São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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BASTIDOR

Má imagem do PMDB influenciou decisão de Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quatro fatores pesaram muito na decisão do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de minar a negociação para dar ao PMDB dois ministérios (Integração Nacional e Minas e Energia):
1) Temor de manchar a formação de sua equipe devido à má imagem de setores do partido. Por medo de "manchar o ministério", expressão de membro da cúpula petista, leia-se o caso do deputado Pinheiro Landim (PMDB-CE), acusado de negociar favores jurídicos a narcotraficantes, e a crônica marca de fisiologia de parte da sigla. Lula ouviu críticas dentro do PT à negociação com o PMDB. Mais: achou que negociar com todo o PMDB deixaria seus aliados peemedebistas insatisfeitos, premiando inimigos.
2) Fortalecer o grupo que votou nele e enfraquecer a ala que optou por José Serra (PSDB). Nos últimos dias, Lula ouviu a opinião de políticos importantes, inclusive do PMDB, como o governador eleito Roberto Requião (PR), para não dar guarida ao grupo serrista.
Apesar de o futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, ter dito ao presidente do PMDB e expoente do grupo serrista, Michel Temer, que o PT não faria convites individuais ao partido, Lula pretende dar munição (cargos e influência) à ala que o apoiou.
Exemplo: o economista Carlos Lessa, futuro presidente do BNDES, já recebeu sinal do PT para que mantenha a filiação ao PMDB. Assim, o PT dirá que sua nomeação também terá um ingrediente de cota partidária.
Há possibilidade de escolha de um ministro peemedebista, que Lula indicaria em "caráter pessoal", apesar de acertar o nome com o grupo que o apóia.
3) Para Lula, há tempo para ajudar os lulistas do PMDB a virarem maioria no partido. No diagnóstico petista, a única grande batalha congressual do primeiro semestre será a eleição para as presidências da Câmara e do Senado. O PT pretende eleger o líder do partido na Câmara, João Paulo Cunha (SP), presidente da Casa. Para isso, poderá honrar um acordo com o PMDB, que deseja fazer o presidente do Senado.
O PT crê que só no segundo semestre haverá votações que demandam quórum maior. Assim, teria tempo para ajudar a ala lulista a ganhar espaço no PMDB, bem como atrair dissidentes peemedebistas a siglas aliadas.
Hoje, o grupo lulista tem 30% dos cargos de direção. Os serristas, 70%. Com uma guerra, os serristas tendem a virar minoria.
4) A avaliação de Lula de que dois ministérios para o PMDB seria muito e talvez ineficaz. Para o petista, apesar de Fernando Henrique Cardoso ter dado ministérios à ala serrista, que ficou conhecida como grupo governista por ter apoiado FHC nos dois mandatos, sempre foi preciso fazer negociações de varejo.
Ou seja: Lula crê que correria o risco de dar postos e ter de negociar com grupos de deputados, senão individualmente com parlamentares, pois o PMDB é uma confederação de caciques regionais frequentemente em guerra.

Registros
É só desculpa a alegação dada a Temer de que a luta interna do PT foi o motivo para Lula não dar duas pastas ao PMDB. Para acomodar aliados, há ministeriáveis petistas que podem ser cortados.
Lula decidiu tirar Minas e Energia da negociação porque a equipe de transição diagnosticou risco de apagão em seu governo. Preferiu não correr risco e nomear uma técnica de confiança, Dilma Roussef (PT-RS). (KENNEDY ALENCAR)


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