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Elio Gaspari
O RioCard Expresso é um pastel de vento
A $elvageria dos rodocratas
é coisa velha, a novidade é o governador festejar
um babilaque inútil
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O GOVERNADOR DO RIO, Sérgio Cabral Filho, e seu secretário de
Transportes, Júlio Lopes, participaram de uma tertúlia na Federação
das Empresas de Transportes. Lançaram o RioCard Expresso, um cartão
magnético que permite ao cidadão comprar por R$ 40 um crédito para andar de
ônibus, sem desconto. Um painel festejava o evento informando: "Tendência
mundial".
Empulhação a serviço do atraso, na
contramão do mundo. Não existe cartão
de transportes que embolse o dinheiro
do usuário sem oferecer algum bônus.
Festejaram o nada numa cidade onde vigora um regime de tarifas paleolíticas. Se
um sujeito pega um ônibus em Madureira, desce na Central e dali vai a Copacabana, desembolsa R$ 4. Em São Paulo,
com o Bilhete Único, paga R$ 3,50.
Um trabalhador que toma duas conduções para ir e vir de casa ao trabalho
durante 24 dias do mês paga R$ 192 no
Rio, R$ 168 em São Paulo e R$ 144 em
Nova York, onde pode usufruir de um
bônus de 20%.
A $elvageria dos rodocratas do Rio é
assunto velho. A novidade é o governador festejar um babilaque inútil. (Dão
uma passagem grátis a quem devolve o
cartão usado, o que equivale a um cascalho de 5%.) Quem ganha são as empresas
de ônibus, que faturam um adiantamento de receita.
Não é honesto comparar o RioCard
com os cartões de telefonia pré-pagos.
Os clientes das operadoras dispõem
de descontos de até 20% sobre as diversas modalidades de tarifas. No caso dos
ônibus do Rio, o freguês paga R$ 2,00
mesmo quando viaja nas madrugadas
de domingo.
Em São Paulo, há hoje 10,5 milhões
de usuários/dia do Bilhete Único. O desconto de 8% para clientes habituais do
Metrô (mimo cassado por Geraldo Alckmin e restabelecido por José Serra) chegou a 103 mil passageiros/dia em apenas seis meses.
A Fetranspor informa que em 2008
embutirá nos cartões um programa de
descontos. Viva. O Metrô do Rio, faz
tempo, diz a mesma coisa. Avoé. Em
janeiro passado, Sérgio Cabral prometeu
que, até o final de 2008, instituirá
o bilhete único na cidade. Aleluia, faltam
14 meses. Até lá, poderiam evitar empulhações.
DESTA VEZ O IMPOSTO SINDICAL PODE ACABAR
Com uma emenda de 34 palavras ao projeto que legitima
as centrais de trabalhadores,
o deputado Augusto Carvalho
(PPS-DF) iniciou uma das
maiores reformas do sindicalismo brasileiro. Acabou com
o Imposto Sindical. Sua proposta foi aprovada por 215 votos (com algum apoio do PT)
contra 161, e o texto vai ao Senado.
Desde o Estado Novo, cada
trabalhador do mercado formal privado tem um dia do
suor de seu rosto confiscado a
cada ano. É um ervanário de
R$ 1 bilhão que vai para um
panelão que financia burocracias federais e aparelhos sindicais. Com o novo texto,
quem quiser dar dinheiro ao
sindicato pode fazê-lo, voluntária e individualmente.
Quem preferir, gasta em outra coisa.
Com 53 anos, Augusto Carvalho tem 30 de militância no
movimento sindical e presidiu o Sindicato dos Bancários
de Brasília. Todos os barões
das centrais e do PT já defenderam o fim do imposto sindical, mas nunca fizeram nada
de bom para que isso acontecesse. Basta ouvir Lula, em janeiro de 1979: "Eu acho que o
imposto sindical acomodou
muito o sindicalismo brasileiro. A verdadeira fonte de recursos do sindicato deve ser
mesmo a categoria".
Substituindo-se o que é hoje o imposto sindical por uma
contribuição voluntária, começa uma nova discussão:
que direito têm as centrais de
arrecadar, compulsoriamente, outras taxas no contracheque dos trabalhadores, mesmo quando eles não são sindicalizadas? Talvez essa tunga
seja maior que a do imposto.
TRÊS E NOVE
Um veterano observador do
Senado fez uma conta: a oposição precisa de três votos para
derrubar a CPMF, e o governo,
de nove para aprová-la.
LLLULLLA
Passou pela mesa de um cardeal da oposição uma pesquisa
na qual havia uma pergunta
capciosa: se a economia estiver
bem, a a inflação continuar
controlada, Lula deveria disputar um terceiro mandato?
62% disseram que sim.
Na pesquisa CNT/Sensus,
diante de três opções neutras,
12,3% preferiram três mandatos. (45,7% preferiram um só
período, e 36,8% gostam de
dois.)
MAUS ESPÍRITOS
O comissariado vai mal de
espíritos. Passou seis meses
tomado por um exu feroz que
não admitia negociar a proposta de prorrogação da
CPMF. Agora que a conta ficou
feia, pede à oposição "espírito de
negociação".
Foi ao governo que faltou, e
ainda falta, desencarnar o Exu
Comissário.
BOA IDÉIA
Na busca de recursos para
cobrir a eventual falta de R$ 35
bilhões da CPMF, houve gente
no Planalto que olhou para as
arcas do Sistema S, que junta o
Senac, Senai, Sesc e Sebrae.
São R$ 11 bilhões anuais,
arrancados da folha de pagamento das empresas. A maior
parte desse dinheiro não passa
pelos controles do Sistema Integrado de Administração Financeira, o Siafi.
Há um palpite segundo o
qual, pela metade disso, pode-se manter todos os serviços sociais do Sistema.
GIRAFA
No dia 29 de dezembro de
2006, o governo do Estado de São Paulo prorrogou as
concessões de exploração de
dez rodovias privatizadas. Isso aconteceu 48 horas antes do fim do
mandato de Cláudio Lembo. (Ele informa que
não acompanhou o caso.) As
concessões foram expandidas
por prazos de até oito anos. Nenhuma delas estava próxima do
vencimento, que só ocorreria
em 2018. As da AutoBAn, cujas
rodovias são um brinco, foram
postergadas até 2026. O conjunto de fatores que permite
um cálculo da taxa de retorno
das concessionárias informa
que, pelo contrato de 1996, ela
estava em torno de 20% ao ano.
Na prorrogação, nenhum desses fatores foi renegociado. As
empresas sustentavam que o
aparecimento de novos tributos, bem como a exigência de
obras adicionais, demandavam
o reequilíbrio do trato.
Talvez tenham razão, mas a
coisa ficou meio girafa. Trocaram um custo por uma prorrogação do negócio, sem mexer
nos parâmetros que geravam a
expectativa de retorno médio
de 20%. A economia de 2006
não era a mesma de 1998. Ou o
contrato foi desrespeitado, prejudicando as empresas, ou ele
foi mal negociado pelo governo
paulista. Resultado: até 2018 a
patuléia pagará pedágios nos
quais continuarão embutidas
as incertezas de 1998.
BOA NOTÍCIA
A Agência Nacional de
Transportes Terrestres, ANTT
quer botar na internet as planilhas do fluxo de veículos em todas as rodovias privatizadas do
país. Pode demorar uns meses,
mas deve acontecer. Com esses
números será possível ver com
mais precisão a receita das concessionárias federais e estaduais.
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