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ENTREVISTA DA 2ª
FERNANDO PIMENTEL
"Se eleita, Dilma não ficará refém do PT"
Coordenador da pré-campanha da ministra diz que ela não precisará pagar os mesmos pedágios que Lula ao partido
O EX-PREFEITO de Belo Horizonte Fernando
Pimentel (PT-MG) é hoje o representante mais
autêntico do que o presidente Lula chama de "a
turma da Dilma". Coordenador político da pré-campanha de Dilma Rousseff à Presidência, ao lado de Antonio Palocci, ele é amigo da ministra há mais de quatro décadas. Para ele, Dilma tem chances concretas de penetrar nas
mentes da "nova classe média", criada com a inclusão social
promovida no governo Lula.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
MALU DELGADO
ENVIADOS ESPECIAIS A BRASÍLIA
Se Dilma vencer, terá uma
gestão pragmática e não à esquerda, afirma Pimentel. Sua
vinculação recente ao PT, diz
ele, lhe deixará mais livre que
Lula: "Ela tem muito mais autonomia para ouvir o partido,
respeitá-lo, mas, se for o caso,
não pagar os pedágios que o
presidente Lula pagou e paga. A
tese de que ela vai ficar refém
não subsiste à realidade". Nesta
entrevista, ele afirma, ainda,
que é prematuro definir o atual
fenômeno social sob Lula como
lulismo.
FOLHA - O PT incorporou às diretrizes do programa de governo para
Dilma Rousseff bandeiras da esquerda. Se eleita, ele teria perfil à esquerda ou de centro, como Lula?
FERNANDO PIMENTEL - A tônica de
um governo Dilma vai ser uma
continuidade do governo Lula,
até porque ela é personagem
fundamental deste governo. O
grande salto do governo foi depois de 2005, após a crise do
mensalão, quando ela assumiu
[a Casa Civil]. Ela foi a pessoa
que liderou a reconstrução interna do governo, com a chegada do PMDB aos ministérios.
Como é a âncora do governo
Lula, o que se deve esperar é a
continuidade desta linha pragmática. Nem à direita, nem à
esquerda. É fazer o que é necessário para o Brasil dar certo.
FOLHA - Dilma tem um perfil ideológico mais definido que Lula. O PT
vê em Dilma a possibilidade de recuperar bandeiras históricas, com menos concessões?
PIMENTEL - Não vejo por que haveria tal inflexão.
FOLHA - Houve inflexão de Lula à
esquerda no 2º mandato?
PIMENTEL - Podemos dividir o
nosso governo em dois momentos: o que precede a crise
política do chamado mensalão
e o momento posterior. Naquele primeiro nós tínhamos definição clara do que deveria ser
feito sob o ponto de vista das
políticas macroeconômicas.
Palocci foi fundamental para
garantir a estabilidade. O José
Dirceu, na Casa Civil, também
cumpriu papel fundamental.
Havia uma forte aposta,
quando Lula foi eleito, de que
nós não íamos dar conta de governar o Brasil. Diziam que a
gente não teria governabilidade. Tivemos. Gosto de ressaltar
isso porque o Dirceu foi muito
castigado neste processo, estigmatizado, como se fosse uma
pessoa nociva. E não foi. Ele foi
uma pessoa importantíssima
na montagem inicial do governo e na sustentação até o momento fatídico da crise.
Lula teve uma enorme sabedoria quando convocou Dilma
para assumir o lugar de Dirceu.
E logo em seguida, o Palocci sai.
Convivi muito de perto [com o
governo] neste período. Foi um
momento de muita solidão. O
Palácio do Planalto estava esvaziado, virou um lugar meio
maldito. Neste momento dramático, quando a Dilma chega,
o presidente está começando a
fazer sua opção. Claro que ela
estava sendo colocada à prova.
Passou no teste.
FOLHA - Palocci e Dirceu estariam
num governo Dilma?
PIMENTEL - Quem tem que decidir é a própria Dilma. Ela tem
relações pessoais e fraternas
com os dois. As situações são
diferentes. O Zé está sendo processado ainda. Dificilmente teria uma função pública. São
personagens políticos de primeira grandeza. Não vejo como
prescindir dessas pessoas. O
Palocci não tem mais nenhum
processo.
FOLHA - E a sua presença num governo da Dilma?
PIMENTEL - Eu não posso falar
em causa própria. Estou ajudando a Dilma, que é minha
amiga de 40 anos, e sempre estarei disponível para ajudá-la.
A escolha da equipe é de quem
ocupar o posto de presidente.
FOLHA - Isso desemboca na questão de Minas.
PIMENTEL - O presidente Lula
disse que nós [ele e Patrus Ananias] estamos numa enrascada
em Minas. No fundo, não tem
essa coisa tão áspera. Tivemos
uma disputa muito acirrada pelo diretório estadual do PT.
Passou. Sou amigo do Patrus. O
PT vai ter que decidir qual é a
tática em Minas Gerais, se vamos ter candidato próprio ou
se vamos nos aliar ao PMDB.
