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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO
US$ 1,13 milhão foi enviado da conta do publicitário nos EUA para offshores, segundo a polícia
PF rastreia empresas que receberam dólares de Duda
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal identificou os
nomes de duas empresas de fachada com sede no paraíso fiscal
das Bahamas que receberam recursos da Dusseldorf, a offshore
criada pelo publicitário Duda
Mendonça para receber, no exterior, R$ 10,5 milhões no esquema
de caixa dois do PT.
As duas novas empresas offshore identificadas pela PF -chamadas Raspberry e Strongbox- receberam US$ 632,7 mil da Dusseldorf. Uma terceira empresa, cujo
nome é mantido em sigilo, recebeu US$ 500 mil. Por meio desse
trio, Duda tirou US$ 1,13 milhão
da conta mantida pela Dusseldorf. As duas empresas identificadas pela PF têm como endereço
uma mesma caixa postal, de número 3930, em Nassau, a capital
das Bahamas, no Caribe.
Os nomes das empresas e os valores constam do mais recente interrogatório feito pela PF com
Duda, em Salvador (BA), no último dia 2. O teor do interrogatório, obtido pela Folha, havia permanecido em sigilo até agora.
Empresas offshores são normalmente usadas por pessoas ou
empresas que não querem revelar
a origem dos recursos que estão
movimentando, seja porque o dinheiro é fruto de tráfico de drogas, corrupção ou caixa dois. A
transferência dos recursos de
uma offshore para outra é um recurso clássico para despistar a polícia e o fisco.
Uma das hipóteses com que a
PF trabalha é a de que a Raspberry
e a Strongbox (caixa forte, em
português) sejam do próprio Duda Mendonça ou pertençam a sócios do publicitário -Zilmar Fernandes e Armando Correia Ribeiro. O advogado de Duda, Tales
Castelo Branco, nega que seu
cliente seja o dono dessas duas
novas offshores.
Não é de político
O marqueteiro da campanha
presidencial de Luiz Inácio Lula
da Silva em 2002 afirmou, no depoimento prestado na Polícia Federal, desconhecer os proprietários das duas empresas.
Apesar de repetir uma dezena
de vezes que ignora o destino do
dinheiro que saiu de sua conta, o
publicitário fez questão de frisar
que as duas novas offshores não
são ligadas a políticos.
"[Duda] reitera as suas declarações anteriores, afirmando que
não foi transferida nenhuma
quantia da conta Dusseldorf para
quaisquer políticos ou partidos",
disse no interrogatório feito pelo
delegado Pedro Ribeiro, da PF.
A Strongbox recebeu
US$ 414.297,0 da Dusseldorf. A
Raspberry, US$ 218.414. Uma terceira conta beneficiada com recursos da empresa de Duda foi
identificada no depoimento apenas por um número de conta
(100.13395). Ela recebeu US$ 500
mil. Da mesma forma, Duda negou conhecer o beneficiário dela.
Para rastrear a movimentação
dos recursos que saíram da Dusseldorf e conhecer o destino final
dos recursos, a Polícia Federal necessitará do apoio das autoridades americanas.
"Tudo o que tinha a declarar sobre a Dusseldorf já foi dito, notadamente que os recursos já foram
gastos e parte incorporada ao seu
patrimônio", disse o publicitário.
Banco de doleiros
A base de dados do MTB Bank
de Nova York -onde doleiros
brasileiros abriram contas em nome de offshores para movimentar
bilhões nos últimos anos, provavelmente para ocultar os verdadeiros donos do dinheiro- traz
referências sobre contas em nome
da Raspberry e da Strongbox. O
MTB foi liquidado sob acusação
de funcionar como lavanderia de
dinheiro sujo.
Além do mesmo endereço virtual nas Bahamas, as duas empresas mantiveram contas no BankBoston de Miami (EUA) e também depositaram recursos em
uma mesma outra conta aberta
no MTB Bank em nome da empresa Maximus S/A, sediada em
Montevidéu, no Uruguai.
A Raspberry depositou US$ 184
mil na conta da Maximus entre 25
de abril e 6 de novembro de 2003.
A Strongbox injetou US$ 122 mil
na conta da Maximus entre 19 de
dezembro de 2002 e 18 de novembro de 2003.
No depoimento à PF, Duda
Mendonça voltou a negar ter feito
remessas de recursos ao exterior.
No depoimento que prestou à CPI
dos Correios e em depoimentos
anteriores prestados à PF, Duda
atribui toda a operação ao publicitário mineiro Marcos Valério
Fernandes de Souza - que, por
sua vez, também nega envolvimento nas remessas.
Marcos Valério admite apenas
que realizou saques das contas de
suas empresas para pagar Duda
num esquema de caixa dois comandado pelo ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares.
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