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São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 2003

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CASO CC-5

Relacionado em laudo da PF, Paulo Konder diz que usou casa de câmbio para enviar US$ 58 mil ao exterior; lei proíbe operação

Irmão de Bornhausen admite uso de doleiro

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O irmão do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), 65, o advogado Paulo Konder Bornhausen, 75, reconheceu ontem que enviou por meio de um doleiro de Florianópolis (SC) US$ 58 mil entre abril de 1996 e dezembro de 1997 para uma conta sua no Banco do Brasil de Nova York.
Paulo Konder autorizou seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, a explicar que fez as remessas por meio de um doleiro chamado "Wilson", da casa de câmbio de Florianópolis (SC) Centaurus Câmbio e Turismo.
O advogado disse que o dinheiro tem origem lícita e que as contas foram declaradas à Receita Federal. Solicitado pela reportagem, negou-se a mostrar a declaração de imposto de renda do cliente. Konder, segundo o advogado, teria usado o dinheiro em viagens.
A lei federal 7.492/86 diz ser crime de evasão de divisas "efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do país". A lei prevê que o remetente pode escapar da acusação caso tenha declarado a operação "à repartição federal competente".
Localizado pela Folha ontem, o responsável pela Centaurus, que se identificou como "Wilson José", negou ter feito qualquer remessa para Bornhausen ou outra pessoa. "Wilson" disse que trabalha no local há dez anos e só conhece o nome Bornhausen "pelo que sai na TV".
O advogado afirmou que a negativa do doleiro "foi a esperada". "Ele não quer admitir que fez alguma coisa errada."
Os documentos apreendidos pela Polícia Federal no Banestado (Banco do Estado do Paraná) de Nova York indicam que o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), 65, teria enviado US$ 16 mil, dos US$ 58 mil registrados no banco. A remessa ocorreu em 1º de abril de 1996 por meio da empresa "offshore" Sunfox, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, cujos donos são desconhecidos.
Paulo Konder disse ontem que todas as remessas foram feitas por ele, nenhuma pelo seu irmão. A conta bancária anotada na ficha do Banestado como sendo de Jorge pertenceria na verdade a Konder, de acordo com o irmão do senador. Ele orientou a reportagem a receber "todas as explicações necessárias" com seu advogado.
Segundo Antonio Carlos de Almeida Castro, houve seis remessas entre abril de 1996 e dezembro de 1997 (período coberto pela investigação da PF).
Em todos os casos, Paulo Konder teria agido do mesmo modo: entregou o dinheiro, em espécie, para o doleiro "Wilson", que se encarregou de trocar os reais por dólares e enviá-los por contas CC-5 (para não residentes) a uma conta de Paulo Konder em Nova York. Antes do Banco do Brasil, o dinheiro passou pelas contas das empresas "offshore" Baneast International Finance e Guildford Assets Ltd., além da Sunfox, no Banestado de Nova York.
A Baneast e a Sunfox têm os mesmos procuradores nos documentos de abertura das contas do Banestado: Marco Vendrametto e Afonso Celso Braga (a Sunfox registra um terceiro procurador, Telmo A. Picanço).
De acordo com o advogado de Konder, "deve ter ocorrido erro" no preenchimento dos papéis que indicam o senador como destinatário do dinheiro. Ele preferiu não atribuir a ninguém o erro.
Os documentos sobre as remessas de Konder Bornhausen foram encontrados na agência por uma equipe da PF que investiga um grande esquema de lavagem de dinheiro.


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