São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Política focalizada

Descontrolada à primeira vista, a escalada de hostilidades de Geraldo Alckmin contra Gilberto Kassab pode funcionar ou não, mas tem método e objetivo. O tucano sabe que a maioria do eleitorado não entende e nem se importa com questões como, por exemplo, de que maneira o hoje prefeito foi escolhido vice de José Serra em 2004. Seu target é uma fatia da classe média paulistana que sempre votou no PSDB e agora se inclina para Kassab. Na base do "discurso ético", e repisando permanentemente a idéia de que o candidato do DEM seria "de outra turma", Alckmin espera recolher nessa seara um ou dois pontos que o ajudem a se desvencilhar do empate com o prefeito.




Geografia. Não à toa, os eventos de rua da campanha de Alckmin nesta quinzena que antecede o primeiro turno se concentrarão nas porções menos periféricas das zonas leste e norte, redutos do voto conservador em SP.

Guerra total. De um colaborador próximo de Alckmin, sobre o trabalho de demolição de Kassab: "Agora vamos até o fim. Se formos para o segundo turno, melhor. Se não, vamos até o fim do mesmo jeito".

Ah, é? Enfurecidos com o uso do episódio da escolha do vice em 2004, serristas e kassabistas lembravam, na noite de sexta, que em 1994, quando da costura da chapa tucana para disputar o governo paulista, a opção preferencial de Mario Covas para vice não era Alckmin, e sim Walter Barelli.

Equilibrista. Em carta distribuída pelas ruas de Fortaleza, Ciro Gomes (PSB) pede votos para a ex-mulher, Patrícia Saboya (PDT), dizendo que o programa Ronda do Cid, do irmão governador, "está funcionando", mas que a candidata "vai tirar os jovens da violência". E que com Lula "as pessoas podem comprar carro em 84 meses". No entanto, sob administração petista, a capital do Ceará "não tem projeto para o trânsito".

É show. Em rota ascendente nas pesquisas, a campanha do ex-ministro Luiz Marinho (PT) prepara uma megaestrutura para receber cerca de 20 mil pessoas no comício que Lula fará no próximo domingo em São Bernardo do Campo. Será na Vila São Pedro, divisa com Santo André.

Onde pega. Sem prejuízo da onda continuísta, pesquisas por todo o país apontam a área da saúde como calcanhar de aquiles da maioria dos prefeitos que buscam a reeleição.

O retorno. Previsão de um tarimbado intérprete dos políticos e das pesquisas: encerrada a temporada de eleições municipais, o assunto terceiro mandato vai ressuscitar.

Casquinha. Depois de levar o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) à propaganda de candidatos do PMDB, a onda do pré-sal conseguiu transformar em estrela do horário gratuito o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima. Ele já gravou depoimentos para os candidatos do PCdoB em Belo Horizonte e Porto Alegre, além de vários no interior da Bahia, sua base eleitoral.

Faca no pescoço. Sérgio Cabral (PMDB) reuniu-se no Palácio do Planalto com o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, para tratar da proposta de mudança na forma de cálculo dos royalties que o Rio de Janeiro recebe pela exploração de petróleo. O governador ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal se o Estado for prejudicado.

Classificados. Estados como Bahia e Pernambuco já procuraram o Ministério de Minas e Energia para se oferecer como sede de algumas das 50 novas usinas nucleares que, segundo anunciou Lobão, serão construídas nas próximas décadas. Argumentam que o investimento e o retorno em empregos compensam o risco ambiental.

Calendário. Será em 10 de outubro a reunião interministerial para fechar o Plano Nacional de Defesa -cujo lançamento deveria ter sido feito no 7 de Setembro. No encontro ficarão frente a frente Nelson Jobim (Defesa) e Jorge Félix (GSI), recém-saídos de choque na crise dos grampos.

com FÁBIO ZANINI e SILVIO NAVARRO

Tiroteio

"O problema não está na imprensa, mas no descontrole sobre os grampos e, mais ainda, na falta de comando do Planalto."
Do senador SÉRGIO GUERRA , presidente do PSDB, sobre o projeto enviado pelo governo ao Congresso, que prevê punição à imprensa em caso de divulgação de escutas sob sigilo de Justiça.


Contraponto

Fome e vontade de comer

Em 1985, na campanha em que terminaria derrotado por Jânio Quadros, Fernando Henrique Cardoso fazia corpo-a-corpo acompanhado pelo aliado Mario Covas, então prefeito de São Paulo, quando houve pausa para que os fotógrafos registrassem a dupla tomando café.
O dono da padaria serviu coxinha de frango, especialidade do local.
-O senhor tem talheres?-, perguntou FHC.
Num instante, Covas avançou sobre o salgadinho e, antes de devorá-lo, justificou-se:
-Fernando, tô morrendo de fome. Você fica com o café.


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