São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Ministério completo será anunciado segunda, sem a presença do PMDB

Sob pressão, Lula veta acordo com PMDB e desgasta Dirceu

Antônio Gaudério/Folha Imagem
José Dirceu com o presidente eleito, Lula, durante o anúncio de ministros da área social


RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pressões internas de petistas e da ala oposicionista do PMDB levaram o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, a rechaçar o acordo que previa a entrega de dois ministérios do novo governo aos peemedebistas.
Acerto entre o futuro chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), havia definido que seriam destinados ao partido os ministérios de Minas e Energia e da Integração Nacional.
A pasta de Minas e Energia acabou ficando com a petista Dilma Rousseff (RS), ex-secretária da área no governo de Olívio Dutra (PT-RS). Seu nome foi anunciado pelo presidente eleito ontem, durante cerimônia em hotel em São Paulo, quando Lula também confirmou futuros ministros da área social.
A decisão de Lula expôs o futuro chefe da Casa Civil, tido como o homem forte do governo, e o comando do PMDB, que entrou em uma negociação por cargos sem definir antes uma agenda de compromissos de governo.
Anteontem, ao final da tarde, Dirceu havia publicamente anunciado o acordo. "O presidente do PMDB e eu, em nome da montagem do governo, chegamos a uma proposta comum", declarou.
Às 12h de ontem, Dirceu ligou para Temer para dizer que não tinha condições de cumprir o acertado na véspera. Contou que passara a madrugada tentando contornar "resistências", sem êxito.
No PT, havia quem achasse que dois ministérios para o PMDB eram mais do que deveria caber a um partido em conflito constante.
Em um hotel de Brasília, onde Dirceu se encontrou com Lula para relatar o acordo e pedir sua chancela, começaram a ser recebidos telefonemas de peemedebistas que apoiaram o petista desde o primeiro turno, bombardeando os nomes acertados com Temer -o do deputado federal Eunício de Oliveira (CE), do senador eleito Hélio Costa (MG) e o do senador Pedro Simon (RS).
Percebendo que as nomeações não lhe assegurariam o apoio integral e não conflituoso do PMDB, Lula decidiu implodir o acordo negociado por Dirceu.
Recusando-se a responder perguntas dos jornalistas, o futuro ministro fez um relato curto de sua conversa com Temer ontem.
"Comuniquei que o ministério será anunciado segunda-feira sem a participação do PMDB. Apesar dos nossos esforços comuns, do deputado Michel Temer e eu mesmo, de chegarmos a uma proposta comum e levarmos essa proposta à apreciação do presidente e do PT, não foi possível chegar a um acordo", resumiu.
Na conversa, Temer perguntou a Dirceu se Lula iria escolher algum peemedebista "avulso" para o ministério. "Seria a guerra", advertiu. Dirceu teria respondido: "De jeito nenhum". Fez uma ressalva: o economista Carlos Lessa, que deve presidir o BNDES, mas na cota pessoal de Lula.
Temer divulgou uma nota para tentar deixar explícito que o PMDB fora procurado. Em conversas com integrantes do comando peemedebista, disse que as negociações com o PT estão definitivamente encerradas. "Por falta de confiabilidade", disse a um interlocutor.
Já Dirceu tentou deixar em aberto a possibilidade de entendimento em temas pontuais: "Vamos, após as Festas, retomar a relação político-institucional com o PMDB, porque temos em comum uma agenda no Congresso Nacional e a eleição das mesas da Câmara e do Senado".
O líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), resumiu o sentimento do PMDB: "A desautorização ao futuro ministro-chefe da Casa Civil é grave. Temos de torcer para que não haja uma desautorização dessa natureza ao ministro Antonio Palocci [Filho, da Fazenda], porque aí será o caos".
No PMDB, bombardearam o acordo o ex-governador Orestes Quércia (SP), que queria emplacar o nome de José Aristodemo Pinotti para o Ministério da Saúde, o governador eleito do Paraná, Roberto Requião, e o senador José Sarney (AP), que se opõem ao atual comando partidário. São minoritários, mas esperam controlar a sigla com a ajuda do PT.
A adesão dos 74 deputados do PMDB garantiria maioria congressual folgada ao PT. O presidente do PSDB, José Aníbal (SP), vai agora procurar o PMDB para discutir a possibilidade de formar um bloco partidário.


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