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CELSO PINTO
Como controlar os Estados?
Os gastos dos Estados em dezembro foram mesmo os principais responsáveis pelo péssimo
resultado final do déficit público
em 97. O salto no mês foi de quase 1% do PIB, ou R$ 8 bilhões,
confirmou o secretário-executivo
da Fazenda, Pedro Parente.
Tudo indica que os Estados,
com os cofres reforçados com o
dinheiro da privatização, decidiram pagar o décimo terceiro em
dezembro. Pode explicar, mas
não justifica.
"Estou tão chocado com o número do déficit público de 97
quanto o resto do país", admite
Parente. Os números finais devem ser anunciados quarta-feira.
A indicação é que o déficit nominal ficará igual ao de 96, em torno de 6% do PIB (a meta era 5%)
e o superávit primário em 0,5%
do PIB (a meta era 1,5%).
O governo está esmiuçando as
contas, mas, segundo Parente, os
números não deverão mudar
muito. A surpresa veio dos Estados, cujas contas estavam praticamente equilibradas em novembro, o que, se mantido em dezembro, seria uma melhora comparado ao déficit primário de 0,6% de
96. O déficit primário próximo a
1% para os Estados arruinou o
resultado global tanto do déficit
primário quanto do nominal.
A repercussão no mercado foi
um desastre. Principalmente em
relação ao resultado primário
(receita menos despesas, excluindo os juros), porque ele é a melhor medida do esforço fiscal do
governo. As duas questões que ficam no ar são: o que se pode
esperar de 98 e como evitar a
repetição do desastre estadual?
Parente é relativamente otimista
em relação à primeira e mais
cauteloso ao responder a segunda.
Já há algum tempo, o governo
sabia que a meta do déficit primário para 97 havia naufragado
e se recusava a colocar uma meta
para 98. Ainda assim, informalmente a Fazenda imaginava que
poderia chegar a um superávit
primário de 2% do PIB neste ano.
O raciocínio era que, do pacote
fiscal de pouco mais de 2% do
PIB, sobraria cerca de 1% líquido
para o governo central (o resto
seria comido pela queda da receita em função do menor crescimento). Imaginava-se um superávit de 0,7% para as estatais e de
0,3% para os Estados e municípios.
Parente continua achando que
o governo central vai ter um bom
desempenho em 98, como indicam as arrecadações recordes
deste início de ano. Também não
vê razões para pessimismo com as
estatais. O nó está nos Estados e
municípios.
Ele diz que o governo já fez o
possível para conter os gastos dos
Estados: renegociou as dívidas,
impôs limites, obrigou a começar
a pagar o principal. Só restou
tentar aprovar uma emenda
constitucional obrigando os Estados a usar todo dinheiro da privatização para abater dívida.
Além de inviável e fora de questão, do ponto de vista político,
seu resultado seria duvidoso. Se
os Estados perdessem todo acesso
ao dinheiro da privatização, diz
ele, que estímulos teriam para
continuar vendendo suas empresas?
Uma coisa o governo não vai
fazer: adiar as novas privatizações. Parente diz que a privatização cumpre vários objetivos e o
patrimonial é apenas um deles.
Ele argumenta que o dinheiro da
privatização gasta-se apenas
uma vez e que, para a maioria
dos Estados, este bonde já passou.
Nas estimativas do Citibank, os
Estados conseguiram US$ 12,7 bilhões com privatizações em 97.
Eles ainda têm em mãos, contudo, mais US$ 23,4 bilhões para
privatizar, boa parte dos quais já
em 98. Parente lembra que, neste
ano, a maior parte das vendas
será de São Paulo e acabará abatendo dívidas.
Dá para fazer mais alguma coisa? Dá, diz ele, mas não é simples,
nem o governo quer criar a expectativa de que o desastre do
déficit de 97 levará a um novo
pacote fiscal.
A federação impõe limites à
ação de Brasília. Um exemplo:
Minas assinou um acordo de renegociação de R$ 11,8 bilhões
com o governo federal. Insistiu
que não queria pagar 20% da
dívida por meio da venda de ativos, como outros Estados. Acabou
pagando só 10%. Em contrapartida, pagará juros de 7,5% e não
6% acima da inflação (IGP).
Minas é dona de um fantástico
ativo, a empresa elétrica Cemig.
Do ponto de vista fiscal, teria sido muito melhor um pagamento
de 20%. "Mas como obrigar Minas a vender a Cemig?", indaga
Parente.
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