Hoje todo mundo trabalha com
a ideia de palanque unificado.
Vou fazer o que for melhor para
o projeto coletivo, que é eleger
a Dilma. Neste momento, meu
sentimento é Zeca Pagodinho:
deixa a vida me levar.
FOLHA - Os problemas no PT começaram a partir de sua aliança com
Aécio Neves (PSDB)?
PIMENTEL - Há um entendimento um pouco equivocado disso.
A questão de fundo não é essa,
da aliança com o PSDB. É a concepção de partido e de estratégia política. Os adversários em
Minas dizem que maculei o
partido porque fiz filiações em
massa. E o outro lado defende
militância de raiz. O PT do pós-Lula tem de ser o partido das
grandes massas brasileiras, da
nova classe média, que é o canal
da política. Não pode ser a política no sentido de 30 anos atrás,
quando fundamos o PT. O
mundo mudou. Eu não tenho
que exigir que o sujeito tenha
lido Marx e Lênin para ser militante do PT.
FOLHA - André Singer, em seu artigo recente sobre as raízes sociais e
ideológicas do lulismo, coloca que
houve em 2006 um descolamento
entre a base histórica do PT e a base
que elegeu Lula. Como essa massa,
que não é petista, vai se comportar?
PIMENTEL - Vai votar na Dilma.
Acho o artigo do Singer extremamente bem posto, mas prematuro. Não sei se tem lulismo.
Nós temos um líder excepcional, que é o presidente Lula.
Nunca houve outro como ele na
história do Brasil. Mas, daí a dizer, como forçam nossos adversários, que há um subperonismo, é demais. É diferente. O Peronismo eu sei o que é, está lá,
há os subprodutos. Aqui não temos tempo histórico para fazer
essa análise ainda.
Caracterizarmos que tem o
lulismo de um lado e o petismo
de outro é meio precipitado. Há
um fenômeno novo mesmo,
que é a emergência de um novo
segmento social. É esse cidadão, que estava na linha de pobreza, e agora é uma classe média baixa. Se interessa pela política com um olhar diferente,
mais cidadão. Essa gente não é
massa de manobra, que vai para
onde o líder for.
FOLHA - O sr. também descartaria
uma certa vinculação de Lula com o
getulismo?
PIMENTEL - Sem dúvida. Getúlio
nunca teve um partido. Era um
líder fantástico, mas foi um ditador. Não tinha nenhuma inserção autêntica como tem Lula. Lula tem um senhor partido.
A Dilma valoriza muito isso.
FOLHA - Lula se referiu ao congresso do PT como uma verdadeira "feira
ideológica". Ele é hábil ao administrar as diferentes correntes do partido, mas isso não ocorre com Dilma.
Como ela vai lidar com o PT, que não
conhece bem, e qual será sua autoridade política numa coalizão?
PIMENTEL - Às vezes a mídia tem
uma tese pronta, de que a Dilma vai ficar refém. É o contrário. O PT é que vai ficar refém
dela. Ela tem uma autonomia
muito maior em relação ao partido do que Lula tem. Lula é o
partido. Ele construiu o PT. Ele
não tem como se autonomizar,
digamos assim. Ela tem muito
mais autonomia para ouvir o
partido, respeitá-lo, mas, se for
o caso, não pagar os pedágios
que Lula pagou e paga.
A tese de que ela vai ficar refém não subsiste à realidade. O
PMDB e os outros partidos não
são um problema de Dilma. Podemos dizer que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
ficou refém do PFL. Lula, refém do PMDB. É uma visão um
pouco pobre. A realidade política é muito complexa. Nós não
podemos prescindir de um partido como o PMDB. Nem nós
nem nenhum governo.
FOLHA - O ex-ministro Ciro Gomes
(PSB-CE) vê uma "frouxidão moral"
nesta aliança.
PIMENTEL - Tenho muito respeito por Ciro, mas essa é uma crítica fácil. Como é que nós vamos fazer a construção política
necessária para dar governabilidade a qualquer governo ao
largo deste roçado de escândalos [termo usado por Ciro]?
Porque o roçado de escândalos
significa um terço do Parlamento. Na condição de franco
atirador, tudo bem. Se quer ser
presidente da República, terá
que governar com isso. O ideal
é que Ciro não seja candidato à
Presidência. A realidade vai se
encarregar disso.
FOLHA - Qual a sua opinião sobre a
candidatura da ex-ministra Marina
Silva (PV)?
PIMENTEL - Acho uma candidatura emblemática. Vejo companheiros fazendo uma crítica pesada a ela, de que é oportunista.
Não é. Ela tem uma história de
vida que a qualifica. Ela exerce
um pouco um apostolado nesta
área. Temos que respeitar.
FOLHA - Num eventual segundo
turno ela estaria ao lado da Dilma?
PIMENTEL - Com certeza. Não
vejo hipótese de a Marina estar
num palanque do PSDB. Isso
não existe. Ela pode discordar,
fazer críticas, mas ela é nossa
companheira.
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