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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO TESOUREIRO
Ex-tesoureiro ironiza "ingenuidade" de companheiros do partido e pergunta se imaginavam que dinheiro que usaram vinha do céu
Caixa 2 no PT é habitual e antigo, diz Delúbio
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Afirmando que, "em retribuição a uma vida de militância", está sendo vítima de um processo
"pautado por regras que dariam
inveja à ditadura militar", o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares,
fez duros ataques ao partido na
defesa que apresentou, há uma semana, para não ser expulso da legenda. No sábado, 22, a Comissão
de Ética do PT deve decidir pela
expulsão de Delúbio.
A tese central da defesa é a de
que não foi Delúbio o inventor do
caixa dois no PT. "Com exceção
da campanha presidencial de
2002, jamais vi outra cujos custos
fossem compatíveis com os declarados à Justiça Eleitoral", afirma.
Ele cita depoimentos de petistas
que testemunharam em sua defesa na comissão para confirmar
que o caixa dois é "prática antiga e
habitual" no PT. "O PT foi criado
para fazer revolução com inclusão social e na defesa da ética com
pureza que sabíamos que não
existia porque sabemos que desde
o começo tem caixa dois", diz
uma testemunha, cujo nome foi
preservado pelo ex-tesoureiro.
Delúbio diz que só arrecadou
recursos paralelos para saldar dívidas porque elas, como de hábito, foram feitas de forma paralela.
"É óbvio, para aqueles que não
querem adotar a hipocrisia como
razão de viver, que recursos destinados ao pagamento de despesas
não-contabilizadas não poderiam
ser registrados na contabilidade
do partido, independentemente
da minha vontade."
Delúbio afirma que apenas
atendeu "aqueles que me procuravam em busca de socorro", arrecadando dinheiro da forma
"possível e mais segura nas circunstâncias em que as dívidas me
foram apresentadas".
Papai Noel
O ex-tesoureiro afirma que seu
trabalho "beneficiou a todos, que
dele fizeram bom e silencioso
proveito". Diz ainda não se recordar "de que alguma preocupação
com a origem desses recursos tenha me sido transmitida". E, irônico, invoca a lembrança de Papai
Noel: "Respeito a ingenuidade.
Não sei, no entanto, de onde imaginavam que o dinheiro viria -se
do céu, num carro puxado por renas e conduzido por um senhor
vestido de vermelho".
Ele acusa o PT de ter se transformado "numa floresta de dedos
em riste, duros como pedra",
apontados contra ele. Mas afirma
que o nome dos que se beneficiaram de seu "trabalho" não "brotarão de minha boca, ainda que o
meu não saia das deles".
Ele julga que suas responsabilidades devem ser divididas com a
Executiva e com o Diretório Nacional do PT, que teriam estabelecido, de forma coletiva, metas incompatíveis com o caixa oficial
petista, como a informatização
dos diretórios e robustas campanhas municipais. "Ora, não se poderia imaginar que todas as metas
indicadas e que tinham como objetivo final "vencer as eleições" [...]
pudessem ser alcançadas sem
despesas de grande monta."
Afirmando que a Comissão de
Ética não tem interesse em buscar
a verdade, mas tão somente em
expulsá-lo para "purgar culpas
coletivas", Delúbio reclama da falta de interesse da mesma comissão em ouvir membros da Executiva do partido e de "publicitários
responsáveis pelas campanhas do
PT" nas eleições de 2002 e 2004
-caso de Duda Mendonça.
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