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Comissão de Anistia quer pesquisar ligações entre empresas e ditadura
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça,
quer detalhar em pesquisa o
apoio dado por empresas privadas à ditadura militar (1964-1985) no Brasil. O tema deve fazer parte de 18 estudos a serem
elaborados a partir de 2009.
De acordo com o presidente
da comissão, Paulo Abrão, estudiosos serão contratados para
elaborar documentos sobre temas variados, entre eles "a participação da sociedade civil" na
ditadura militar.
"Nós vamos contratar algumas pesquisas específicas sobre essa teia de perseguição que
extrapolou e muito a ação do
próprio Estado, como a Oban
[Operação Bandeirantes]", disse Abrão, durante o Seminário
Latino-Americano de Justiça
de Transição, na sede do Arquivo Nacional, no Rio.
A Oban foi uma articulação
governamental, criada em 1969
e financiada por empresários,
para combater os oposicionistas políticos.
Abrão deu a declaração após
ser questionado por um conferencista sobre se o Brasil pretende responsabilizar empresas privadas que deram apoio à
ditadura no país.
"A comissão não tem competência efetiva de investigar esses fatos, mas no meio do projeto do Memorial [de Anistia Política] ela procurará desenvolver resultados a partir do acervo dos processos da Comissão
de Anistia", respondeu Abrão.
Questionado pela Folha,
Abrão disse que o recorte temático da pesquisa ficará sob
responsabilidade dos pesquisadores, mas que "possivelmente" as ligações entre empresas e
a ditadura seria um dos temas.
De acordo com Abrão, os relatos que ouviu de perseguidos
políticos na comissão indicam
que empresas participaram ativamente do regime militar.
"O que eu tenho conhecimento são relatos de que federações de indústria mantinham listas com nomes de trabalhadores considerados subversivos ou comunistas e que
compartilhavam essas informações no sentido de não se
permitir que eles fossem empregados após suas demissões
de outras empresas."
A Folha apurou que já há alguns temas definidos. São eles:
guerrilha do Araguaia, movimento estudantil, luta feminista, movimento operário e militares perseguidos. A comissão
está tentando financiamento
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
para o projeto do Memorial da
Anistia Política.
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