São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Intelectuais do partido questionam qual é a linha que deve nortear a campanha presidencial e dizem que comunicação do governo é falha

Petistas já debatem discurso da eleição e criticam ação do BC

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Intelectuais do PT, reunidos anteontem no seminário "O PT e o Brasil", promovido pelas fundações Perseu Abramo e Friedrich Ebert, estavam angustiados, embora esperançosos. Eles questionaram a atuação do Banco Central, criticaram a política de comunicação do governo, "que não consegue demonstrar que este governo é diferente do anterior", e debateram qual discurso o PT irá apresentar nas eleições de 2006.
"Qual discurso vamos oferecer no ano que vem? Mais do mesmo? Continuidade sem continuísmo, como era o slogan da campanha do [José] Serra em 2002?", perguntava o cientista político Juarez Guimarães, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Se essas forem as mensagens, segundo ele, o PT perderá a eleição. "Precisamos anunciar uma nova etapa de transformação do Brasil. Vamos restaurar valores utópicos de falar com esperança para o povo."
O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, criticou a forma com a qual o governo se comunica com a sociedade. Para ele, "o governo é melhor do que aparece até mesmo para nós [para os petistas]". Garcia observou, contudo, que o principal problema não é a comunicação, propriamente dita, mas as ações políticas.
"Quando erramos na política, a tendência é tentar resolver o problema através de técnicas de comunicação", disse o assessor de Lula, sem mencionar, no entanto, o marqueteiro Duda Mendonça, responsável, até setembro, pela comunicação institucional da Presidência. "Temos um discurso conservador e isso faz com que se estabeleça que nosso governo é a continuidade do anterior, e não é." Garcia propôs que os petistas mudem o discurso.
Mas a comunicação não era a única preocupação dos intelectuais petistas. Sentado à mesma mesa que Garcia e Juarez, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp, disse estar convencido de que há "um ódio de classes" contra o PT. Na opinião de Belluzzo, "o estabilishment não suporta o Lula".
Essa visão de preconceito contra um presidente sindicalista foi compartilhada pela socióloga da USP Maria Victoria Benevides: "O Lula tem um conhecimento aprofundado das classes proletárias, mas pouco conhecimento do que são as classes dominantes".
Guimarães avalia que a oposição, sobretudo o PSDB e o PFL, "perderam o poder político, mas mantêm o poder real".
Apesar de elogiar Lula e de apontar dificuldades criadas para o presidente em razão do "ódio das classes", os intelectuais criticaram a política econômica adotada pelo governo.
A independência do Banco Central foi o principal alvo. Juarez Guimarães, por exemplo, bateu duro na condução do BC: "Logo que assumimos o poder, o primeiro ato nosso foi ceder o BC para os tucanos", lembrou.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, foi eleito deputado pelo PSDB de Goiás. Para Guimarães, Lula "está errado" quando diz que não se mete no Banco Central.
Belluzzo também atacou a taxa de juros adotada pelo governo. "Não havia nenhuma razão de ter esta política de juros", disse ele. "O Banco Central ficou com o controle da economia", atestou.
Para sintetizar o pensamento dos intelectuais, Marco Aurélio Garcia recorreu a uma frase escrita num muro no México. "Chega de realizações, queremos utopia."


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