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Otavio Frias Filho
O chefão
O MAIS recente escândalo envolvendo Lula & Cia. tornou evidentes duas coisas. A primeira já era sabida desde
pelo menos o escândalo do
mensalão, há mais de um
ano. Ou seja, a cúpula petista instalou uma máfia sindical-partidária no aparelho do Estado.
A função dessa máfia é
garantir condições para que
Lula e seu grupo se eternizem no poder. O método é
desviar recursos públicos e
privados para financiar
campanhas eleitorais, comprar adesões no Congresso
e montar operações de intimidação contra eventuais
adversários.
Embora ocupando postos de pouca visibilidade, o
que caracteriza os integrantes da máfia é a lealdade antiga e canina a Lula, o chefão. São operadores acostumados a agir nas sombras
da delinqüência municipal.
Sua ação é agora "legitimada" por intelectuais como
Marilena Chaui e Rose Marie Muraro, para as quais o
imoral é moral se for bom
para a cúpula do partido.
Todo governo tem nichos
de corrupção, muitas vezes
incrustados na vizinhança
dos amigos do presidente.
Mas são esquemas paralelos, de caráter "particular".
Traduzem a sobrevivência
do velho patrimonialismo
brasileiro.
Onde o PT inovou foi ao
estender esses pequenos
esquemas ao aparelho governamental inteiro, dando-lhes, além de comando
unificado, um caráter partidário e permanente.
De fato a corrupção se
tornou "sistêmica", como
querem os apologistas do
governo. Não no sentido de
resultar das mazelas do
nosso sistema político, mas
por configurar uma máquina impessoal agindo dentro
do Estado.
O "dossiêgate", como
vem sendo chamado, revelou no entanto algo mais
perturbador do que essa
notícia velha. Tornou evidente que, sob o beneplácito de Lula, a máfia continua
a agir de modo cada vez
mais desabrido. A impunidade, como era de se prever,
gerou a desfaçatez.
O favoritismo eleitoral de
Lula, turbinado pelas políticas de transferência de
renda, aumentou ainda
mais a sensação de impunidade. E espicaçou o atrevimento, a ponto de a facção
mafiosa correr o risco de
prejudicar a reeleição do
chefe na tentativa de reverter a vantagem dos tucanos
na eleição paulista.
O próprio Lula pergunta
retoricamente o que teria a
ganhar com uma operação
criminal desse tipo, estando sua reeleição quase assegurada. É que em geral os
asseclas são mais realistas
que o rei. É que cedo ou tarde a "turma" passa a agir
por conta própria.
Para ilustrar a constatação, basta lembrar que foi
exatamente assim que o
chefe de segurança de Getúlio mandou matar Lacerda, a principal voz da oposição em 1954, num crime
imbecil que derrubaria o
presidente em qualquer democracia.
Se houver segundo mandato, haverá muito trabalho
para o Ministério Público,
para o Judiciário e para o
que restar de imprensa independente "neste país".
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação
da Folha
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