernando [Sarney] e
com a Adriana [neta do senador], falava: poxa, me ajuda, arruma alguma coisa para eu fazer. Sempre pedia: se aparecer
uma vaga, me arruma", disse.
A revelação da existência de
nomeações por atos secretos
que tinham o conhecimento do
gabinete de Sarney pode reacender a crise no Senado.
Anteontem, graças a uma
manobra que contou com o
apoio do presidente Lula e os
votos do PT, todas as acusações
contra o senador foram engavetadas pelo Conselho de Ética. Sarney falou que a situação
estava "normalizada" e que "ultrapassamos uma fase".
Nomeações
A primeira nomeação de Zenicéia aconteceu em setembro
de 2007. Assinado por Agaciel,
o ato a indicava para o cargo de
assessora do Conselho Editorial, órgão do Senado que cuida
da edição de livros históricos e
que é presidido por Sarney.
A outra nomeação, datada de
dezembro de 2008 e assinada
pelo então diretor-adjunto,
Alexandre Gazineo, foi para o
órgão central de Coordenação e
Execução do Senado.
O primeiro ato só foi incluído
no sistema de informações do
Senado em maio deste ano; o
outro, em abril. O regulamento
da Casa exige que as decisões
administrativas sejam imediatamente divulgadas. Sob a acusação de ocultá-las propositalmente, Agaciel responde a processo administrativo que pode
levar à sua demissão. O caso
também é investigado pelo Ministério Público Federal.
Zenicéia não apresentou documentos para consumar a
contratação em nenhuma das
duas vezes por ter considerado
o salário baixo. A Folha apurou
que a vaga do Conselho Editorial correspondia a remuneração de R$ 2.794,18. "Nunca recebi um centavo e não sabia
que o ato era secreto."
Até abril deste ano, a empresária era sócia de Maria Adriana Sarney, 24, filha de Fernando, em duas agências de publicidade: Zippy Comunicação e
MSZ Representação Comercial
Consultoria e Participações.
Zenicéia disse que pediu emprego no Senado porque a sociedade não ia bem. Uma promoção de shows, segundo a
empresária, deu prejuízos de
R$ 70 mil. Em dificuldades, ela
resolveu pedir ajuda à família
Sarney, cuja casa diz que frequentava com regularidade.
Atualmente, só a Zippy está
ativa. É uma sala fechada no
Centro Empresarial Norte. A
MSZ foi extinta em setembro.
Em 2006, a Zippy recebeu
R$ 62,3 mil do Ministério da
Saúde. Zenicéia nega ter sido
beneficiada em contratos com
o governo em virtude da amizade com a família Sarney.
Declarou, pelo contrário, que
saiu prejudicada desde que a
imprensa divulgou, em 2008,
que a PF investigava os negócios de Fernando -hoje indiciado pelos crimes de formação
de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade
ideológica. "Me carimbaram
um bigode muito grande na
testa. Todo mundo me liga a
eles e fecha as portas."
Colaborou ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Entrevista: Arns diz que sai do PT mesmo se perder mandato Próximo Texto: Outro lado: Presidente do senado não comenta o caso Índice
|