São Paulo, sábado, 21 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO
Objetivo é saber se houve favorecimento em gestões petistas a empresário que depositou cheque na conta de Lula
Delegado investiga desapropriações no ABC

XICO SÁ
da Reportagem Local

O delegado da Polícia Civil Pedro José Liberal -que comanda o inquérito que apura supostas irregularidades na compra do apartamento do candidato derrotado à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva- investiga 37 processos de desapropriação de lotes em São Bernardo do Campo, região do ABC.
O objetivo é saber se houve favorecimento por parte de gestões petistas na prefeitura da cidade ao empreiteiro Dalmiro Lorenzoni ou ao advogado Roberto Teixeira, amigo que orientou o candidato derrotado do PT à Presidência na compra do imóvel, em 1995.
Ao pedir a abertura do inquérito sobre a compra, o Ministério Público estadual solicitou investigações sobre o suposto favorecimento a Lorenzoni, dono da construtora que ergueu o prédio onde o petista possui o apartamento.
De acordo com o deputado estadual Campos Machado (PTB), autor da representação com pedido de apuração ao Ministério Público, Teixeira faria parte de um esquema que controlava desapropriações em São Bernardo.
Entre os casos, poderia ser localizado o próprio terreno onde foi construído o edifício Green Hill, na avenida Francisco Prestes Maia, endereço de Lula.

Cheque
Outro ponto da investigação, um cheque de R$ 10 mil encontrado na conta do candidato derrotado do PT, também tem em comum os nomes do empreiteiro, de Roberto Teixeira e de Lula.
O cheque, segundo depoimento do petista à Seccional da Polícia Civil de São Bernardo, foi depositado por Teixeira, em julho de 95.
O advogado depôs ontem e também confirmou essa mesma versão (leia texto nesta página).
Para o delegado, o depósito, aparentemente, é um "problema menor" dentro do inquérito.
Em depoimento à polícia, Lorenzoni disse que apenas repassou o cheque para Roberto Teixeira, resultado de uma dívida relativa a serviços de advocacia.
Ontem, a Folha tentou falar com o advogado, mas não obteve resposta às ligações telefônicas feitas para o seu escritório em São Bernardo do Campo.

Contrato do terreno Questionado desde a campanha eleitoral sobre a origem dos recursos para a compra do imóvel, Lula disse que havia vendido um automóvel Omega, por R$ 40 mil, e mais um terreno (herança da sua mulher Marisa) por R$ 72 mil.
Teixeira disse que comprou o carro, e o empresário Samir Ali Laila, dono de empresas de fabricação e venda de móveis em São Bernardo, contou que adquiriu o terreno do petista, de quem é amigo. Como a transação comercial do terreno não foi registrada em cartório, a polícia deverá requisitar cópia de um suposto contrato particular que Lula e o empresário dizem ter feito.
O documento comprovaria o que o petista, além do próprio Roberto Teixeira, disseram em várias entrevistas.
Até o momento, o contrato teria sido entregue, com o pedido de sigilo, à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). A Folha tentou obter o documento, mas as entidades informaram que só seria possível com autorização do PT.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.