São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA
SÉRGIO GUERRA


Em 2010 só ganharemos com união de Serra e Aécio

Novo presidente do PSDB diz que "não será árbitro" da disputa entre os dois candidatos e quer aliança com o DEM

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O SENADOR Sérgio Guerra (PE), 60, assume nesta sexta a direção do PSDB afirmando que "não será árbitro" de uma disputa entre José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) em 2010, mas diz que só uma "união real" dos dois pode reconduzir o partido ao Planalto. Ex-deputado estadual e federal, ele é tido como um "conciliador".

FOLHA - O PSDB vem de duas derrotas à Presidência e perdeu espaço no Congresso. Qual é o seu desafio?
SÉRGIO GUERRA -
Fazer o partido ter dimensão nacional, fazê-lo forte onde é fraco. No Rio, somos um partido menor do que deveríamos ser, e também no Nordeste. Não é só montar o partido, tem que gerar participação e conquistar espaços institucionais, mandatos de deputados estaduais, prefeitos e vereadores. É preciso uma identificação maior com a massa.

FOLHA - Como ampliar o espaço no Nordeste, onde Lula é muito forte?
GUERRA -
É claro que tem o Lula, tem o Bolsa Família. Porém essa liderança no Nordeste é muito concentrada na figura do presidente e não no seu partido. Não foi o PT que estabeleceu esse quadro de predomínio eleitoral. A dependência do eleitorado mais pobre nordestino não é fato novo. O Bolsa Família é usado no Nordeste pelo governo como os coronéis usavam a distribuição de água.

FOLHA - E como o PSDB pretende romper essa dependência?
GUERRA -
Com compromissos coerentes de redução da desigualdade. O governo atual não tem ação transformadora no Nordeste, os projetos são na garganta, não saíram do papel. O PSDB tem de avançar, mostrar o que realiza com amplo alcance em Minas e São Paulo.

FOLHA - Em 2006 Alckmin foi atingido pelo discurso de que o PSDB é privatista. Como lidar com isso?
GUERRA -
É um falso dilema, é mais uma provocação. Temos que assumir essa questão com muita clareza e naturalidade. O PSDB é coerente, nossas opiniões sobre o Brasil estão sendo atualizadas, mas não desconsideradas, como fez o PT quando virou governo. Na campanha, o PT disseminou por meio das instituições aparelhadas que iríamos privatizar o Banco do Brasil e a Petrobras. Foi ação terrorista que ocorreu na propaganda e na base da sociedade.

FOLHA - O PSDB reformulado ficará mais perto ou mais longe do DEM?
GUERRA -
O brasileiro não espera de nós radicalização. O DEM está organizando seu partido pelo caminho que escolheram. Mas não há contradição entre o que os eles dizem e o que nós defendemos. Sem dúvida, é o nosso aliado mais importante.

FOLHA - Em 2008 estarão juntos?
GUERRA -
Vamos nos encontrar sempre.

FOLHA - Em sua gestão haverá a escolha do candidato a presidente. Como arbitrar a disputa Serra-Aécio?
GUERRA -
Não serei árbitro dessa briga, não teria legitimidade para isso. E não acredito nela, acho que teremos muito mais facilidade para resolver essa questão agora do que tivemos na eleição passada.

FOLHA - Por quê?
GUERRA -
Há uma óbvia e consistente convergência política e eleitoral entre Minas e São Paulo. E só temos chance de ganhar com a união real, e não superficial, dos dois Estados.

FOLHA - A chapa Serra-Aécio?
GUERRA -
Não necessariamente. Penso que os dois vão trabalhar juntos pela vitória. Não tenho dúvida de que os dois governadores poderão se apoiar. Os próximos anos serão marcados por um esforço intenso de solidariedade. Faltou solidariedade na última eleição.

FOLHA - O que espera para 2010?
GUERRA -
O governo terá mais de um candidato. Não tenho capacidade de prever o que vai fazer o PMDB, e nós vamos ter o nosso candidato, muito forte.

FOLHA - E o que o PSDB pretende oferecer até lá?
GUERRA -
O PSDB governou o Brasil de forma exitosa, a avaliação do governo FHC será reconhecida na sua devida dimensão com o tempo. Sem o governo FHC nada do que tem dado certo teria a chance de acontecer. Nossos governos estaduais são especiais. O populismo lulista carrega em si o conteúdo da crise política.

FOLHA - Mas houve a reeleição.
GUERRA -
A reeleição era provável. Mesmo assim, sobre essa história de que o presidente Lula é blindado, estivemos a poucos pontos dele na campanha de Alckmin. E não foi pela montanha de dinheiro que apareceu, que até hoje ninguém sabe de onde veio. Nas próximas eleições o candidato do PSDB dirá aos brasileiros: "Nós sabemos governar, não vamos prometer o que não faremos e não vamos enganar ninguém". Poder dizer isso com coerência e sustentabilidade é muita coisa.

FOLHA - O presidente Lula pode viabilizar um novo mandato?
GUERRA -
Sempre acreditei que Lula, que se deu bem com a democracia, não era candidato a "ditadorzinho" da América Latina. Mas confesso que, com as declarações dele sobre a Venezuela, acendeu a luz amarela. Se eles tiverem chance, vão tentar o terceiro mandato.

FOLHA - E se isso ocorresse?
GUERRA -
Aí ninguém vai discutir uma candidatura ou outra, vamos discutir se há democracia ou não no Brasil. Não acredito que um país com a consistência democrática do Brasil, que elegeu um operário do Nordeste presidente, que teve uma transição limpa em 2002, avance na criação de qualquer forma de chavismo. Se forem atrás disso vão quebrar a cara.


Texto Anterior: Ministro vê moeda comum "a médio prazo"
Próximo Texto: Minas: Aécio ganha cartaz de "campanha" pelo planalto em 2010
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.