São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÚNEL DO TEMPO

Ex-assessor quis bingo como "jogo do bem"

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois anos e meio antes de se tornar o pivô da primeira grande crise do governo Lula por ter sido filmado pedindo doação de campanha e propina a um empresário do bingo, Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil, esteve em audiência pública na Câmara defendendo a regulamentação dos bingos de forma que eles se tornassem "o jogo do bem".
Na ocasião, 5 de junho de 2001, Waldomiro foi ao Legislativo federal como presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) e disse que a destinação de recursos provenientes do jogo para a construção de creches e para as atividades esportivas validava a atividade. "[Estamos] Procedendo de forma transparente, a mais eficiente possível, usando os bingos, as entidades, para o que chamamos de o jogo do bem, procurando arrecadar bem", disse, dando como exemplo a situação do Rio, que tinha, na ocasião, 25 casas de bingo em funcionamento.
A audiência, realizada na Comissão de Educação, Cultura e Desporto, discutia seis projetos relacionados à regulamentação do jogo. Além de Waldomiro, outro dos convidados era o presidente da Abrabin (Associação Brasileira de Bingos), Olavo Salles, que defendeu uma alteração na legislação para aliviar a tributação das casas de jogos.
"O senhor Olavo Salles da Silveira, da Abrabin, falou muito bem sobre a questão tributária", disse, na época, o ex-assessor.
Depoimento ao ministério público sustenta que Salles intermediava o suposto lobby pró-bingo que Waldomiro teria feito no Congresso desde janeiro do ano passado.
O então presidente da Loterj baseou sua fala na experiência que acumulava. "Hoje, todos os recursos da loteria de bingos do Estado são destinados à política social. Posso citar alguns números. Apenas em 2001, iremos transferir para a ação social algo em torno de R$ 13 milhões, a serem aplicados em creches", disse.
"Se tivermos bom senso, em conjunto com a Caixa Econômica Federal e o governo, através do trabalho do deputado Gilmar Machado [PT-RJ], avançaremos muito", acrescentou.
Machado era o relator dos seis projetos e, cinco meses mais tarde, citou Waldomiro em seu relatório, amplamente favorável ao funcionamento das casas de jogos: "Doutor Waldomiro demonstrou o funcionamento dos bingos do Rio de Janeiro e como vêm contribuindo de forma decisiva para as obras sociais, com total transparência", escreveu.
Machado afirmou em seu relatório que "a extinção do bingo traria enorme prejuízos não só para o desporto como para os quase cem mil trabalhadores dos estabelecimentos que exploram essa atividade". A proposta acabou não andando no Congresso.
Na sexta-feira, horas depois de Lula anunciar a medida provisória proibindo os bingos, Machado se resignava a colocar um ponto final na história. "O presidente não quer saber disso não."


Texto Anterior: "Bingos não podem ser fechados por MP"
Próximo Texto: Coordenador de campanha de Dirceu propôs liberar jogo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.