São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO TESOUREIRO

Ex-tesoureiro ironiza "ingenuidade" de companheiros do partido e pergunta se imaginavam que dinheiro que usaram vinha do céu

Caixa 2 no PT é habitual e antigo, diz Delúbio

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Afirmando que, "em retribuição a uma vida de militância", está sendo vítima de um processo "pautado por regras que dariam inveja à ditadura militar", o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, fez duros ataques ao partido na defesa que apresentou, há uma semana, para não ser expulso da legenda. No sábado, 22, a Comissão de Ética do PT deve decidir pela expulsão de Delúbio.
A tese central da defesa é a de que não foi Delúbio o inventor do caixa dois no PT. "Com exceção da campanha presidencial de 2002, jamais vi outra cujos custos fossem compatíveis com os declarados à Justiça Eleitoral", afirma.
Ele cita depoimentos de petistas que testemunharam em sua defesa na comissão para confirmar que o caixa dois é "prática antiga e habitual" no PT. "O PT foi criado para fazer revolução com inclusão social e na defesa da ética com pureza que sabíamos que não existia porque sabemos que desde o começo tem caixa dois", diz uma testemunha, cujo nome foi preservado pelo ex-tesoureiro.
Delúbio diz que só arrecadou recursos paralelos para saldar dívidas porque elas, como de hábito, foram feitas de forma paralela. "É óbvio, para aqueles que não querem adotar a hipocrisia como razão de viver, que recursos destinados ao pagamento de despesas não-contabilizadas não poderiam ser registrados na contabilidade do partido, independentemente da minha vontade."
Delúbio afirma que apenas atendeu "aqueles que me procuravam em busca de socorro", arrecadando dinheiro da forma "possível e mais segura nas circunstâncias em que as dívidas me foram apresentadas".

Papai Noel
O ex-tesoureiro afirma que seu trabalho "beneficiou a todos, que dele fizeram bom e silencioso proveito". Diz ainda não se recordar "de que alguma preocupação com a origem desses recursos tenha me sido transmitida". E, irônico, invoca a lembrança de Papai Noel: "Respeito a ingenuidade. Não sei, no entanto, de onde imaginavam que o dinheiro viria -se do céu, num carro puxado por renas e conduzido por um senhor vestido de vermelho".
Ele acusa o PT de ter se transformado "numa floresta de dedos em riste, duros como pedra", apontados contra ele. Mas afirma que o nome dos que se beneficiaram de seu "trabalho" não "brotarão de minha boca, ainda que o meu não saia das deles".
Ele julga que suas responsabilidades devem ser divididas com a Executiva e com o Diretório Nacional do PT, que teriam estabelecido, de forma coletiva, metas incompatíveis com o caixa oficial petista, como a informatização dos diretórios e robustas campanhas municipais. "Ora, não se poderia imaginar que todas as metas indicadas e que tinham como objetivo final "vencer as eleições" [...] pudessem ser alcançadas sem despesas de grande monta."
Afirmando que a Comissão de Ética não tem interesse em buscar a verdade, mas tão somente em expulsá-lo para "purgar culpas coletivas", Delúbio reclama da falta de interesse da mesma comissão em ouvir membros da Executiva do partido e de "publicitários responsáveis pelas campanhas do PT" nas eleições de 2002 e 2004 -caso de Duda Mendonça.


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