São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2001

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EM RITMO DE SUCESSÃO
Contratos tiveram aditamentos superiores a 25%

Obras com apelo eleitoral são marcadas por suspeitas

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Vista aérea de parte das obras do Rodoanel, via que circundará a capital paulista, em trecho próximo à rodovia Régis Bittencourt


XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

As obras consideradas "vedetes eleitorais" da campanha de 2002 estão marcadas por acusações de irregularidades ou suspeitas de fraude. A necessidade política de fazer grandes inaugurações no próximo ano tem feito o trator de governos estaduais passar por cima da Lei de Licitações Públicas.
Os aditamentos acima de 25% no valor das construções, que são proibidos pela lei, provocaram um aumento nos custos de três grandes construções: o Rodoanel -via expressa de que circundará a cidade de São Paulo-, as estações da linha 5 do metrô paulistano e o porto do Pecém, inaugurado recentemente no Ceará (leia texto na página 5).
Os argumentos para as mudanças de custos são sempre os mesmos em casos dessa natureza: alterações no projeto inicial da obra ou situações inesperadas, como um tipo de solo diferente do que foi estudado para a construção.
Muitas vezes os empreiteiros utilizam esse tipo de justificativa para encobrir elevações indevidas nos custos.
O canteiro de obras do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), pré-candidato à reeleição, sofreu acréscimos de 69,92%, caso do trecho oeste do Rodoanel, cujo valor do contrato é de R$ 338,87 milhões -o custo total da via expressa é estimado em R$ 8 bilhões. Outro caso flagrante de desobediência à lei de licitações, o ramal do metrô que ligará o Capão Redondo ao Largo 13, já registrou aditivos em contratos de até 76,51%. O valor total da obra é estimado em R$ 1,31 bilhão.

Tribunal de Contas
Caso decida de acordo com o seu próprio repertório de julgamentos, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) não terá outra saída, a não ser condenar os contratos. O Ministério Público Federal também investiga o episódio Rodoanel, que tem verbas dos cofres da União.
Além do problema do aditivo, a obra de Alckmin é questionada no TCE por outro aspecto: a concorrência para iluminação de um dos túneis, no valor de R$ 4,5 milhões, foi questionada pela empresa Panenge, que se sentiu prejudicada e recorreu ao tribunal.
A firma alegava que a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), responsável pelo Rodoanel, não havia especificado, no edital da concorrência, que tipo de serviço desejava contratar.
Essa falha poderia prejudicar os interessados no contrato e beneficiar eventuais portadores de informação privilegiada -empresas que tivessem acesso às tais especificações, com detalhes não apresentados pelo edital.
Depois que o caso foi revelado, a Panenge, orientada pela direção da Dersa, retirou a sua queixa do TCE. Os diretores da firma disseram que haviam recebido explicações convincentes dos responsáveis pela licitação.
O conselheiro escalado para cuidar do caso no tribunal, Antonio Roque Citadini, deu continuidade ao processo, mesmo com a desistência da Panenge. O objetivo, segundo informou, é apurar as irregularidades apontadas na representação da empresa.

Garotinho
No Rio, o Tribunal de Contas do Estado apontou uma série de irregularidades no processo da licitação do conjunto habitacional Nova Sepetiba, um dos principais atrativos eleitorais do governador Anthony Garotinho (PSB), pré-candidato à Presidência.
A concorrência vencida pela empreiteira Grande Piso Ltda, segundo o TCE, estava recheada de falhas. Ficou comprovado que a construtora não tinha condições de tocar as obras de 10 mil casas. Sem saída, o governador Anthony Garotinho foi obrigado a suspender o contrato.
Comandada até o início deste ano por Eduardo Cunha, ex-presidente da Telerj durante o governo Collor -apontado como um dos "operadores" do esquema PC Farias-, a Cehab, companhia de habitação do Rio, foi alvo também de outras acusações em obras espalhadas no Estado.
Em representação ao Ministério Público estadual, a deputada Cidinha Campos, presidente da comissão de obras públicas da Assembléia Legislativa, relatou o envolvimento de outro amigo de PC Farias, Jorge Osvaldo La Salvia, com as obras da Cehab.
La Salvia representava a Caci (Central de Administração de Créditos Imobiliários), que foi contratada pela Cehab para regularizar a sua carteira de créditos na Caixa Econômica Federal.
Também enfrenta problemas com a sua principal obra, a duplicação da BR-232, que liga o Recife a Caruaru, o governador peemedebista Jarbas Vasconcelos (leia texto na página 5).


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