São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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Bispo deixa UTI e encerra greve de fome

Em missa, d. Luiz agradece apoio da população a seu protesto e pede "perdão por tudo que fiz vocês sofrerem nesses dias'

Gilberto Carvalho, assessor da Presidência, afirma que governo fará campanha para explicar obras e que diálogo com bispo continua

FÁBIO GUIBU
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRADINHO (BA) E PETROLINA (PE)

Menos de 24 horas depois de ser removido inconsciente para Petrolina (PE), o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, voltou ontem a Sobradinho (BA) para formalizar o fim da sua greve de fome contra as obras de transposição do rio São Francisco e agradecer ao apoio da população nos quase 23 dias de jejum.
Em uma missa campal em frente à igreja de São Francisco, onde d. Luiz jejuou, um assessor do bispo leu um manifesto assinado pelo religioso, que acompanhou a declaração sentado em cadeira de rodas e com soro no braço. "Depois de 24 dias, encerro meu jejum, mas não a minha luta, que é nossa", disse o manifesto.
O texto criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da transposição. "Vimos ontem [anteontem] com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário."
A leitura do manifesto foi aplaudida pelas cerca de 800 pessoas que, segundo a PM, estavam no local. "Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer a mobilização até derrotarmos esse projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco. É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho, que encerro meu jejum."
Durante a bênção final, d. Luiz se dirigiu ao público. "Perdão por tudo que fiz vocês sofrerem nesses dias." Antes de retornar à ambulância, desejou um feliz Natal e um "abençoado ano de 2008" a todos.
Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete da Presidência, afirmou ontem, após saber do fim da greve de fome de d. Luiz, que o governo vai fazer uma campanha para explicar o que foi feito nas obras de transposição. Segundo ele, o diálogo com a igreja e o bispo continua.
"Para o governo, o episódio foi um aprendizado. Primeiro, porque a obra precisa ser mais divulgada. Segundo, precisamos intensificar o diálogo com entidades sociais porque muitas vezes, mal informadas, elas se prendem a mistificações e equívocos", afirmou ele.

Ambulância
Acompanhado por uma equipe médica, o religioso viajou de ambulância os 70 quilômetros entre Petrolina e Sobradinho. Após a cerimônia, voltou ao hospital Memorial Petrolina, para onde foi levado anteontem no início da noite.
D. Luiz permaneceu na UTI até as 6h30 de ontem, quando foi transferido para um apartamento. Seu estado de saúde ao chegar foi classificado como de "extrema fragilidade".
D. Luiz recebeu soro de reidratação intravenosa e medicação para restabelecer as funções renais. Ele deve receber alimentos sólidos apenas em uma semana. Seu estado de saúde foi classificado de "regular". Não há previsão de alta.
A Folha apurou que houve discussão na igreja sobre a necessidade ou não de remover d. Luiz para um hospital, após o desmaio. No hospital, o movimento de pessoas foi grande. Índios dançaram em frente ao prédio. Religiosos e políticos também foram ao local.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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