São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 1998

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RELIGIÃO
Criador do Moses acha errado criar comunidade para louvar a Deus
Movimento evangélico "converte" homossexuais

Chiquito Alves/Folha Imagem
João Luiz Santolin, que deixou o homossexualismo, e sua noiva Liane


da Reportagem Local

Na contramão da Comunidade Cristã Gay, o jornalista João Luiz Santolin, 32, diz ter abandonado a homossexualidade com a ajuda de Deus e das igrejas evangélicas.
Convertido à religião há 14 anos e "livre" do homossexualismo há 10, ele considera errada a iniciativa de fundar uma comunidade para louvar a Deus. "Diante de Deus é errado. Teriam de se arrepender desse pecado. Deus os ama, mas não ama o que fazem", explica ele, coordenador de entidade que "converte" homossexuais, o Movimento pela Sexualidade Sadia.
Noivo, Santolin planeja se casar ainda este ano com uma evangélica. "Sou feliz agora. Posso deitar sem aquele monte de culpa na minha cabeça. Sou um outro homem e foi Deus quem mudou a minha vida." (PATRICIA ZORZAN)

Folha - Como foi a mudança?
João Luiz Santolin -
Aconteceu quando eu estava há quatro anos na igreja. Resolvi me abrir e contei para um pastor da Igreja Missionária Evangélica Maranata, onde estou. A imagem de Deus volta a aparecer dentro de você. Comecei a sentir afetividade por mulheres.
Folha - Qual o papel da religião? Santolin - A igreja é a agência de Deus na terra. Imagina se eu não tivesse recebido o amor de um pastor? As pessoas confiaram em mim e me deram cargos na igreja.
Folha - Como o pastor ajudou?
Santolin -
Dizia que Deus me amava e que Ele podia transformar minha vida. Quando entrei na igreja, estava cheio de espíritos malignos. Às vezes os espíritos imundos escravizam os homens. Oraram por mim e fui libertado.
Folha - Os espíritos eram responsáveis pela homossexualidade?
Santolin -
Com certeza.
Folha - Como são essas orações?
Santolin -
Pedimos a Deus que abençoe a vida dessas pessoas e que o que elas pedem seja dado.
Folha - Antes, o sr. era religioso?
Santolin -
Cresci na Igreja Católica, que frequentei até os 18 anos. Mas ser homossexual me aproximou mais de Deus por causa do medo, da culpa e da esperança que eu tinha de ser transformado. Fazia promessas. Pegava um barbante e rezava várias vezes, como um terço. Bebia água-benta, comprava crucifixos. Tudo na esperança de acordar diferente.
Folha - Quando começou a frequentar a igreja evangélica?
Santolin -
Com 18 anos. Eu já praticava o homossexualismo havia algum tempo e estava me sentindo mal, queria ter família. Fui até a Assembléia de Deus e tive forças. De imediato larguei a prática.
Folha - Os homossexuais reclamam de perseguição nas igrejas. Por que no seu caso foi diferente?
Santolin -
Percebi o momento de me abrir. Há pastores que não tem tato, dizendo que é coisa do capeta. Temos recebido pessoas que não têm apoio em sua igreja. O amor de Deus deve estar no coração do pastor. O pastor que não dá amor ao homossexual e que não diz que ele tem de mudar está errado. A maioria dos homossexuais sabe que a Bíblia condena. Sabendo disso, preferem nem colocar o pé em uma igreja evangélica porque sabem que vão ter de mudar.
Folha - Como funciona o Moses?
Santolin -
Desde junho de 97, fazemos um trabalho de aconselhamento para gays. Hoje trabalho com 10, 15 pessoas. Tenho esperança de que todas mudarão. Três devem desanimar, o que é pouco.
Folha - Qual a relação do Moses com os evangélicos?
Santolin -
Temos apoio de todas as denominações evangélicas, mas não há ligação formal.
Folha - O que o sr. acha da Comunidade Cristã Gay?
Santolin -
Homossexualismo, biblicamente, é errado. Diante de Deus é errado. Eles teriam que se arrepender do pecado. Deus os ama, mas não ama o que fazem. Deus está com o coração aberto para quem se arrepende. Acho que, se eles querem continuar, Deus não os ouve. Não sei como alguém pode ser feliz desagradando a Deus. Sou feliz agora. Posso deitar sem aquele monte de culpa. Sou um outro homem e foi Deus quem mudou a minha vida.



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