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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO SANTO ANDRÉ
Instituto de Criminalística transcreve para a Justiça fitas com diálogos de personagens acusados de envolvimento na morte de Celso Daniel
Transcrição demonstra pressão de petistas
ANDRÉA MICHAEL
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O INC (Instituto Nacional de
Criminalística) entrega amanhã à
Justiça Federal em São Paulo a
transcrição oficial das 41 fitas do
caso Santo André, o mais novo
combustível da CPI dos Bingos.
O trabalho revelou indícios de
que houve corte, sobreposição e,
em pelo menos dois casos, duplicação de diálogos.
A ordem do juiz José Alexandre
Cassetari, titular da 4ª Vara da
Justiça Federal em São Paulo, determinou somente a transcrição
das gravações. Portanto, o INC
não apresentará laudo pericial relativo à identificação dos personagens dos diálogos nem sobre o
grau de integridade das fitas,
transcritas por uma força-tarefa
de policiais nos últimos 30 dias.
O conteúdo das fitas -também
encaminhadas pelo magistrado à
CPI dos Bingos- revela, nos diálogos entre personagens acusados
de envolvimento no assassinato
do prefeito Celso Daniel, que alguns deles desconfiavam do
grampo e aponta preocupação
em pressionar a polícia para evitar "politização" do caso.
Em um dos trechos, por exemplo, Gilberto Carvalho, atual chefe-de-gabinete de Lula, conversa
com o ex-secretário de Serviços
Urbanos da prefeitura Klinger de
Oliveira Souza. Carvalho diz:
"Ontem eu tive uma conversa
com o José Dirceu. Levei o João
Avamileno [vice de Celso Daniel]
comigo pra gente discutir nossa
tática. O partido vai entrar meio
pesado agora, viu?". E Klinger responde: "É. Eu vi as últimas declarações do Zé".
Em sua estratégia de defesa, os
petistas também buscam a linha
política. Levam o caso ao governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), e pedem ao então diretor-geral da PF, Agílio
Monteiro, apoio nas investigações, que eram conduzidas pela
Polícia Civil. As questões mais relevantes eram levadas, conforme
os diálogos, ao conhecimento de
Dirceu, que à época presidia o PT,
e ao então candidato a presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Rocha Mattos
Cassetari substituiu o juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos, que foi preso e condenado pela venda de sentenças judiciais.
Mattos foi o responsável pela decisão que determinou a destruição das fitas, após considerá-las
ilegais.
Conforme a decisão judicial, a
autorização que a PF usou para
grampear petistas foi concedida
para uma investigação sobre narcotráfico na favela Pantanal e não
relativa ao assassinato de Celso
Daniel. O grampo foi feito entre
janeiro e março de 2002 e, de fato,
revelou nomes de pessoas que foram posteriormente presas sob
acusação de participar do crime.
Mattos guardou cópia das gravações em seu gabinete funcional.
Cassetari, ao encontrá-las e sem
saber do que se tratava, determinou sua transcrição.
Combustível
Agora, os diálogos serviram,
por exemplo, para Klinger confirmar à CPI na última semana ter
havido uma tentativa de pressionar as investigações da polícia e a
imprensa para evitar politizar a
morte do prefeito. Segundo Klinger, nessa tentativa ajudou Gilberto Carvalho, que também foi
secretário em Santo André.
As fitas também foram usadas
por senadores no depoimento do
empresário Sérgio Gomes da Silva, considerado pelo Ministério
Público como mandante da morte de Celso Daniel. O empresário
nega, dizendo ter sido "vítima" da
quadrilha que seqüestrou o prefeito quando estavam juntos.
"As degravações estão sendo
avaliadas. Mostram uma linha de
que pessoas ligadas ao prefeito
Celso Daniel estavam preocupadas em criar uma série de aparências, até com atitudes cínicas", diz
o relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).
O relator afirma ainda ter "convicção" de que o crime foi planejado. A CPI dos Bingos incluiu o
caso de Santo André nas investigações por haver suspeitas de que
o assassinato tenha motivações
políticas. A comissão também
apura denúncias de um suposto
esquema de arrecadação de propina de empresas de lixo e transporte pela prefeitura para campanhas políticas do PT.
Um dos diálogos gravados faz
referência a uma entrega de "numerário" (dinheiro), na sede da
Prefeitura de Santo André, sem
dizer a razão da encomenda.
Em julho de 2002, a Folha teve
acesso às transcrições feitas na
época. O trabalho indicava como
personagens desse diálogo Klinger e o então secretário da Saúde
de Santo André, Michel Mindrisz.
Na quarta-feira, será a vez de a
comissão ouvir a empresária Rosângela Gabrilli, que pertence a
uma das empresas de transporte
de Santo André. A família Gabrilli
denunciou, logo após a morte do
prefeito, a suposta existência do
esquema de propina.
Chamado de "caixinha do
transporte" pela CPI, o esquema
consistiria em cada empresa contribuir com valores calculados de
acordo com o número de veículos
e a tarifa cobrada.
Parte do dinheiro seria depositada na conta de Gomes da Silva,
como apontam recibos apresentados à comissão. O empresário
nega. Por isso, mesmo com o depoimento de quarta, Rosângela
deve voltar à CPI para uma acareação com Gomes da Silva, Klinger e o empresário Ronan Maria
Pinto, também acusado pelo Ministério Público de participar do
esquema de arrecadação.
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