São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Além das urnas


A historiada da escolha de Dilma para sucessora está em grande dependência do resultado paulistano

FEITA obedientemente a anotação, como Lula recomendou, de que "Marta vai ganhar", talvez não chegue a ser impertinente a anotação, também, de que o mais interessante nas eleições para prefeituras não é o que virá de bom ou ruim para os municípios. Na média, o padrão nacional das administrações não promete modificação. O mais interessante está na tão falada implicação destas eleições com a de presidente em 2010, mas não no sentido sempre mencionado, não porque os resultados determinem o balanço de forças para a disputa da sucessão. O mais interessante está no reflexo que os resultados finais venham a ter sobre a relação de Lula com 2010.
Nesse sentido, o peso de vitória ou derrota de Marta Suplicy excede muito o seu significado local. Os resultados do primeiro turno silenciaram as fartas convicções de que Lula "elegeria até um poste", com a força de seu recordista prestígio popular, mas a vitória em São Paulo as restabeleceria com redobrado vigor. A derrota, porém, resultaria em mais do que insucesso eleitoral.
Seja para valer ou apenas tática, a historiada da escolha de Dilma Rousseff para sucessora, por exemplo, está em grande dependência do resultado paulistano. Quem apostou e se empenhou na eleição de Marta não terá crédito, se derrotado, para convencer os aliados de que lhe basta inventar uma candidata para dominar sua sucessão. Ou, no mínimo, para controlar o jogo até que passe da tática à explicitação do projeto verdadeiro.
A menos, portanto, que tenha informações muito especiais ou um lance extraordinário para os últimos momentos da disputa, Lula está investindo em São Paulo mais do que lhe conviria. Um erro político para o qual o resultado do primeiro turno já o advertira, com a virada de Gilberto Kassab à frente de Marta Suplicy.
Com a vitória em São Paulo, Lula poderá obscurecer até as derrotas, se ocorrerem como as pesquisas sugerem, em Porto Alegre, Salvador e outras. Se a anotação que recomendou mostrar-se apenas um palpite infeliz, São Paulo transformará as derrotas em um bolo indigesto para Lula e seus sempre famintos aliados.

Por baixo
A campanha no Rio entrou em baixarias deploráveis, com apelações comprovadamente originárias de aliados de Eduardo Paes. Algumas delas, como panfletos distribuídos por toda a cidade, nem sequer são anônimas: estão assinadas por PT, PDT, PSB e PC do B. Como estas últimas não foram desautorizadas pelos partidos signatários, já haveria tempo de seus dirigentes estarem respondendo à Justiça Eleitoral.
Divulgar que Fernando Gabeira está comprometido com a continuidade de Cesar Maia é, pior do que mentira, insulto. A isso chegou o Cesar Maia que foi, revelado no primeiro governo Brizola, uma das boas promessas de político competente e inovador.

Milagre
"Quem assume riscos excessivos e irresponsáveis precisa ser punido" -é a determinação pessoal do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy, a propósito da crise financeira. Caso venha a ser também a determinação política será, aí sim, o tal mundo diferente que dizem seguir-se à crise.


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