São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Sarney e Requião acreditam que parte do PMDB dará sustentação a Lula, mesmo sem a indicação de ministros

PMDB lulista festeja revés da ala serrista

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O grupo do PMDB que se opôs ao candidato do governo de Fernando Henrique Cardoso e apoiou Lula na eleição presidencial aplaudiu a decisão do PT de romper o acordo que vinha sendo costurado entre a cúpula do partido e o deputado José Dirceu (PT-SP), futuro chefe da Casa Civil.
Afirmando que não tinha "nada a ver com isso" e que não vetou "ninguém" para o ministério, o governador eleito do Paraná, Roberto Requião, apoiou o desfecho das conversas.
"A posição mais acertada era essa. Falta unidade interna ao PMDB para firmar esse acordo. A cúpula do partido não fala por nós [o grupo que apoiou Lula]. Fizeram indicações, algumas até boas, mas eles não falam pelo partido", afirmou Requião.
Uma eventual participação, no entendimento de Requião, "resultaria de barganha ou do toma-lá-dá-cá que caracterizou a atuação do partido nos últimos anos".
Ele disse ainda que a decisão de não aceitar as indicações da cúpula do PMDB mostrou "firmeza" de Lula. "O PT então iria aceitar indicação de um pessoal que foi derrotado na eleição [a cúpula do partido apoiou o presidenciável José Serra] e que está massacrando a centro-esquerda do partido?", disse, referindo-se à decisão de Michel Temer, presidente nacional do PMDB, de intervir no diretório paulista e afastar o grupo de Orestes Quércia.
"Já não chega indicar o Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central?", declara. Meirelles é do PSDB e não apoiou Lula na eleição.
A Folha apurou que uma parte do grupo de Quércia considera que Michel Temer conduziu as negociações para que elas não dessem certo, indicando para ocupar ministérios pessoas que sofreriam resistência no PT.
Sem citar nomes, o ex-presidente José Sarney também responsabilizou a cúpula do PMDB pelo fracasso das conversas: "Eu lamento que a direção do PMDB tenha conduzido as coisas de modo a que o partido não participasse do governo".
Tanto Sarney quanto Requião acreditam que parte do PMDB dará sustentação a Lula, ainda que sem a indicação de ministros. "A maior parte do partido quer apoiar o governo de Lula", diz o senador. Sarney defende que uma convenção, convocada para janeiro, aprove apoio ao governo Lula, e não a "independência", como quer a cúpula. O senador é candidato à presidência do Senado e quer o apoio do PT.
Requião afirmou que continua apoiando o governo do PT. "O PMDB irá apoiar, e eu particularmente. A cúpula do PMDB diz que apóia o Brasil, mas eu digo que apóio o Lula. E quem apóia o Lula apóia também o Brasil."
Durante as articulações para formulação do ministério, conduzidas por José Dirceu, o PT negociava com o PMDB de olho nos votos, em bloco, de 94 parlamentares que o partido deve ter na próxima legislatura -74 deputados federais e 20 senadores.


Colaborou MARI TORTATO, da Agência Folha, em Curitiba


Texto Anterior: Risco-Nanquim
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.