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Traficante vende bem à igreja
da enviada especial a Tabatinga (AM)
A Diocese do Alto Solimões, comandada pelo bispo Alcimar Caldas Magalhães, comprou e transformou em centro de treinamento profissional a serraria que pertencia ao traficante Vicente Wilson Rivera Ramos, o ""Vicentico",
um dos líderes da Organização
Rivera, que está preso por tráfico
de cocaína em Manaus.
A compra foi negociada com o
traficante na prisão. Filho de mãe
católica e criado em Letícia (cidade interligada com Tabatinga), o
traficante frequentava a igreja.
Durante a construção da catedral
de Tabatinga, participou das
quermesses organizadas pelo bispo para levantar fundos e doou
cem sacos de cimento para a obra.
A diocese pagou R$ 150 mil pela
serraria, que estava fechada em
razão da prisão do traficante. Vicentico montou a serraria na
margem do rio Acuruí, afluente
do Solimões, com o propósito de
ocultar cocaína dentro de toras de
madeira para exportação.
O esquema foi descoberto pela
Polícia Federal em 89, quando interceptou o navio Amazon Sky,
com 4 t de cocaína pura escondida no interior das toras. A madeira havia sido preparada na serraria e os funcionários fugiram.
Hoje, serraria é administrada
por freis capuchinhos do convento de Amaturá (município do Alto Solimões) e forma mão-de-obra. A madeira é vendida apenas
no comércio local.
O bispo Alcimar Magalhães
conta que visitou Vicentico na penitenciária em Manaus. Ele diz
que o narcotráfico é encarado na
região como uma atividade normal, um meio de vida. ""Os valores
estão seriamente minados pela
fome, pela ausência de projeção
de futuro e de esperança", diz.
Dom Alcimar Magalhães atribui a situação na área à falta de alternativas econômicas. Ele diz
que a opção oferecida para a
Amazônia para substituir a extração da borracha foi a Zona Franca
de Manaus, o que, em sua avaliação, só trouxe problemas.
""Quem via um palmo adiante
do nariz migrou para a capital, e o
interior ficou ainda mais empobrecido", acrescenta. Ele diz que a
proibição de extração de madeira
na área (por se tratar de reserva
indígena) deixa a população sem
alternativa de ocupação.
O bispo considera que a extração deveria ser admitida nesse caso: ""A necessidade está acima da
lei. Quando uma população não
tem condição de cumprir a lei, ela
está dispensada da lei."
(EL)
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