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BASTIDOR
Má imagem do PMDB influenciou decisão de Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro fatores pesaram muito
na decisão do presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de
minar a negociação para dar ao
PMDB dois ministérios (Integração Nacional e Minas e Energia):
1) Temor de manchar a formação de sua equipe devido à má
imagem de setores do partido.
Por medo de "manchar o ministério", expressão de membro da cúpula petista, leia-se o caso do deputado Pinheiro Landim (PMDB-CE), acusado de negociar favores
jurídicos a narcotraficantes, e a
crônica marca de fisiologia de
parte da sigla. Lula ouviu críticas
dentro do PT à negociação com o
PMDB. Mais: achou que negociar
com todo o PMDB deixaria seus
aliados peemedebistas insatisfeitos, premiando inimigos.
2) Fortalecer o grupo que votou
nele e enfraquecer a ala que optou
por José Serra (PSDB). Nos últimos dias, Lula ouviu a opinião de
políticos importantes, inclusive
do PMDB, como o governador
eleito Roberto Requião (PR), para
não dar guarida ao grupo serrista.
Apesar de o futuro ministro da
Casa Civil, José Dirceu, ter dito ao
presidente do PMDB e expoente
do grupo serrista, Michel Temer,
que o PT não faria convites individuais ao partido, Lula pretende
dar munição (cargos e influência)
à ala que o apoiou.
Exemplo: o economista Carlos
Lessa, futuro presidente do
BNDES, já recebeu sinal do PT
para que mantenha a filiação ao
PMDB. Assim, o PT dirá que sua
nomeação também terá um ingrediente de cota partidária.
Há possibilidade de escolha de
um ministro peemedebista, que
Lula indicaria em "caráter pessoal", apesar de acertar o nome
com o grupo que o apóia.
3) Para Lula, há tempo para ajudar os lulistas do PMDB a virarem
maioria no partido. No diagnóstico petista, a única grande batalha
congressual do primeiro semestre
será a eleição para as presidências
da Câmara e do Senado. O PT
pretende eleger o líder do partido
na Câmara, João Paulo Cunha
(SP), presidente da Casa. Para isso, poderá honrar um acordo
com o PMDB, que deseja fazer o
presidente do Senado.
O PT crê que só no segundo semestre haverá votações que demandam quórum maior. Assim,
teria tempo para ajudar a ala lulista a ganhar espaço no PMDB,
bem como atrair dissidentes peemedebistas a siglas aliadas.
Hoje, o grupo lulista tem 30%
dos cargos de direção. Os serristas, 70%. Com uma guerra, os serristas tendem a virar minoria.
4) A avaliação de Lula de que
dois ministérios para o PMDB seria muito e talvez ineficaz. Para o
petista, apesar de Fernando Henrique Cardoso ter dado ministérios à ala serrista, que ficou conhecida como grupo governista
por ter apoiado FHC nos dois
mandatos, sempre foi preciso fazer negociações de varejo.
Ou seja: Lula crê que correria o
risco de dar postos e ter de negociar com grupos de deputados, senão individualmente com parlamentares, pois o PMDB é uma
confederação de caciques regionais frequentemente em guerra.
Registros
É só desculpa a alegação dada a
Temer de que a luta interna do PT
foi o motivo para Lula não dar
duas pastas ao PMDB. Para acomodar aliados, há ministeriáveis
petistas que podem ser cortados.
Lula decidiu tirar Minas e Energia da negociação porque a equipe de transição diagnosticou risco
de apagão em seu governo. Preferiu não correr risco e nomear uma
técnica de confiança, Dilma Roussef (PT-RS).
(KENNEDY ALENCAR)
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