São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO

US$ 1,13 milhão foi enviado da conta do publicitário nos EUA para offshores, segundo a polícia

PF rastreia empresas que receberam dólares de Duda

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal identificou os nomes de duas empresas de fachada com sede no paraíso fiscal das Bahamas que receberam recursos da Dusseldorf, a offshore criada pelo publicitário Duda Mendonça para receber, no exterior, R$ 10,5 milhões no esquema de caixa dois do PT.
As duas novas empresas offshore identificadas pela PF -chamadas Raspberry e Strongbox- receberam US$ 632,7 mil da Dusseldorf. Uma terceira empresa, cujo nome é mantido em sigilo, recebeu US$ 500 mil. Por meio desse trio, Duda tirou US$ 1,13 milhão da conta mantida pela Dusseldorf. As duas empresas identificadas pela PF têm como endereço uma mesma caixa postal, de número 3930, em Nassau, a capital das Bahamas, no Caribe.
Os nomes das empresas e os valores constam do mais recente interrogatório feito pela PF com Duda, em Salvador (BA), no último dia 2. O teor do interrogatório, obtido pela Folha, havia permanecido em sigilo até agora.
Empresas offshores são normalmente usadas por pessoas ou empresas que não querem revelar a origem dos recursos que estão movimentando, seja porque o dinheiro é fruto de tráfico de drogas, corrupção ou caixa dois. A transferência dos recursos de uma offshore para outra é um recurso clássico para despistar a polícia e o fisco.
Uma das hipóteses com que a PF trabalha é a de que a Raspberry e a Strongbox (caixa forte, em português) sejam do próprio Duda Mendonça ou pertençam a sócios do publicitário -Zilmar Fernandes e Armando Correia Ribeiro. O advogado de Duda, Tales Castelo Branco, nega que seu cliente seja o dono dessas duas novas offshores.

Não é de político
O marqueteiro da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 afirmou, no depoimento prestado na Polícia Federal, desconhecer os proprietários das duas empresas.
Apesar de repetir uma dezena de vezes que ignora o destino do dinheiro que saiu de sua conta, o publicitário fez questão de frisar que as duas novas offshores não são ligadas a políticos.
"[Duda] reitera as suas declarações anteriores, afirmando que não foi transferida nenhuma quantia da conta Dusseldorf para quaisquer políticos ou partidos", disse no interrogatório feito pelo delegado Pedro Ribeiro, da PF.
A Strongbox recebeu US$ 414.297,0 da Dusseldorf. A Raspberry, US$ 218.414. Uma terceira conta beneficiada com recursos da empresa de Duda foi identificada no depoimento apenas por um número de conta (100.13395). Ela recebeu US$ 500 mil. Da mesma forma, Duda negou conhecer o beneficiário dela.
Para rastrear a movimentação dos recursos que saíram da Dusseldorf e conhecer o destino final dos recursos, a Polícia Federal necessitará do apoio das autoridades americanas.
"Tudo o que tinha a declarar sobre a Dusseldorf já foi dito, notadamente que os recursos já foram gastos e parte incorporada ao seu patrimônio", disse o publicitário.

Banco de doleiros
A base de dados do MTB Bank de Nova York -onde doleiros brasileiros abriram contas em nome de offshores para movimentar bilhões nos últimos anos, provavelmente para ocultar os verdadeiros donos do dinheiro- traz referências sobre contas em nome da Raspberry e da Strongbox. O MTB foi liquidado sob acusação de funcionar como lavanderia de dinheiro sujo.
Além do mesmo endereço virtual nas Bahamas, as duas empresas mantiveram contas no BankBoston de Miami (EUA) e também depositaram recursos em uma mesma outra conta aberta no MTB Bank em nome da empresa Maximus S/A, sediada em Montevidéu, no Uruguai.
A Raspberry depositou US$ 184 mil na conta da Maximus entre 25 de abril e 6 de novembro de 2003. A Strongbox injetou US$ 122 mil na conta da Maximus entre 19 de dezembro de 2002 e 18 de novembro de 2003.
No depoimento à PF, Duda Mendonça voltou a negar ter feito remessas de recursos ao exterior. No depoimento que prestou à CPI dos Correios e em depoimentos anteriores prestados à PF, Duda atribui toda a operação ao publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza - que, por sua vez, também nega envolvimento nas remessas.
Marcos Valério admite apenas que realizou saques das contas de suas empresas para pagar Duda num esquema de caixa dois comandado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.


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