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ENTREVISTA
SÉRGIO GUERRA
Em 2010 só ganharemos com união de Serra e Aécio
Novo presidente do PSDB diz que "não será árbitro" da disputa entre os dois candidatos e quer aliança com o DEM
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O
SENADOR Sérgio Guerra (PE), 60, assume
nesta sexta a direção do PSDB afirmando
que "não será árbitro" de uma disputa entre José Serra (SP) e Aécio Neves (MG)
em 2010, mas diz que só uma "união real" dos dois pode reconduzir o partido ao Planalto. Ex-deputado estadual e federal, ele é tido como um "conciliador".
FOLHA - O PSDB vem de duas derrotas à Presidência e perdeu espaço
no Congresso. Qual é o seu desafio?
SÉRGIO GUERRA - Fazer o partido
ter dimensão nacional, fazê-lo
forte onde é fraco. No Rio, somos um partido menor do que
deveríamos ser, e também no
Nordeste. Não é só montar o
partido, tem que gerar participação e conquistar espaços institucionais, mandatos de deputados estaduais, prefeitos e vereadores. É preciso uma identificação maior com a massa.
FOLHA - Como ampliar o espaço no
Nordeste, onde Lula é muito forte?
GUERRA - É claro que tem o Lula, tem o Bolsa Família. Porém
essa liderança no Nordeste é
muito concentrada na figura do
presidente e não no seu partido. Não foi o PT que estabeleceu esse quadro de predomínio
eleitoral. A dependência do
eleitorado mais pobre nordestino não é fato novo. O Bolsa
Família é usado no Nordeste
pelo governo como os coronéis
usavam a distribuição de água.
FOLHA - E como o PSDB pretende
romper essa dependência?
GUERRA - Com compromissos
coerentes de redução da desigualdade. O governo atual não
tem ação transformadora no
Nordeste, os projetos são na
garganta, não saíram do papel.
O PSDB tem de avançar, mostrar o que realiza com amplo alcance em Minas e São Paulo.
FOLHA - Em 2006 Alckmin foi atingido pelo discurso de que o PSDB é
privatista. Como lidar com isso?
GUERRA - É um falso dilema, é
mais uma provocação. Temos
que assumir essa questão com
muita clareza e naturalidade. O
PSDB é coerente, nossas opiniões sobre o Brasil estão sendo
atualizadas, mas não desconsideradas, como fez o PT quando
virou governo. Na campanha, o
PT disseminou por meio das
instituições aparelhadas que
iríamos privatizar o Banco do
Brasil e a Petrobras. Foi ação
terrorista que ocorreu na propaganda e na base da sociedade.
FOLHA - O PSDB reformulado ficará
mais perto ou mais longe do DEM?
GUERRA - O brasileiro não espera de nós radicalização. O DEM
está organizando seu partido
pelo caminho que escolheram.
Mas não há contradição entre o
que os eles dizem e o que nós
defendemos. Sem dúvida, é o
nosso aliado mais importante.
FOLHA - Em 2008 estarão juntos?
GUERRA - Vamos nos encontrar
sempre.
FOLHA - Em sua gestão haverá a escolha do candidato a presidente. Como arbitrar a disputa Serra-Aécio?
GUERRA - Não serei árbitro dessa briga, não teria legitimidade
para isso. E não acredito nela,
acho que teremos muito mais
facilidade para resolver essa
questão agora do que tivemos
na eleição passada.
FOLHA - Por quê?
GUERRA - Há uma óbvia e consistente convergência política e
eleitoral entre Minas e São
Paulo. E só temos chance de ganhar com a união real, e não superficial, dos dois Estados.
FOLHA - A chapa Serra-Aécio?
GUERRA - Não necessariamente. Penso que os dois vão trabalhar juntos pela vitória. Não tenho dúvida de que os dois governadores poderão se apoiar.
Os próximos anos serão marcados por um esforço intenso de
solidariedade. Faltou solidariedade na última eleição.
FOLHA - O que espera para 2010?
GUERRA - O governo terá mais
de um candidato. Não tenho capacidade de prever o que vai fazer o PMDB, e nós vamos ter o
nosso candidato, muito forte.
FOLHA - E o que o PSDB pretende
oferecer até lá?
GUERRA - O PSDB governou o
Brasil de forma exitosa, a avaliação do governo FHC será reconhecida na sua devida dimensão com o tempo. Sem o
governo FHC nada do que tem
dado certo teria a chance de
acontecer. Nossos governos estaduais são especiais. O populismo lulista carrega em si o
conteúdo da crise política.
FOLHA - Mas houve a reeleição.
GUERRA - A reeleição era provável. Mesmo assim, sobre essa
história de que o presidente
Lula é blindado, estivemos a
poucos pontos dele na campanha de Alckmin. E não foi pela
montanha de dinheiro que apareceu, que até hoje ninguém sabe de onde veio. Nas próximas
eleições o candidato do PSDB
dirá aos brasileiros: "Nós sabemos governar, não vamos prometer o que não faremos e não
vamos enganar ninguém". Poder dizer isso com coerência e
sustentabilidade é muita coisa.
FOLHA - O presidente Lula pode
viabilizar um novo mandato?
GUERRA - Sempre acreditei que
Lula, que se deu bem com a democracia, não era candidato a
"ditadorzinho" da América Latina. Mas confesso que, com as
declarações dele sobre a Venezuela, acendeu a luz amarela.
Se eles tiverem chance, vão tentar o terceiro mandato.
FOLHA - E se isso ocorresse?
GUERRA - Aí ninguém vai discutir uma candidatura ou outra,
vamos discutir se há democracia ou não no Brasil. Não acredito que um país com a consistência democrática do Brasil,
que elegeu um operário do
Nordeste presidente, que teve
uma transição limpa em 2002,
avance na criação de qualquer
forma de chavismo. Se forem
atrás disso vão quebrar a cara.
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