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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Intelectuais do partido questionam qual é a linha que deve nortear a campanha presidencial e dizem que comunicação do governo é falha
Petistas já debatem discurso da eleição e criticam ação do BC
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Intelectuais do PT, reunidos anteontem no seminário "O PT e o
Brasil", promovido pelas fundações Perseu Abramo e Friedrich
Ebert, estavam angustiados, embora esperançosos. Eles questionaram a atuação do Banco Central, criticaram a política de comunicação do governo, "que não
consegue demonstrar que este governo é diferente do anterior", e
debateram qual discurso o PT irá
apresentar nas eleições de 2006.
"Qual discurso vamos oferecer
no ano que vem? Mais do mesmo?
Continuidade sem continuísmo,
como era o slogan da campanha
do [José] Serra em 2002?", perguntava o cientista político Juarez
Guimarães, professor da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Se essas forem as mensagens, segundo ele, o PT perderá
a eleição. "Precisamos anunciar
uma nova etapa de transformação do Brasil. Vamos restaurar
valores utópicos de falar com esperança para o povo."
O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
assuntos internacionais, Marco
Aurélio Garcia, criticou a forma
com a qual o governo se comunica com a sociedade. Para ele, "o
governo é melhor do que aparece
até mesmo para nós [para os petistas]". Garcia observou, contudo, que o principal problema não
é a comunicação, propriamente
dita, mas as ações políticas.
"Quando erramos na política, a
tendência é tentar resolver o problema através de técnicas de comunicação", disse o assessor de
Lula, sem mencionar, no entanto,
o marqueteiro Duda Mendonça,
responsável, até setembro, pela
comunicação institucional da
Presidência. "Temos um discurso
conservador e isso faz com que se
estabeleça que nosso governo é a
continuidade do anterior, e não
é." Garcia propôs que os petistas
mudem o discurso.
Mas a comunicação não era a
única preocupação dos intelectuais petistas. Sentado à mesma
mesa que Garcia e Juarez, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo,
professor da Unicamp, disse estar
convencido de que há "um ódio
de classes" contra o PT. Na opinião de Belluzzo, "o estabilishment não suporta o Lula".
Essa visão de preconceito contra um presidente sindicalista foi
compartilhada pela socióloga da
USP Maria Victoria Benevides:
"O Lula tem um conhecimento
aprofundado das classes proletárias, mas pouco conhecimento do
que são as classes dominantes".
Guimarães avalia que a oposição, sobretudo o PSDB e o PFL,
"perderam o poder político, mas
mantêm o poder real".
Apesar de elogiar Lula e de
apontar dificuldades criadas para
o presidente em razão do "ódio
das classes", os intelectuais criticaram a política econômica adotada pelo governo.
A independência do Banco
Central foi o principal alvo. Juarez
Guimarães, por exemplo, bateu
duro na condução do BC: "Logo
que assumimos o poder, o primeiro ato nosso foi ceder o BC para os tucanos", lembrou.
O presidente do BC, Henrique
Meirelles, foi eleito deputado pelo
PSDB de Goiás. Para Guimarães,
Lula "está errado" quando diz que
não se mete no Banco Central.
Belluzzo também atacou a taxa
de juros adotada pelo governo.
"Não havia nenhuma razão de ter
esta política de juros", disse ele.
"O Banco Central ficou com o
controle da economia", atestou.
Para sintetizar o pensamento
dos intelectuais, Marco Aurélio
Garcia recorreu a uma frase escrita num muro no México. "Chega
de realizações, queremos utopia."
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