São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CASO CELSO DANIEL

Carvalho nega ter pedido que governo acione STF contra comissão e cancele acareação

Assessor de Lula diz que vai à CPI com "coração aberto"

PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse ontem que irá de "coração aberto" à CPI dos Bingos, na semana que vem, para a acareação com os irmãos do prefeito Celso Daniel (PT), assassinado em janeiro de 2002.
Carvalho, que à época da morte de Daniel era secretário de Governo da Prefeitura de Santo André, aproveitou ontem um rápido contato com os jornalistas para desqualificar a tese de que estaria abalado por ter de enfrentar João Francisco e Bruno José Daniel. "Aqui não tem esse negócio de chorão, não", afirmou, sinalizando que está seguro para a acareação marcada para o dia 26.
Ontem, no Itamaraty, o chefe-de-gabinete da Presidência acompanhou a cerimônia de abertura de seminário internacional sobre o programa Bolsa Família. Ao ser abordado por jornalistas, demonstrou tranqüilidade, deu rápidas declarações e retornou ao Palácio do Planalto. Suas aparições em eventos são raras.
"Eu fui convocado e vou [à acareação]", afirmou, assim que foi cercado por jornalistas e questionado se, no governo, há algum tipo de articulação para cancelar o encontro na CPI dos Bingos. A comissão é alvo de críticas da base aliada e do Planalto por investigar casos de suspeita de corrupção em gestões municipais petistas.
Carvalho não quis polemizar em torno da CPI, mas admitiu haver setores do governo que defendem uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a mudança de foco na pauta da CPI. "Existem as conversas [de acionar o STF contra a CPI], mas não pedi nada", afirmou Carvalho, que completou: "Eu estou tranqüilo e de coração aberto".
Anteontem, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que qualquer partido ou parlamentar da base aliada pode entrar com recurso no STF contra a CPI, caso ela "extrapole suas funções".

Contradições
Tanto Carvalho como os irmãos de Celso Daniel já foram ouvidos pela CPI, que optou pela acareação -marcada para a próxima quarta-feira- por conta das contradições nos depoimentos. Bruno e João Francisco Daniel afirmam ter ouvido de Carvalho que havia arrecadação de propina de empresários da cidade para financiar campanhas de políticos petistas e que o dinheiro era levado pelo atual chefe-de-gabinete de Lula ao então presidente do partido, deputado federal José Dirceu. Carvalho e Dirceu negam.
A promotoria de São Paulo sustenta que o assassinato de Celso Daniel está ligado ao suposto esquema de arrecadação de propina em Santo André. O caso -aquecido pela CPI dos Bingos e pela morte ainda não explicada do legista Carlos Delmonte na semana passada- até hoje rende turbulência política ao governo e ao PT. Delmonte defendia que Daniel foi torturado antes de ser morto.
Ontem, Carvalho foi questionado se irá à acareação ainda como chefe-de-gabinete de Lula. "Isso é com o presidente", respondeu, sorrindo, enquanto via os jornalistas serem retirados do local pelos seguranças da Presidência.


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