São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Documento revela embate de juiz e procurador

ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento sigiloso da Justiça Federal de São Paulo revela que estão em pé de guerra as principais autoridades envolvidas no inquérito que investiga o vazamento de informações sobre a Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Em despacho do dia 13, o juiz federal Ali Mazloum acusa o procurador da República Roberto Dassié Diana de tentar desqualificar o inquérito ao levantar suspeitas de que a PF quebrou, sem autorização judicial, o sigilo telefônico de jornalistas que acompanharam o desenvolvimento da operação.
"A intenção malsã de induzir a imprensa ao erro teve, ao que tudo indica, o objetivo de desqualificar a investigação realizada nesses autos e constranger a autoridade policial e agentes que atuam no inquérito", diz um trecho.
A Folha revelou no início do mês que o Ministério Público Federal investiga a quebra ilegal do sigilo de aparelhos Nextel usados nos locais em que foram feitas as principais prisões, com o objetivo de identificar os números usados por jornalistas da Rede Globo.
Mazloum, no documento, diz que o procurador acusa sem fundamento. Segundo ele, a Justiça "instou o Ministério Público a indicar quaisquer elementos que pudessem abonar a alegação para que providências pudessem ser adotadas, mas nada foi fornecido".
A Justiça e a PF negam a acusação, e dizem que o pedido feito à Nextel solicitou à operadora só a localização de antenas que cobrem quatro endereços em que a PF prendeu suspeitos -os mesmo onde equipes da Globo esperavam os agentes.
O procurador Dassié não foi localizado ontem. Quarta-feira, em depoimento à CPI dos Grampos, ele tentou desqualificar o argumento apresentado pela PF: "A existência de antenas e a localização podem ser obtidas no site da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)", disse.
Responsável pelo inquérito, o delegado Amaro Vieira Ferreira, da Corregedoria da Polícia Federal, que falou à CPI em seguida, afirmou que a denúncia é uma "invenção".
O despacho do juiz Mazloum, da 7ª Vara Federal Criminal, autorizou a prorrogação por 90 dias do inquérito, que também apura o vazamento de informações sobre a Satiagraha à Folha e a participação ilegal de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nas investigações.

Telefones
De acordo com o documento, a cúpula da PF não soube informar que agentes utilizaram os 55 telefones Nextel alugados para o dia operação. Segundo ofício da polícia, os telefones foram distribuídos aos agentes escalados pelo delegado Protógenes Queiroz.
Protógenes é acusado de esconder os detalhes da operação de seus superiores e, ao mesmo tempo, vazar as informações à Globo. Na gravação da reunião em que ele foi afastado do caso, no dia 14 de julho, os dirigentes o acusam de ser o autor de tais vazamentos.
O superintendente da PF em São Paulo, Leandro Coimbra, diz que não tem como explicar aos seus superiores como a TV Globo chegou aos locais de prisão antes dos agentes: "É feio, é muito feio para a Polícia Federal", disse ele: "Fiquei sabendo [da operação] cinco minutos antes de sair na imprensa. Isso é muito ruim para o superintendente (...) Quase que os diretores e o diretor-geral foram informados pela imprensa, o que é muito triste".


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