São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS

Dono de empresa de transporte coletivo reafirma a CPI que pagou propina para operar em Santo André (SP) entre 1997 e 2000

Empresário confirma extorsão em prefeitura

RUBENS VALENTE
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário de transporte coletivo João Antônio Setti Braga disse ontem, na CPI dos Bingos, que sofreu "extorsão" da Prefeitura de Santo André (SP) entre 1997 e 2000, durante as gestões do prefeito Celso Daniel (PT), assassinado no início de 2002.
Braga confirmou aos senadores o teor do depoimento que prestou em 2002 a outra CPI, a da Câmara dos Vereadores de Santo André, e acrescentou que "tentou" advertir o então prefeito sobre a propina, mas não conseguiu ser recebido.
"Eu vejo [o pagamento] como uma extorsão, não como uma contribuição", disse Braga. Ele foi o segundo empresário do setor a denunciar uma suposta propina em troca de "tranqüilidade" para continuar operando. Segundo Braga, as sete empresas do setor deviam pagar, ao todo, R$ 100 mil mensalmente à prefeitura a título de "custo político".
Braga era um dos donos da empresa Nova Santo André, que respondia por cerca de 50% do movimento no setor na cidade.
Segundo Braga, os pagamentos ocorreram de meados de 1997 ao início de 2002 -o que representaria cerca de R$ 3,3 milhões.
"Eu não participava de nada. Era mensal e eles recebiam na própria empresa, era o que eu ouvia do Gabrilli", disse Braga, referindo-se a Luiz Alberto Ângelo Gabrilli, então seu sócio e diretor-executivo da empresa ao lado do empresário Ronan Maria Pinto, acusado pelo Ministério Público de organizar a arrecadação.
Segundo Braga, a propina ocorria sob orientação de Ronan. Ele disse que havia um acordo entre os proprietários da empresa pelo qual deveria ser trocada a direção executiva a cada dois anos. Disse que, no final de 1998, quando deveria assumir, passou a sugerir a realização de uma auditoria interna que poderia comprovar o pagamento da propina.
A partir disso, segundo o relato, outras empresas de seu grupo começaram a ser "perseguidas" pela Prefeitura de Santo André. Contou que o então secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Souza, baixou um decreto que restringia a exploração de linhas municipais por uma de suas empresas.
Braga disse que pediu uma audiência com o então prefeito Celso Daniel "diretamente na prefeitura e por meio de amigos comuns", mas não teve sucesso.
Ao final da sessão, o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), disse que a "presença de Braga fez confirmar tudo" o que a CPI já havia obtido com depoimentos anteriores.

Outro lado
O escritório de advocacia que defende o ex-secretário de Santo André Klinger Luiz Oliveira não fez comentários. "Ele vai se defender na Justiça, onde prestará todos os esclarecimentos."
Por meio de sua assessoria, Ronan Maria Pinto voltou a negar participação "em qualquer tipo de arrecadação" para pagamento de suposta propina à prefeitura.
Além disso, o empresário questionou o trecho do depoimento de Braga em que ele alegou não ter controle direto sobre as atividades da empresa. Ronan disse ter documentos que comprovam que Braga exercia cargo no Conselho de Administração da empresa na época dos supostos pagamentos, e nessa função tinha "carta branca" para bloquear qualquer atividade sob suspeita.


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