São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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ESTADOS

Governador eleito quer que Lula autorize banco estatal a comprar ações da companhia elétrica que pertencem à empresa americana

Aécio quer dinheiro do BNDES para Cemig

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), está articulando para que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) autorize o BNDES a comprar da empresa norte-americana AES as ações que ela tem da Cemig, a estatal mineira de energia elétrica.
Como a AES já anunciou que pretende vender seus ativos no país, o governador eleito teme que as ações ordinárias da Cemig (com direito a voto) caiam nas mãos de investidores sem relação com o setor. Caso contrário, acha que poderia não haver investimentos na estatal, segundo apurou a Agência Folha.
Por isso, Aécio quer que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) "reestatize" as ações da AES, que no início da gestão Itamar Franco (sem partido) foi retirada do comando da Cemig. Recurso da AES está no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A AES lidera um grupo que tem a também americana Southern Electric Brasil Participações Ltda. e o Opportunity. Juntos, os três têm 32,96% das ações ordinárias. A AES tem 65% dessa fatia.
O governo mineiro detém 50,96% das ações, mas Eduardo Azeredo (PSDB), antecessor de Itamar e eleito agora senador, fez, em 1997, um acordo com os sócios privados, que, mesmo minoritários, tinham direito a veto e a cargos na diretoria.
Aécio, apurou a Agência Folha, não quer mexer com isso. Vai deixar a situação do jeito que está, correndo na Justiça. Está preocupado com o futuro comprador das ações postas a venda.
Ele já levou o caso para o presidente eleito Lula, que concordou em discutir melhor a proposta. Aécio está otimista. Acha que ter o BNDES como parceiro significaria investimentos. Posteriormente, após um amplo estudo e negociações com potenciais investidores do setor, o BNDES venderia sua participação.

Ações
Em junho deste ano, a AES, uma das maiores empresas americanas do setor de energia, anunciou que vai desfazer de seus ativos em todo mundo por dificuldades financeiras. No Brasil, além da participação na Cemig, a empresa controla a geradora AES Tietê, a Eletropaulo e a AES Sul.
Analistas de mercado avaliam que seria difícil, neste momento, conseguir compradores para os ativos da AES no Brasil, considerando as indefinições no setor elétrico brasileiro.
Esta é também uma das preocupações de Aécio. Por isso ele defende na negociação o BNDES, que tem a receber da AES mais de US$ 500 milhões.
A Cemig foi selecionada, pela terceira vez consecutiva, pelo DJSI World (Dow Jones Sustainability World Indexes), compondo o seleto grupo de 310 empresas de todo o mundo incluídas na lista para 2003.
O DJSI World premia empresas de reconhecida sustentabilidade corporativa. Considera os ganhos que as empresas geram aos investidores, o aproveitamento de oportunidades de negócios, o gerenciamento de riscos associados a fatores econômicos, ambientais e sociais e a qualidade da gestão. A Cemig está classificada como a terceira melhor empresa de energia elétrica do mundo.
Os resultados financeiros até o terceiro trimestre de 2002, no entanto, não são favoráveis para a empresa. A estatal acumula prejuízo de R$ 268 milhões, boa parte disso por conta da alta do dólar ocorrida este ano .
Em 2001, o lucro líquido da Cemig foi de R$ 478 milhões; o faturamento, R$ 6,16 bilhões. Os ativos somam R$ 8,27 bilhões.


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