São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Diretor de Pós-Graduação em Economia da FGV, Marcos Lisboa será secretário de Política Econômica no governo Lula

Palocci escolhe liberal como braço direito

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O principal formulador econômico do governo Lula será Marcos Lisboa, diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas) do Rio. Lisboa, 38, ocupará a secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Segundo a Folha apurou, ele já foi convidado pelo futuro ministro Antonio Palocci Filho e disse sim.
Liberal com estudos voltados para a área social, Lisboa coordenou, com o também economista José Alexandre Scheinkman, uma agenda de debate econômico e redução da pobreza conhecida como "Agenda Perdida".
Apresentado em setembro, na reta final do primeiro turno da sucessão presidencial, o trabalho foi aplaudido pelo mercado, mas não foi levado em conta pelos presidenciáveis. Nem mesmo pela campanha de Ciro Gomes (PPS), candidato para o qual Scheinkman tentava montar um programa e uma equipe.
Entre as propostas de política macroeconômica, a "Agenda Perdida" defende a manutenção dos altos superávits primários (economia de gastos públicos para pagamento de juros) e do regime de câmbio flutuante, além da redução da parcela da dívida pública indexada ao dólar -atualmente ela corresponde a 37,68% do total da dívida em títulos.
O documento defende a extensão do programa Bolsa-Escola para adolescentes, como forma de conter a criminalidade, a reforma do papel da Justiça do Trabalho e a criação de um sistema único de aposentadoria para o setor público e a iniciativa privada.
Palocci chegou a Lisboa após algumas sondagens no mercado financeiro e no meio acadêmico, que recebeu bem o nome. Na quarta-feira, Lisboa e o futuro ministro da Fazenda foram vistos em Brasília, numa conversa no escritório da equipe de transição. Palocci chefia a transição.
Apesar de ser pouco conhecido, Lisboa tem fama de "geniozinho" e de bom formulador econômico. O perfil de Lisboa é diferente dos tradicionais economistas petistas, atendendo a um dos requisitos de Palocci de ter na equipe gente com pensamento diverso, o que ampliaria o debate interno.
Nesse contexto, ganha força a possibilidade de ter Guido Mantega no Planejamento. Nada liberal, Mantega é economista da FGV de SP e um antigo auxiliar do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) também é cotado para o Planejamento.
Diminuiu ontem a cotação do economista Luciano Coutinho para esse ministério, apesar de não estar totalmente descartado.
Mantega discordou da maioria das propostas da "Agenda Perdida" de Scheinkman, Lisboa e outros 15 pesquisadores. Ele defende política industrial forte, coisa na qual a agenda não toca, e avalia que unificar os orçamentos de programas sociais não funciona.
Médico sanitarista, Palocci não deseja ver, no governo Lula, a dominância de uma escola econômica, como foi a PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio, por onde passaram os pais do Plano Real (André Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida) e o ministro Pedro Malan.
Marcos Lisboa é Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia. Sua página na internet informa as áreas de pesquisa: teoria econômica, economia da saúde, mercado de seguros e história do pensamento econômico.
Em trabalho recente sobre medicamentos, Lisboa diz que há impactos negativos do controle de preços na oferta de remédios de qualidade. O destino do controle de preços dos medicamentos será um dos primeiros temas de decisão do futuro governo. A medida provisória que estabelece o controle expira no fim do mês.


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