São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS CORREIOS

Segundo relatório, aplicações cresceram em 9 dos 14 fundos analisados; para petista, foi tendência

BMG e Rural receberam mais de fundos em 2004, diz CPI

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fundos de pensão federais investigados pela CPI dos Correios tiveram forte concentração de aplicações, em 2004, nos bancos BMG e Rural. Dos 14 fundos que tiveram suas contas inicialmente analisadas pela CPI, nove elevaram seus investimentos de R$ 48,82 milhões, em 2003, para R$ 533 milhões no ano seguinte.
Os dados foram apresentados ontem pelo deputado ACM Neto (PFL-BA), sub-relator da CPI, que considerou as aplicações "um inequívoco direcionamento" para "compensar" os bancos pela participação no esquema do empresário Marcos Valério de distribuição de recursos ao PT e aliados.
As conclusões e os números apresentados por ACM Neto foram contestados pela líder do PT no Senado, Ideli Salvati (PT-SC).
Ela apresentou levantamento em que a Secretaria de Previdência Complementar constatou que fundos privados e de empresas públicas estaduais aplicaram em 2004, nos dois bancos, mais do que os federais, o que representaria um movimento de mercado.
Segundo o relatório do deputado, alguns fundos nem sequer tinham investimentos no Rural e no BMG até 2002, vindo a comprar CDBs (Certificados de Depósito Bancário) ou cotas de fundos de investimento das duas instituições só entre 2003 e 2004. Foi o caso de Funcef (Caixa Econômica Federal), Nucleos (estatais nucleares), Portus (portuários) e Previ (Banco do Brasil), que aplicaram em títulos dos bancos pela primeira vez em 2004, quando compraram R$ 84,7 milhões.
"Há uma relação direta dos fundos de pensão com esses dois bancos envolvidos no esquema do senhor Marcos Valério", disse ACM Neto, que fez um paralelo entre as aplicações nos bancos e os saques nas contas da SMPB e DNA, as agências que Valério usou para distribuir o dinheiro. Os saques somaram cerca de R$ 55 milhões entre janeiro de 2003 e dezembro de 2004.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), concordou com as conclusões. "Estamos falando de números, e eles falam por si mesmo", disse.
Professora de matemática, Ideli argumentou que os números "podem ser ajustados" segundo interesses de quem os manipula.
Segundo o levantamento mostrado pela senadora, cerca de 70 fundos, a maioria privados e estaduais, aumentaram as aplicações no BMG e no Rural em 2004.
ACM Neto rebateu dizendo que só tinha como analisar os 14 fundos que tiveram a quebra de sigilo autorizada pela Justiça.
"O convencimento [sobre a relação das aplicações dos fundos com as saques das contas de Valério] é o convencimento político, porque matemático não tem sustentação", disse a senadora.
Dos 14 fundos analisados, Prece (Cedae) e Sistel (Sistema Telebrás) foram excluídos. O primeiro por ter tido seu sigilo impedido de ser usado devido a uma liminar concedida pelo STF e por ser um fundo estadual. O segundo, por ser hoje privado. Também investiram no BMG e no Rural Eletros (Sistema Eletrobrás), Real Grandeza (Furnas), Petros (Petrobras), Postalis (Correios) e Serpros (Serpro). Portus (portuários), Geap (servidores federais) e Refer (ferroviários) não tinham investimentos no Rural e no BMG.


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