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Documento revela embate de juiz e procurador
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documento sigiloso da Justiça Federal de São Paulo revela
que estão em pé de guerra as
principais autoridades envolvidas no inquérito que investiga o
vazamento de informações sobre a Operação Satiagraha, da
Polícia Federal.
Em despacho do dia 13, o juiz
federal Ali Mazloum acusa o
procurador da República Roberto Dassié Diana de tentar
desqualificar o inquérito ao levantar suspeitas de que a PF
quebrou, sem autorização judicial, o sigilo telefônico de jornalistas que acompanharam o desenvolvimento da operação.
"A intenção malsã de induzir
a imprensa ao erro teve, ao que
tudo indica, o objetivo de desqualificar a investigação realizada nesses autos e constranger a autoridade policial e agentes que atuam no inquérito",
diz um trecho.
A Folha revelou no início do
mês que o Ministério Público
Federal investiga a quebra ilegal do sigilo de aparelhos Nextel usados nos locais em que foram feitas as principais prisões,
com o objetivo de identificar os
números usados por jornalistas da Rede Globo.
Mazloum, no documento,
diz que o procurador acusa sem
fundamento. Segundo ele, a
Justiça "instou o Ministério
Público a indicar quaisquer
elementos que pudessem abonar a alegação para que providências pudessem ser adotadas, mas nada foi fornecido".
A Justiça e a PF negam a acusação, e dizem que o pedido feito à Nextel solicitou à operadora só a localização de antenas
que cobrem quatro endereços
em que a PF prendeu suspeitos
-os mesmo onde equipes da
Globo esperavam os agentes.
O procurador Dassié não foi
localizado ontem. Quarta-feira,
em depoimento à CPI dos
Grampos, ele tentou desqualificar o argumento apresentado
pela PF: "A existência de antenas e a localização podem ser
obtidas no site da Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações)", disse.
Responsável pelo inquérito,
o delegado Amaro Vieira Ferreira, da Corregedoria da Polícia Federal, que falou à CPI em
seguida, afirmou que a denúncia é uma "invenção".
O despacho do juiz Mazloum, da 7ª Vara Federal Criminal, autorizou a prorrogação
por 90 dias do inquérito, que
também apura o vazamento de
informações sobre a Satiagraha
à Folha e a participação ilegal
de agentes da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência) nas
investigações.
Telefones
De acordo com o documento,
a cúpula da PF não soube informar que agentes utilizaram os
55 telefones Nextel alugados
para o dia operação. Segundo
ofício da polícia, os telefones
foram distribuídos aos agentes
escalados pelo delegado Protógenes Queiroz.
Protógenes é acusado de esconder os detalhes da operação
de seus superiores e, ao mesmo
tempo, vazar as informações à
Globo. Na gravação da reunião
em que ele foi afastado do caso,
no dia 14 de julho, os dirigentes
o acusam de ser o autor de tais
vazamentos.
O superintendente da PF em
São Paulo, Leandro Coimbra,
diz que não tem como explicar
aos seus superiores como a TV
Globo chegou aos locais de prisão antes dos agentes: "É feio, é
muito feio para a Polícia Federal", disse ele: "Fiquei sabendo
[da operação] cinco minutos
antes de sair na imprensa. Isso
é muito ruim para o superintendente (...) Quase que os diretores e o diretor-geral foram informados pela imprensa, o que
é muito triste".
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