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Documentos da ditadura descrevem
ministro como um exímio atirador
Franklin Martins era considerado de "grande periculosidade" por militares
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos principais auxiliares
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, o ministro Franklin
Martins (Comunicação Social)
era visto pelos órgãos repressivos da ditadura militar (1964-1985) como um dos líderes estudantis de maior evidência,
um indivíduo de "grande periculosidade" que, "sempre armado, não vacila em atirar".
O texto, que provoca risos do
hoje ministro, foi assinado por
Newton Costa (da Delegacia
Especializada em Roubos e
Furtos) em 4 de setembro de
1969 e integra um calhamaço
sobre sua atuação no período,
em poder do Arquivo Nacional.
Os documentos, aos quais a
Folha teve acesso, incluem
uma espécie de ficha do extinto
SNI (Serviço Nacional de Informações) datada de 1974, na
qual ele é acusado de ter participado de toda ordem de subversão, de assaltos contra bancos e à residência de um deputado, a seqüestros e roubos.
Fatos, em sua maioria, negados pelo ministro. Do teor das
acusações listadas, Franklin
confirma duas participações:
foi ele quem, em 4 de setembro
de 1969, estava na direção do
Volkswagen azul que bloqueou
a passagem do carro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, ponto inicial de
uma ação que virou símbolo do
combate à ditadura militar.
O ministro também confirma ter feito a "segurança" da
operação de assalto à casa do
então deputado Edgard Magalhães de Almeida, político ligado às artes que tinha cerca de
U$ 70 mil no cofre de casa, dinheiro que foi levado pelos militantes na ação, descrita ainda
hoje pelo ministro como de
"expropriação", e não roubo.
"Exímio atirador", de acordo
com os militares, Franklin é
irônico ao se referir à própria
periculosidade. "É um conceito
subjetivo", diz, acrescentando:
"De alta periculosidade eu acho
que era o general que comandava o país naquele momento".
O ministro fez curso de guerrilha em Cuba, período em que
foi treinado para o uso de armamentos e explosivos, além de
táticas de selva e condicionamento físico. Hoje, ele reconhece que a luta armada não foi
um instrumento eficaz no combate à ditadura, mas não se arrepende disso.
"Estava lutando contra um
regime que, de arma na mão,
derrubou o presidente constitucional, fechou os sindicatos,
instituiu a censura, acabou com
os partidos políticos, prendeu
gente até dizer chega, tirou um
grande número de parlamentares do congresso, prendeu, torturou, matou.... não sei por que
eu teria uma relação de "eu só
luto até certo ponto contra a ditadura". Não". "Felizmente",
acrescenta, ele diz que nunca
teve de atirar em ninguém.
Ao ministro são atribuídos,
num dos documentos, comentários desabonadores ao atual
presidente da República.
O texto, que constava dos arquivos do SNI, afirma que, num
debate público sobre "o socialismo e a crise na Polônia",
Franklin se destacou pelas críticas ao sindicato Solidariedade. Ele teria expressado que, "a
exemplo da Polônia, o líder Lula deve perder a máscara", comentário do qual Franklin não
reconhece a autoria.
O ministro, à época, foi contra a criação do PT. "Eu nunca
fui do PT, nem próximo. Ao
contrário, tinha críticas, achava
o PT muito esquerdista", diz
Franklin hoje.
Para ele, os documentos têm
valor histórico por revelarem
"a mediocridade", além da "incapacidade de conviver com a
crítica" do regime.
O governo promete flexibilizar, a partir de 2009, o acesso a
este tipo de documentação de
posse do Arquivo Nacional.
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