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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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Luiz Gushiken concentra a estratégia de comunicação no marqueteiro que fez a campanha do presidente

Duda será "ministro da propaganda" de Lula

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), Luiz Gushiken, 53, pretende nomear Duda Mendonça como responsável pela coordenação e integração da publicidade de todos os órgãos federais, inclusive os ministérios.
"Eu quero o Duda Mendonça como se fosse -na ausência de um termo mais adequado- meu consultor especial. Eu quero discutir com ele toda a estratégia de comunicação de governo, vendo os diversos setores, principalmente nos ministérios e a Secom." Para formalizar a nova função do publicitário que fez a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, Gushiken enviará uma diretriz escrita a todos os órgãos federais com verba publicitária.
Nunca houve um marqueteiro com tanto poder no governo. Duda passará a municiar Gushiken sobre como está o trabalho de todos os ministérios, para garantir que exista "sinergia" entre as campanhas. A decisão é legal, diz ele. Duda foi um dos três vencedores da licitação para cuidar da publicidade da Presidência. O valor do contrato de 12 meses é de R$ 150 milhões, para ser dividido por três agências -as outras são a Lew Lara e a Matisse, sendo que a última abriga o publicitário Paulo de Tarso, responsável por campanhas derrotadas de Lula. Cada agência tem de receber, no mínimo, 15% do total. No limite, a divisão deve ser de 15%, 15% e 70%.
 
Folha - Qual é o objetivo das mudanças na Radiobrás?
Luiz Gushiken -
É melhorar a qualidade do trabalho.

Folha - Como se afere a melhora?
Gushiken -
Pelo número de pessoas que têm acessado a Agência Brasil. É a qualidade do trabalho. Não se adicionou elemento novo. Houve um salto da qualidade.

Folha - É correto interpretar que a Agência Brasil vai concorrer com as agências de notícias privadas?
Gushiken -
Se o setor privado tivesse acesso, estrutura de captar tudo aquilo que é ação de governo - que é a base principal para justificar a existência da Radiobrás- talvez não precisasse da Radiobrás. Mas não tem. Então, o governo tem a obrigação de transmitir à população as ações que estão sendo desenvolvidas no âmbito do governo. Tem obrigação.

Folha - O Poder Executivo cortou assinaturas de serviços noticiosos nos últimos meses?
Gushiken -
Não sei dizer. Agora, tem uma coisa: no começo dos trabalhos nossos, tudo aquilo que era dispensável, não era um trabalho de muita necessidade, todo mundo cortou. Até porque a situação financeira obrigava a isso. Houve um corte muito grande.

Folha - O sr. já decidiu como será o trabalho das três agências licitadas para atender a Presidência?
Gushiken -
Estamos discutindo. Uma coisa eu já defini. Eu quero o Duda Mendonça como se fosse -na ausência de um termo mais adequado- meu consultor especial. Eu quero discutir com ele toda a estratégia de comunicação de governo, vendo os diversos setores, principalmente nos ministérios e a Secom. Eu preciso de uma pessoa que dê para mim pareceres, estudos, articule, converse. Eu quero colocar o Duda Mendonça nessa área. O papel da agência de publicidade é mais de produção. Mas eu quero o Duda constantemente opinando sobre questões que envolvem a imagem do governo, para não deixar que a publicidade seja pulverizada. Ele será alguém que analisará isso mais detidamente, alguém que possa conversar também, dialogar. Eu quero o Duda mais nesse papel.

Folha - E os publicitários das duas outras agências licitadas?
Gushiken -
Não há tempo de ficar consultando três agências para esse tipo de trabalho. O que eu quero é ver se está tudo bem coordenado estrategicamente, quem está vendo isso, como é que estão olhando, como é que um criador vê as diversas publicidades que existem no âmbito dos ministérios. Têm de ser alguém de confiança mesmo. E o Duda é uma pessoa com quem eu me relacionei muito tempo e entendo a linguagem dele. Esse trabalho com certeza quero dar para o Duda.

Folha - E essa função dele se encaixa no contrato da licitação?
Gushiken -
Lógico.

Folha - Seria um consultor?
Gushiken -
Eu chamo ele de consultor para facilitar o entendimento. Não quero três agências para ficar dialogando comigo sobre a estratégia da comunicação no sentido amplo. Eu quero uma só, e quero aquela pessoa que tenho já mais proximidade e entenda a linguagem, o Duda Mendonça. O resto, como é que vai dividir o trabalho, ainda não sei.

Folha - Como é que ele teria informações dos ministérios?
Gushiken -
Por meu intermédio. Eu vou oficializar isso. Eu vou dizer para os ministérios que a Secom, por intermédio da agência do Duda Mendonça, eventualmente pode se relacionar, se reunir para discutir e saber como é que cada área deve atuar. Para que tudo fique em consonância com a linha do governo.

Folha - Sinergia?
Gushiken -
Sinergia oficial.

Folha - Há muito ciúmes nessa área publicitária.
Gushiken -
Muito. No campo da criação eles são muito ciumentos. Mas ninguém vai querer se intrometer na criação. Será uma troca de idéias, de como o governo está pensando. O governo pensa a partir da Presidência, e o Duda representa, digamos, esse canal que a Secom expressa da Presidência.

Folha - Isso será feito já?
Gushiken -
Já. Quero evitar o que houve no passado, que foi a absoluta autonomia dos ministérios. Isso cria dificuldades. Também tem outra coisa, você pode economizar recursos nesse trabalho.

Folha - De que forma?
Gushiken -
É possível casar e complementar atividades. A ação de um ministério muitas vezes tem relação com outro ministério. Elas são relações transversais. Se conseguirmos articular essas ações, juntar os ministérios e produzir material único, economiza-se brutalmente recursos.

Folha - O sr.não acha que isso pode criar uma certa ciumeira entre os publicitários licitados?
Gushiken -
Poderia se entrasse no campo da criação.

Folha - Mesmo não entrando, ele não vai interferir da mesma forma?
Gushiken -
Não. Por isso que eu estou dizendo, vou formalizar essa relação. Vou mandar por ofício, com uma política sobre comunicação de governo, que engloba articulações entre ministérios, Secom e ministérios na busca de unidade, de coordenação, de racionalidade administrativa. Há uma justificativa correta. Eles não podem achar que é uma intromissão indevida. Têm que saber que tem um fundamento que legitima esse tipo de ação.

Folha - Como está o programa de rádio do Lula?
Gushiken -
Está pronto.

Folha - Será no café da manhã?
Gushiken -
"Café com o presidente", mas esse título ainda não foi aprovado.

Folha - Qual a duração?
Gushiken -
De cinco a oito minutos. E a veiculação será facultativa.



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