São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Comandante do PT se fragiliza no cargo

Sucessor de Genoino e Tarso, Berzoini assumiu a presidência com desafio de recuperar imagem do partido para as eleições

Petista concorre à reeleição como deputado federal e era cotado para ocupar um posto em um eventual segundo mandato de Lula


DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ricardo Berzoini deverá deixar também a presidência do PT, mas essa fórmula seria discutida pela Executiva do partido e não pelo presidente da República. Ele foi eleito pelo votos dos filiados há cerca de um ano e teria que renunciar.
Eleito para presidir o PT em outubro de 2005, Berzoini recebeu a missão espinhosa de reerguer, para a eleição do ano seguinte, um partido destroçado pela crise do mensalão.
Como Marco Aurélio Garcia, que assumiu ontem o comando da campanha petista, já é o primeiro vice-presidente do partido, o mais provável é que Berzoini se afaste em benefício dele, que exerceria o posto temporariamente. Mais à frente, em reunião extraordinária do Diretório Nacional, um novo presidente seria apontado.
Com o surgimento das denúncias contra petistas próximos a ele, Berzoini viu evaporar sua esperança de ser um dos cardeais de um segundo mandato de Lula. Nas palavras de um membro da coordenação, ele foi "rifado" por Lula.
No PT, já se sentem sinais de inquietação. "Se Berzoini sabia da transação com o dossiê e não comentou nem tentou impedir, precisa explicar isso ao partido. Isso deve ser avaliado. Esse tipo de conduta seria surpreendente para mim", disse o secretário-geral do PT, Raul Pont.
Para Romênio Pereira, responsável pela campanha nos pequenos municípios, os responsáveis pela desastrada operação não avaliaram as conseqüências que isso poderia trazer para a candidatura de Lula. "Quem fez isso pensou apenas na campanha do PT em São Paulo, não na campanha nacional. É inacreditável que isso tenha acontecido", afirmou Pereira, em referência à tentativa do dossiê de atingir Serra.

Ética
O envolvimento de Berzoini na crise do dossiê fragiliza a situação de poder que o levou à coordenação geral da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. Além disso, põe o PT de novo num debate ético, que o partido passou meses tentando contornar.
A eleição de Berzoini foi a prova de que o núcleo de poder do PT, o chamado campo majoritário, estava enfraquecido. Berzoini foi eleito com 51,6% dos votos válidos, e a outra metade do partido optou pelo gaúcho Raul Pont, que representaria a "esquerda" partidária.
Além disso, o petista assumiu depois de uma forte disputa interna entre José Dirceu e Tarso Genro. Hoje ministro de Relações Institucionais de Lula, Tarso recusou-se a disputar a presidência do PT caso Dirceu permanecesse na chapa.
O partido havia perdido seus principais quadros da articulação política e precisava encontrar um nome para presidir o PT que tivesse condições de conduzir o processo eleitoral de 2006. Estavam foram do circuito José Dirceu, José Genoino, Luiz Gushiken, João Paulo Cunha e outros.
Berzoini, que tinha exercido, na avaliação de Lula, uma boa gestão nos ministérios da Previdência [com a aprovação da reforma] e do Trabalho, ganhou a confiança de Lula.
O campo majoritário perdeu poderes, mas a Articulação, corrente de Lula e de praticamente todo o núcleo que o cercou e cerca no governo, manteve postos-chave. A Secretaria das Finanças, por exemplo, saiu das mãos de Delúbio Soares e foi ocupada por Paulo Ferreira, ligado a José Dirceu.
Logo depois de assumir, Berzoini nunca criticou abertamente os colegas envolvidos no mensalão. Ao contrário. Sustentou que o mensalão, da forma como foi denunciado pelo deputado cassado Roberto Jefferson, nunca existiu.


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